Tudo era para sempre...

Em um grande acervo e no livro Pós-New-Brasília, dos fotógrafos Nick Elmoor e Ricardo Junqueira, o Bolinha, registra a trajetória do rock da cidade nos anos 1980

Irlam Rocha Lima
postado em 25/04/2021 17:20 / atualizado em 26/04/2021 09:26
 (crédito: Pós-New/Reprodução)
(crédito: Pós-New/Reprodução)

O Rock Brasília, movimento que ocorreu na década de 1980, é tido como o momento de maior relevância do segmento da música nas seis décadas de existência da capital federal. Até pouco tempo, eram raros os registros fotográficos disponíveis daquele período, quando o Brasil tomou conhecimento de bandas como Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude, entre outras. A ausência de imagens trouxe dificuldade para quem buscou levar ao público o relato de acontecimentos artísticos da época.

Isso agora se torna possível, com o lançamento do Pós-New-Brasília, livro dos fotógrafos Nick Elmoor e Ricardo Junqueira, o Bolinha. No formato 28x28 cm, a publicação com design gráfico da Eye Designe, chega para contar a história de uma cidade que, em plena ditadura militar, viveu uma efervescência cultural. A obra, segundo os autores, pode ser considerada “uma biografia de um tempo que não foi perdido, quando todo mundo junto, com o espírito punk do ‘faça você mesmo’ foi vivido em plenitude”.

A ideia de reunir num livro fotos que retratam eventos ligados ao rock brasiliense, mas também ao teatro, cinema, dança e literatura na cidade, entre 1981 e 1989, vem de algum tempo — o acervo é grande com imagens como a do vocalista Detrito Federal, Paulo César Cascão. O projeto surgiu depois de uma conversa que Elmoor e Junqueira tiveram com o jornalista Carlos Marcelo, em 2009. O plano, porém, foi sendo adiado, em parte por conta das frequentes mudanças dos fotógrafos para diferentes localidades — inclusive fora do Brasil.

No ano passado, finalmente, o projeto foi retomado e esses dois caçadores de imagens decidiram reunir o farto material, mais de 300 fotos, e, finalmente, produzir o Pós-New-Brasília, que ficou pronto este mês. Depois de um crowdfunding bem-sucedido, pela plataforma de financiamento coletivo Catarse, entre novembro e dezembro últimos, o livro, com 200 páginas, foi impresso e está sendo lançado como um presente de aniversário na celebração dos 61 anos da capital.

 

Entrevista// Nick Elmoor


Como a fotografia entrou em sua vida?
Na pré-adolescência, fotografar era um hobby que eu cultivava. Como estudante de jornalismo da UnB, vi na fotografia uma possibilidade de trabalho. À época tocava guitarra, como muitos jovens brasilienses nos anos 1980.


Tem lembrança de quando começou a fotografar os personagens do que viriam a ser estrelas do Rock Brasília?
Foi depois de me aproximar da turma do rock, que costumava encontrar em locais como a Adega (102/103 Sul), Brasília Rádio Center (W3 Norte), onde havia estúdios em que os músicos costumavam ensaiar e gravar demos; e nos bares Broadway e Radicaos, que existiam na Asa Norte; e também o Gilbertinho, na QI 11 do Lago Sul.


Foram nesses locais que conheceu o Ricardo Junqueira?
O Bolinha estudava publicidade no Ceub e também frequentava os mesmos lugares onde a turma do rock se encontrava, e acabamos nos conhecendo. Quando começamos a fotografar os ensaios, os shows, nos dividíamos. Como era amigo do André X, eu fotografava mais apresentações da Plebe Rude. Fiz vários shows, desde praticamente o início da carreira da banda. Eu me lembro de apresentações da Plebe em Taguatinga, na AABB e na Zoom, por exemplo.


Quais foram as fotos da Plebe, feitas por você, que considera mais importantes?
Acredito que tenha sido a da gravação do segundo disco na EMI; e dos shows no Circo Voador, no Rio de Janeiro; e o que a Plebe abriu um concerto da inglesa Siouxsie and Banshees, em São Paulo.


O Bolinha proferia fotografar que banda?
Como era ligado à Legião Urbana, o Bolinha fotografou a banda em muitos shows e situações. Ele estava no palco do Estádio Mané Garrincha, no histórico show de 1986; e fez a capa do terceiro disco. Como o Bolinha guarda até hoje tristeza com o que ocorreu naquela noite, optamos por incluir no livro apenas uma foto do público.


Quando vocês criaram a agência de fotojornalismo Pós-New?
Foi logo depois do lançamento do primeiro LP da Legião Urbana. Alugamos uma sala no Brasília Rádio Center, onde instalamos a Pós-New e, a partir dali, passamos a ser credenciados para a cobertura de shows e a manter contatos com as gravadoras. Além disso, cobríamos os shows, cobríamos também eventos de teatro, cinema e dança.


A adesão ao financiamento coletivo partiu mais de quem?
Principalmente de pessoas que à época eram ligadas ao movimento Rock Brasília e às bandas. Recebemos apoio por meio de postagens em redes sociais de Dinho Ouro Preto, Maria Paula e da jornalista Ana Paula Padrão. A Plebe Rude gravou um vídeo. Foram apoios muito importantes.

 

 

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Pós-New-Brasília

 (crédito: Pós-New/Reprodução)
crédito: Pós-New/Reprodução

Livro dos fotógrafos Nick Elmoor e Ricardo Junqueira, com 200 páginas, à venda no Mercado Cobogó (704/705 Norte). Preço R$ 250.

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