PANDEMIA

Com saudades do público, músicos vivem a expectativa de voltar aos palcos

Artistas que se apresentavam nos bares da cidade, enfrentam as incertezas da pandemia com muito esforço e solidariedade

Irlam Rocha Lima
postado em 06/04/2021 06:00
 (crédito: Renata Samarco/Divulgação)
(crédito: Renata Samarco/Divulgação)

Representantes de um dos segmentos de maior destaque da cultura em Brasília e afetados pela paralisação das atividades artísticas, em razão da pandemia, os músicos convivem com um paradoxo. Embora necessitem urgentemente voltar a fazer shows, principal fonte de renda, sentem-se desencorajados, por temerem o contágio da covid-19, proporcionado pela aglomeração. Boa parte deles convive com sérios problemas financeiros.

Embora busquem alternativas para driblar a crise, o que obtêm de renda é insuficiente para saldar compromissos do dia a dia. Muitos fazem lives, trabalham em gravações e ministram aulas, obviamente de forma remota; enquanto outros têm recebido auxílio de familiares para se manter. Saudosos dos aplausos do público, todos vivem a expectativa do retorno ao palco, mas, antes disso, precisam ser vacinados.

Myrian Greco, cantora — Com carreira iniciada em 1980, Myrian Greco guarda boas recordações do bar Amigos, na 105 Norte (onde hoje existe o restaurante vegetariano Tribo). Singular (315 Norte), Bar Brahma (201 Sul) são alguns dos lugares onde já soltou a voz. Antes da covid-19, cumpria temporada no Coco Bambu (Lago Sul e ParkShopping). Mas foi no Feitiço Mineiro, onde mais se apresentou. “Lá lancei o CD Canto de Myrian, em 2018; e realizei o projeto Música Solidária. Na pandemia tenho feito gravações domésticas sob encomenda, o que gera algum recurso. Espero que não demore chegar a minha vez de tomar a vacina, para ficar um pouco mais tranquila”, destaca.

Daniel Jr., cantor e compositor — Carioca radicado em Brasília há quatro décadas, Daniel Jr. é um dos músicos de maior destaque do circuito noturno da capital. O Chorão, que existiu na 302 Norte, foi o primeiro lugar onde tocou. Passou também pelo Caras & Coroas (306 Norte), Mistura Fina e Bar Academia, que marcaram época (na 209 Norte); e foi sócio do Otello, na 308 Norte. “Durante a quarentena tenho composto com Eugênio Malta e Cássia Portugal. Também com a Cássia fiz duas lives. Está difícil para os músicos com este paradeiro. Menos mau, que eu consegui a aposentadoria, e isso me permite ter uma pequena renda”, diz.

Júlia Carvalho, zabumbeira, cantora e compositora — Musicista há 15 anos, Júlia Carvalho iniciou a carreira como integrante do grupo Zé do Pife e as Juvelinas. Ela conta que se apresentou em diversos locais da capital, do Centro Cultural Banco do Brasil ao Thainá Bar, no Conic, e também nos extintos Balaio Café (201 Norte) e Amsterdã (211 Norte). “Faço parte também do grupo de forró Chinelo de Couro, do Talo de Mamona e da banda Ska Niemeyer. A pandemia tem sido muito prejudicial para nosso trabalho, e nesse período participei de algumas gravações no formato on-line, duas delas com Pablo Ravi, do Pé de Cerrado; Marcus Moraes e Vavá Afiouni, do Passo Largo. Balão, uma música de minha autoria que foi gravada pelo coletivo Seu Estrelo”, conta.

Agilson Alcântara, violonista, guitarrista e arranjador — Iniciou a carreira no Cult Bar — Sociedade Alternativa, no Gama, em 1993, mas foi depois de estudar na Escola de Música de Brasília, onde teve Paulo André Tavares e Jaime Ernest Dias como mestres, que Agilson Alcântara viu as oportunidades se ampliarem. “Os dois me levaram para a Orquestra de Violões de Brasília e, a partir dali, as portas e os palcos das casas noturnas da capital se abriram para mim”, lembra o violonista. O local onde ele mais se apresentou foi o Feitiço Mineiro, no qual cumpriu longa temporada com o musical Três no Brega, ao lado de Nilson Lima, André 14 Voltas e Madelon Cabral, e também de Rogério Midlej e Salomão di Pádua, que participaram do projeto inicialmente. “Enquanto o coronavírus não permite o retorno aos palcos, tenho me virado, participando de lives e ministrando aulas on-line de violão. Que apareçam mais os alunos”, enfatiza.

