Num momento em que Moscou vem implementando uma gama de ambiciosos projetos sideral, a agência espacial russa, Roskosmos, anunciou, ontem, a assinatura de um memorando com a China para construir conjuntamente uma estação “na superfície ou na órbita” da Lua. Uma iniciativa que poderá contar ainda com outras parcerias. Por meio de um comunicado, a Roskosmos destacou que a Estação Científica Lunar Internacional, desenvolvida com a Administração Espacial Chinesa (CNSA), estará aberta a “todos os países interessados e parceiros internacionais”.
Não foram adiantadas especificidades do programa. A nota não forneceu nenhum calendário ou os valores investidos na iniciativa. Segundo a Roskosmos, Rússia e China vão estabelecerão juntas um roteiro e terão uma “estreita colaboração” para deslanchar o projeto.
“A Estação Científica Lunar Internacional consistirá em um conjunto de ferramentas experimentais de pesquisa criada na superfície ou na órbita da Lua e desenvolvida para realizar trabalhos multidisciplinares”, diz o comunicado. Moscou vem mantendo parcerias com outros países e também com empresas privadas.
A agência russa acrescentou, no texto, que o empreendimento também permitirá a avaliação de tecnologias que permitam operações não tripuladas, tendo em vista, futuramente, a presença humana na Lua. Por sua vez, a CNSA ressaltou que terá como objetivo “promover a exploração pacífica e a utilização do espaço por toda a humanidade”.
Dificuldades
Apesar de se beneficiar de uma vasta experiência e de equipamentos projetados de forma confiável que datam do período soviético, o setor espacial russo sofre de dificuldades para inovar, bem como de financiamento e corrupção.
Os sucessos de Moscou, porém, ainda são uma fonte de grande orgulho para os russos, em particular em torno da figura de Yuri Gagarin, o primeiro homem no espaço, cuja famosa missão celebrará seu 60º aniversário em abril.
A parceria com os chineses nesse novo projeto lunar, se concretizado, poderá recolocar Moscou na corrida espacial, ao lado de um país que não esconde suas ambições. Sobretudo no momento em que os Estados Unidos planejam construir o Lunar Gateway (LOP-G), a futura mini-estação que será montada em órbita lunar.
“É realmente importante e uma contrapartida interessante para o projeto LOP-G liderado pelos Estados Unidos”, comentou o analista chinês independente Chen Lan, da GoTaikonauts.com à agência de notícias France-Presse. De acordo com ele, seria o “maior projeto de cooperação internacional” da China no espaço.
No mês passado, Pequim, que investe para se tornar uma potência espacial, colocou sua sonda Tianwen-1 (a primeira do país) em órbita ao redor de Marte, sete meses após o lançamento. Dois meses antes, a China trouxe amostras da Lua, durante uma primeira missão do gênero em mais de quatro décadas.
Já os Estados Unidos conseguiram pousar, com sucesso, o quinto veículo em Marte no fim do mês passado. Ainda no governo de Donald Trump, Washington definiu o retorno dos americanos à Lua em 2024, como parte do programa Artemis. O democrata Joe Biden, que tomou posse em 20 de janeiro passado, ainda não nomeou um administrador permanente para a Nasa, nem forneceu uma visão precisa de sua política espacial.
Muitos programas que têm como objetivo a Lua são considerados também como bancos de prova para Marte, como ocorre com o Artemis. No ano passado, a Rússia perdeu seu monopólio dos voos tripulados para a Estação Espacial Internacional após a primeira missão do tipo realizada pela americana Space X, que planeja um voo para a Lua a partir de 2023.
» Exercícios militares
Em mais um sinal da crescente competição entre potências mundiais, a França realiza, nesta semana, seus primeiros exercícios militares no espaço, com o objetivo de testar sua capacidade de defender seus satélites. Segundo Michel Friedling, chefe do recém-criado Comando Espacial Francês, as manobras serão um “teste de estresse” dos sistemas do país. “Uma inovação para o Exército francês e até mesmo para a Europa”, classificou. Batizado de AsterX, em homenagem ao primeiro satélite francês, de 1965, os exercícios simulam o rastreamento de um objeto espacial potencialmente perigoso, bem como uma ameaça a um satélite. Estados Unidos e Alemanha também participam.
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Mistérios de Marte
Cientistas começam a desvendar os mistérios sobre a origem de uma curiosa nuvem de 1,8 mil quilômetros de comprimento em Marte. Em meses mais quentes, elas aparecem até diariamente sobre um dos maiores vulcões do planeta vermelho.
Fotografado, inicialmente. por uma sonda russa nos anos 1970, esse fenômeno era considerado, até agora, de difícil observação. No entanto, uma equipe de especialistas encontrou uma forma de vigiar a nuvem, localizada em 2018 pela nave europeia Mars Express.
Em um comunicado divulgado pela Agência Espacial Europeia (ESA), Jorge Hernández Bernal, da Universidade do País Basco de Bilbao, na Espanha, explicou que isso poderá ser feito com o auxílio de uma câmara de vigilância chamada VMC, usada na nave.
Com uma resolução equivalente à de uma simples webcam, o equipamento foi usado brevemente, em 2003, pouco depois do lançamento da Mars Express. Depois, teve um uso esporádico para operações educativas.
Segundo Bernal, ao contrário dos instrumentos científicos muito mais sofisticados da sonda, a câmera VMC tem “um grande campo de visão (...) e está bem adaptada ao acompanhamento da evolução do fenômeno”.
A observação revelou que, durante a primavera e o verão no hemisfério sul marciano, a nuvem se forma a cada amanhecer sobre o flanco do vulcão Arsia Mons. Composta por vapor de água e cristais de gelo, a nuvem sobe com os primeiros raios até cerca de 40 km de altitude, muito acima dos 17 km do antigo vulcão.
Os ventos a jogam para o oeste a uma velocidade de 600 km/h, até alcançar um comprimento de 1.800 km. De acordo com os resultados do estudo, publicados no Journal of Geophysical Research, o fenômeno dura até duas horas e meia, antes de se dispersar.