O movimento feminista e suas ondas tiveram um impacto na presença feminina nas várias áreas. Na literatura, por exemplo, elas passaram a ter domínio das próprias narrativas. Na véspera do Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, o Correio selecionou obras recém-lançadas em que as mulheres trazem os pontos de vistas em diferentes formatos.
Da Acadêmica Brasileira de Letras (ABL) e dos nomes do feminisno no Brasil, a autora Rosiska Darcy de Oliveira compartilha, em Liberdade, ensaios em que traça um paralelo entre os avanços na sociedade e na ciência com a crescente onda de conservadorismo. “O livro é um ato de resistência a esse obscurantismo, que tem como inimigo, ao longo da história, a liberdade, que ressurge, apesar dessa onda, porque é uma fênix. Tento flagrar (nos ensaios) as diferentes manifestações desse ressurgimento de liberdade”, conta.
Entre os atos apontados por Rosiska, está o movimento de mulheres nos últimos anos. “Essa mudança, em termos de massa, provoca uma iminente inquietação e, não por acaso, estamos sendo vítimas cada vez mais da violência, do feminicídio. Creio que essa violência sempre esteve presente na sociedade, mas estava encoberta”, afirma.
O livro destaca ainda o crescimento dos movimentos LGBTs e negro, assim como da contribuição da ciência em relação a quatro aspectos: nascer, amar, envelhecer e morrer. “Hoje, estamos vivendo um marco de liberdade de direito de escolha que nunca tínhamos vivido antes. A mulher pode escolher se vai ter um filho ou não. Os casais homoafetivos podem constituir uma família. São exemplos de mudanças que provocam indignação no obscurantismo, que não aceita uma opinião diferente”, completa.
A temática negra faz parte do material da americana de origem nigeriana e formada em ciências políticas Ijeoma Oluo, que começou a escrever sobre raça para os jornais The Guardian e Washington Post e para a revista New York Magazine. O livro Então você quer conversar sobre raça é uma espécie de guia indispensável sobre as questões mais importantes que pontuam as reflexões sobre o tema nos dias de hoje.
De maneira muito direta e quase didática, Ijeoma explica o que é o racismo institucional e estrutural, a interseccionalidade, a importância das ações afirmativas, o privilégio branco, o lugar de fala e a apropriação cultural, além de mergulhar em um universo que envolve desde as sutis agressões, até o ambiente escolar que acaba por fomentar o racismo. Experiências pessoais narradas em primeira pessoa ajudam a autora a introduzir os temas e a lembrar que há sempre muitas perspectivas quando se fala de racismo, mas apenas um opressor e um oprimido.
Pautas feministas
Em As 29 poetas hoje, a pesquisadora Heloisa Buarque de Holanda retoma uma ideia que resultou em coletânea importante na década de 1970 para fazer um recorte da poesia feminista e ativista do século 21. “Essa poesia me chamou muito a atenção, porque faz parte de um ativismo, elas são atuantes na internet, nos saraus, em toda parte, é a primeira vez que vejo um movimento social lançar mão sistematicamente da cultura”, explica.
Para Heloisa, a poesia virou um recurso político muito diferente da poesia engajada, que marcou as décadas de 1960 e 1970. “Elas vão para a rua, fazem os livros, aparecem, é uma declaração, um statement mesmo. E elas não são ingenuamente engajadas, como era um pouco o caso no meu tempo. A causa era política, era uma poesia política. Aqui não, é uma atitude política, e, ao mesmo tempo, ela introduz um universo feminino que nunca apareceu na poesia”, garante.
É a partir da própria história que a ativista, historiadora e escritora Rebecca Solnit escreve Recordações da minha inexistência: Memórias. Na obra, ela aborda as percepções de violência de ser uma mulher no mundo. A narrativa parte do momento em que foi morar sozinha em um bairro negro em São Francisco (EUA) até quando escreveu Os homens explicam tudo para mim, publicação em que narra situações de mansplaining e manterrupting (ambas interrupções masculinas para explicar algo no lugar da mulher).
O objetivo é oferecer uma reflexão sobre as mudanças necessárias na sociedade. “Creio que esse processo está em andamento, e que o simples fato de alguém lhe dizer que você merece estar segura, ser livre e ser igual, pode fortalecê-la. Se sou feminista, e tenho esperança, é porque sei quão profundamente os direitos e o status da mulher mudaram, de muitas maneiras, em mulheres lugares, desde o meu nascimento”, afirma no posfácio do livro.
“Será que existe a masculinidade não tóxica no mundo em que a gente vive?”, questiona a jornalista brasiliense Maíra Valério, que acaba de lançar o livro Homens que nunca conheci, pela editora Patuá. A antologia reúne 26 contos, em diferentes tamanhos e formatos, que retratam nuances e sutilezas da masculinidade tóxica (termo que se refere a características estereotipadas atribuídas aos homens) do dia a dia, que às vezes passam despercebidas.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
Liberdade
De Rosiska Darcy de Oliveira. Editora Rocco, 224 páginas. R$ 54,90.
Então você quer conversar sobre raça
De Ijeoma Oluo. Tradução: Nina Rizzi. Best Seller, 312 páginas. R$ 49,90.
As 29 poetas hoje
De Heloisa Buarque de Holanda. Companhia das Letras, 255 páginas. R$ 69,90.
Recordações da minha inexistência: Memórias
De Rebecca Solnit. Tradução: Isa Mara Lando. Companhia das Letras, 264 páginas.
R$ 64,90 e R$ 39,90 (e-book).
Homens que nunca conheci
De Maíra Valério. Editora Patuá, 120 páginas. R$ 40.
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