Menos de dois meses após a invasão comandada por partidários extremistas do ex-presidente Donald Trump, o Congresso dos Estados Unidos amanheceu, ontem, sob fortes medidas de segurança devido a ameaças de ataque. O reforço foi decidido após a interceptação de mensagens, pelos serviços de inteligência, indicando que havia mobilização para nova ofensiva ontem, alimentando as memórias do episódio de 6 de janeiro, que deixou cinco mortos.
De acordo com a polícia legislativa, o movimento era capitaneado por “milícias”, sem especificações. Sabe-se, porém, que integrantes do movimento conspiratório QAnon atribuem importância simbólica ao 4 de março, data em que os presidentes americanos tomavam posse até 1933. O grupo se recusa a aceitar a vitória eleitoral do democrata Joe Biden e considera que Trump deveria ser empossado ontem para um segundo mandato.
Diante do alerta, a Câmara de Representantes adiantou para a noite de quarta-feira duas votações. De qualquer forma, a presidente Nancy Pelosi concedeu sua entrevista coletiva semanal no prédio pela manhã, e o Senado realizou sua sessão.
Prorrogação
O dia acabou transcorrendo em clima de relativa normalidade. Tropas da Guarda Nacional patrulharam o Capitólio, protegido por cercas altas, cobertas em alguns trechos por arame farpado. Inicialmente, a força de 5,2 mil homens atuará até o dia 12 em Washington. O Legislativo busca prolongar a permanência da missão, inicialmente, por 60 dias. “Devemos ter os soldados da Guarda Nacional aqui pelo tempo que for necessário”, disse Pelosi.
Segundo o jornal The Washington Post, oficiais do Pentágono confirmaram que o pedido de prorrogação foi recebido pelo Departamento de Defesa e será considerado pelo secretário Lloyd Austin.
Ontem, os responsáveis pela segurança do Congresso aconselharam os parlamentares a utilizarem os estacionamentos e corredores subterrâneos para acessar prédio, solicitando extrema atenção.
A articulação para proteção do Capitólio começou depois que, no fim do mês passado, a Inteligência dos EUA constatou que um grupo de extremistas “não identificados mencionou o projeto para assumir o controle do Capitólio dos Estados Unidos”. Esses radicais continuam convencidos de que houve fraude na vitória de Biden e negam a legitimidade do presidente, que assumiu a Casa Branca em 20 de janeiro.
“Obtivemos informações de inteligência mostrando um possível complô para invadir o Capitólio por parte de uma milícia identificada, na quinta-feira, 4 de março”, postou a Polícia do Capitólio no Twitter, na quarta-feira. O FBI e o Departamento de Segurança Nacional consideraram a ameaça suficientemente grave para emitir o boletim conjunto alertando para possíveis distúrbios ontem e amanhã.
A mobilização dos extremistas se tornou mais complicada depois que as grandes redes sociais vetaram o movimento Qanon. Durante o governo Trump, o grupo promoveu a ideia de que o republicano salvaria o mundo de uma “elite composta de pedófilos satanistas”.
Investigações
Mais de 270 pessoas estão sendo investigadas por participação na invasão de janeiro, de acordo com o FBI. Acusado de “incitar à insurreição” por ter instado seus apoiadores a marchar até a sede do Congresso, Trump foi absolvido pelo Senado em 13 de fevereiro. O ex-presidente, que mora na Flórida desde que deixou Washington, não reagiu à nova ameaça.
O ataque ao Capitólio gerou uma polêmica nacional sobre a falta de preparo das forças de segurança, alvo de investigação no Congresso. Na terça-feira, o diretor do FBI, Cristopher Wray, defendeu a ação da polícia federal diante do atentado.
Em outra audiência perante os legisladores, o general William Walker, chefe da Guarda Nacional em Washington, afirmou, no dia seguinte, que o Pentágono levou 3 horas e 19 minutos para autorizar o envio de tropas solicitadas pelo chefe da Polícia do Capitólio quando se viu sobrecarregado com os manifestantes.
Na mesma audiência no Senado, Jill Sanborn, um alto funcionário do FBI encarregado de combater o terrorismo, fez um alerta sobre a movimentação de radicais no país. “Extremistas violentos inspirados em causas raciais ou étnicas, anti-governo ou anti-autoridade, assim como outros que defendem causas políticas, representam, provavelmente, as maiores ameaças de terrorismo doméstico de 2021 e, sem dúvida, de 2022”, destacou.
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