Nilson Lima, cantor e compositor — Cearense, radicado em Brasília desde 1994, Nilson Lima foi um dos criadores do vitorioso projeto Três no Brega, que levou muita gente ao Feitiço Mineiro para assistir às apresentações. “Costumo, em meus shows, interpretar clássicos da MPB e composições autorais, registradas em três discos. O mais recente é o No mesmo barco, que lancei em 2018. Como tenho uma outra ocupação, paralela ao trabalho como cantor, estou conseguindo ter uma certa tranquilidade durante a pandemia.”

Alessandra Terribli, cantora — Paulistana, Alessandra Terriblii tornou-se “brasiliense” em 2013. Ela se apresentou no Feitiço Mineiro, onde cumpriu longa temporada, às quartas-feiras. Galeria Mundo Vivo (413 Norte), Clube do Choro e Cervejaria Criolina foram alguns dos lugares onde apresentou-se até a interrupção das atividades artísticas determinada pela pandemia. Com dois EPs lançados — o mais recente é o Outras manhãs, de 2019 — a cantora já fez algumas lives neste período. “Ainda não me sinto segura para retomar meu ofício, diante do estágio atual da pandemia, com um índice de contaminação muito alto. Mas sinto falta do contato com o público nos shows presenciais”, ressalta.

José Cabrera, pianista, compositor e arranjador — Um dos músicos mais requisitados de Brasília, o uruguaio José Cabrera foi autor dos arranjos das músicas com as quais a cantora Lúcia de Maria concorreu e se destacou no The Voice Brasil. Ele tem dois discos e um DVD lançados e possui um home studio, que ocupa com frequência. “Para me manter como músico, nessa indesejável quarentena, tenho feito lives e gravações e criado arranjos, a pedido de cantores de outras cidades brasileiras, do Chile, do Uruguai e dos Estados Unidos. Nada, porém, substitui o contato com outros músicos e os aplausos do público”, observa, em tom de saudade.

Betão Nascimento, baixista — Em 30 anos de carreira, Betão Nascimento acompanhou incontáveis cantores brasilienses, entre eles Renato Matos, Jairo Mozart e Elisa Alves e grupos como Afrodisia, Sopro e Cordas e Tijolada Reggae. Nos últimos tempos, vinha se apresentando no bar Caixa D’Água, em Taguatinga. “Com o advento da pandemia, a situação ficou difícil para mim, assim como para outros músicos que têm nos shows o seu ganha-pão. Participei de algumas lives e tenho buscado outras alternativas dentro da profissão. Para me manter, conto com o apoio do meu filho e da aposentadoria da minha mulher”, revela, sem esconder a dura realidade vivida pelos músicos atualmente.

Sandra Borges, cantora e violonista — Em mais de 40 anos de carreira, Sandra Borges tem presença marcante no circuito das casas noturnas brasilienses, em duo com a irmã Mônica e, principalmente, como vocalista e violonista do grupo de samba Toque de Salto. Com um disco lançado e incontáveis shows em bares, restaurantes, Clube do Choro e outros espaços da cidade, ela diz que sente muita saudade dos palcos. “Nesta terrível pandemia, não me distanciei da música. Com o Trio Outono, gravamos alguns vídeos, disponibilizados na internet. Aposentada, como professora de musicalização infantil, tenho conseguido me manter com dignidade durante essa longa quarentena”, acentua.

Régis Torres, violonista e cantor — Músico que iniciou a trajetória artística em meio ao boom do BSB Rock, na década de 1980, Régis Torres integrou a banda Olhos da Noite, ao lado de Márcio Faraco, Jovani Faraco e Didi Martinez. Após a dissolução do grupo, partiu para carreira solo, como cantor e violonista. Já há algum tempo tem trabalhado ao lado da cantora Myrian Greco. “Nunca faltou trabalho para nós, mas, com o surgimento da pandemia, as coisas ficaram difíceis, Precisei buscar o auxílio emergencial do governo e o apoio do meu pai, para segurar a onda”,expõe.

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