Não se assuste, pessoa! — As personas políticas de Gal Costa de Elis Regina traz as militâncias de duas das maiores cantoras do Brasil no período da ditadura militar. O livro, lançado neste fevereiro de 2021, pela editora Letra e Voz, é de autoria do sociólogo recifense Renato Contente.
O recorte da obra é inusitado, mas Gal e Elis são ambas figuras femininas, cantoras e ícones de uma época marcada pela repressão e pela supressão de direitos. A primeira era símbolo da contracultura, visual hippie e voz gritada. Gal Costa se tornou a porta-voz dos anseios políticos e sociais da geração tropicalista. O papel de mensageira se intensificou durante o exílio de Caetano Veloso e Gilberto Gil, em 1969.
A carreira de Gal também foi marcada pelo veto da censura à capa do disco Índia (1973). A máquina de censura havia identificado o uso do corpo como instrumento político na imagem que estampava a frente do LP. O episódio simboliza o fim da era militante de Gal, mas, no mesmo período, uma outra figura despontava entre as vozes politizadas da música nacional: Elis Regina.
Erroneamente considerada voz simpática à ditadura, Elis revela o seu lado politizado com álbuns e shows como Falso brilhante (1975), Transversal do tempo (1977) e Saudade do Brasil (1980), todos analisados pelo autor do livro. Antes disso, a intérprete havia tido sua imagem ligada aos militares depois que foi obrigada a cantar o Hino Nacional Brasileiro em uma cerimônia oficial. Outros artistas também colaboraram na ocasião, mas nenhum deles teve tanta culpa recaída sobre os ombros quanto Elis Regina, como bem lembra Renato Contente.
A obra é resultado de um trabalho de mestrado do autor na Universidade Federal de Pernambuco, em disciplina que contextualizava a MPB no contexto da ditadura instaurada no Brasil.
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