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Pelé de peito aberto: filme mostra trajetória do Rei com a ditadura como pano de fundo

Sempre cobrado pelo não posicionamento contra a ditadura militar, na época, Pelé explica seu lado da questão no documentário da Netflix

O formato documental tem como característica aprofundar histórias. É exatamente isso que acontece no filme Pelé, lançado na Netflix em fevereiro, com direção de David Tryhorn e Ben Nicholas e produção de Kevin Macdonald, que traça a figura mítica de Edson Arantes do Nascimento. Essa narrativa é montada desde a primeira cena, quando Pelé caminha lentamente com ajuda de um andador até uma cadeira no meio de uma sala e, depois, num outro momento, quando se reúne com ex-companheiros de Santos, se movimentando numa cadeira de rodas.

Em quase duas horas, o longa-metragem apresenta momentos marcantes da trajetória do Rei do Futebol, como as dificuldades nas Copas de 1962 e 1966, que sucederam ao sucesso de 1958, e a pressão da ditadura brasileira, em 1970, para que ele jogasse mais um Mundial, o último da carreira. “Sempre tinha uma mensagem que era para voltar. Eu não queria jogar a Copa de 1970. Não queria passar por tudo que passei na Inglaterra, fiquei em dúvida, um pouco de preocupação, de saudade. Só queria ser lembrado. Se eu falar aqui que voltei a jogar em 1970 por causa do povo brasileiro, eu estaria mentido. Era um desafio meu nessa Copa do Mundo”, revela no filme, comprovando que houve pedidos para um retorno num momento em que o general Emílio Garrastazu Médici queria alegrar o povo, mas que acatou por uma decisão pessoal.

A ditadura, inclusive, é um assunto que ganha tempo de tela na história. Sempre cobrado pelo não posicionamento contra, na época, Pelé explica seu lado da questão no filme. “Acho que não teve condições, não deu para fazer outra coisa. Sou um cidadão brasileiro. Quero o melhor para o meu povo. (Mas) Eu não era super-homem, não era milagroso. Eu era uma pessoa normal, que Deus me deu a felicidade e o dom de jogar futebol. Mas tenho certeza que ajudei muito mais o Brasil com o meu futebol, com a minha maneira de divertir, do que muitos políticos que ganham e trabalham para fazer isso”, justifica em trecho da produção, em que demonstra ter sentido medo, naquela época, a uma eventual reação sua.

Essa ajuda ao Brasil mencionada por Pelé é o ponto de partida do documentário. O roteiro de Kevin Macdonald mostra como o menino de Três Corações (MG), filho do jogador João Ramos do Nascimento e de Celeste Arantes, colocou as terras tupiniquins no radar internacional ao se destacar muito novo no Santos Futebol Clube e garantir a presença, aos 17 anos, na primeira Copa do Mundo vencida pelo Brasil, em 1958. Se até hoje o Brasil é sinônimo de futebol é porque, lá atrás, Pelé fez história no esporte e catapultou o país.

A carreira

No filme, o jogador lembra que o país era desconhecido na Europa. Isso se comprova não apenas pelas falas dos personagens do documentário e das notícias da época, mas também pelos depoimentos de jornalistas, como Juca Kfouri, Roberto Muylaert e Paulo César Vasconcelos. Além do trio, o longa conta com outras personalidades falando sobre Pelé, como a política Benedita da Silva, o cantor Gilberto Gil, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o economista e político Antônio Delfim Netto, além de colegas de campo como Zagallo e Paulo Cézar Lima.

Polêmicas da vida pessoal de Pelé ficam de fora do filme. A proposta do longa é narrar a vida futebolística de Edson Arantes do Nascimento por uma linha do tempo, de 1940 até um pouco depois de 1970, quando o jogador aposentou as chuteiras. O longa é um retrato histórico para as novas gerações e um afago para os admiradores do futebol do jogador, muito bem ilustrado pelas cenas de jogadas marcantes raramente vistas de novo.

Nos passos de Pelé

Outro menino da Vila tem a história contada em um documentário recém-lançado é o hoje ídolo do Flamengo Gabriel Barbosa, o Gabigol, ou simplesmente Gabi, como adotou na mais recente temporada nos campos. No último domingo, dias depois do Flamengo conquistar o oitavo Campeonato Brasileiro, o Globoplay lançou Predestinado, série em quatro episódios com direção de Gustavo Gomes e Marcelo Pizzi, que narra a trajetória de ascensão do atleta. “Contamos a história de um ídolo polêmico, carismático, que conseguiu transcender o futebol e conquistar popularidade entre crianças e adultos”, explica Gabriel Poli, diretor de programas e conteúdo digital do Esporte da Globo em material de divulgação. Participam do material o próprio personagem título, familiares, além de nomes como Muricy Ramalho, Jorge Jesus e Dorival Júnior.