Reconectar corpos, personagens, terras e cidades desponta como um dos pilares da mostra Cinema Brasileiro: Anos 2010, 10 Olhares, que fica acessível, on-line e gratuito, tanto no site do Belas Artes à la Carte quanto em www.10olhares.com, até sexta-feira (30/04). Ao todo, há disponibilidade de 43 longas e 28 curtas-metragens nacionais, selecionados para a terceira parte de um projeto iniciado em 2001, sob a curadoria de Eduardo Valente, um dos ex-diretores artísticos do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Nome vital para a inscrição da arte da Ceilândia numa escala internacional, o diretor Adirley Queirós (Branco sai, preto fica) tem o longa A cidade é uma só? (2011) integrado à programação da
mostra 10 Olhares. Num enredo que denuncia expropriação e reconquista de cidadania e vivência autônoma, o filme mostra como crianças de escolas públicas foram mobilizadas para atuarem
em um canto coral setentista que trouxe a resultou no apartamento entre Ceilândia e o resto do DF. Há 10 anos, o longa foi vencedor da Mostra de Tiradentes. Outro nome de peso para o cinema local incluído na mostra é o de Dácia Ibiapina que apresentará Ressurgentes: um filme de ação direta. O registro da tomada das ruas por representativos brasileiros, num movimento de 2013, nos quais eclodiram manifestações está no centro da fita. Organizar um acervo alheio, de preservação fragilizada foi uma das metas da diretora, ex-professora da UnB dedicada ao cultivo da memória comunitária. No filme, há ampla atuação de grupos sociais como o Movimento Passe Livre.
Na seleção de uma das pesquisadoras que prestou curadoria para a mostra, Carol Almeida, está Esse amor que nos consome (de Allan Ribeiro e Douglas Soares). O filme presentado na seleção do Festival de Brasília, há oito anos, descreve a relação entre parceiros da Companhia Rubens Barbot, o primeiro grupo afro-brasileiro de dança contemporânea, que desveste caráter meramente folclórico da dança negra. Muitos nomes prestigiados em diversificadas edições do resplandescente festival que atribui prêmios Candango compõem a mostra, entre os quais Otto Guerra, Julio Bressane e Paula Gaitán, todos com filmes selecionados por Leonardo Bonfim, pesquisador audiovisual dedicado à metamorfoses narrativas e artísticas em filmes nacionais.
Opressão revista
Já selecionado por Cleber Eduardo, e tangenciando o limite tênue entre ficção e documental, o longa Baronesa (de Juliana Antunes) mostra mulheres impedidas de plena realização, dada a atuação de traficantes interpostos à completa felicidade delas. Janaína Oliveira, outra curadora da mostra, coloca em plano central vários vencedores de troféus Candango, com Ela volta na quinta, Café com canela e Arábia, esse último dedicado à "grandeza das histórias comuns", como reflete Affonso Uchôa (codiretor, ao lado de João Dumans), que explora a fusão entre a classe operária e a magia do contato com a literatura.
A exploração da força laboral também se destaca no segmento Momentos Fabulares da mostra Nele, há lugar para o diretor pernambucano Marcelo Pedroso, à frente de Brasil S/A, uma sinfonia visual inciada por trabalhadores dedicados ao corte de cana. Ainda do Nordeste, na programação, brotam Inferninho (de Guto Parente e Pedro Diógenes) e Sol alegria (feito por Tavinho e Mariah Teixeira). Tratando de gênero e sexualidade, o crítico Ely Vieira Jr., trouxe a seleção de Corpo elétrico (Marcelo Caetano), Praia do Futuro (Karim Aïnouz) e As boas maneiras (Juliana Rojas e Marco Dutra).
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