Legado do interior

O Dia do Sertanejo exalta um dos gêneros musicais mais populares do Brasil e a história de transforação do ritmo ao longo dos anos

» Fernanda Gouveia*
postado em 30/04/2021 23:57 / atualizado em 30/04/2021 23:57
 (crédito: Be Change/Divulgação)
(crédito: Be Change/Divulgação)

O Dia do Sertanejo, comemorado hoje, homenageia a tradição da música sertaneja e as características desse gênero que alcançou as grandes cidades. O sertanejo tem origem na moda de viola, típica do Brasil rural por volta da década de 1920, quando a música era genuinamente caipira e levava conhecimento ao público sobre as histórias do sertão. Um dos expoentes da moda de viola era Tonico & Tinoco, considerada uma das duplas mais importantes da história da música brasileira.
A partir de então, com o surgimento de novas influências e da urbanização do país, os músicos sertanejos tiveram que se adaptar para priorizar as preferências do público apaixonado pelo ritmo. Foi quando a dupla Milionário & José Rico incorporou elementos da tradição mexicana aos violinos e trompetes nas canções. Assim, as duplas sertanejas começaram a ganhar destaque pelo sucesso das emissoras de rádio na década de 1980 e, depois, com as emissoras de tevê, que contribuíram para que o sertanejo se tornasse parte do gosto popular dos brasileiros.
O surgimento do sertanejo universitário incentivou os mais jovens a se aproximarem do gênero, por meio de batidas mais fortes e um ritmo animado. Artistas como César Menotti & Fabiano, João Bosco & Vinícius, Jorge & Mateus, Michel Teló e Luan Santana ganharam destaque não só no Brasil, como em vários outros países. O estilo representa um marco para o sertanejo se firmar como um gênero musical que conquista diferentes públicos. Além disso, as transformações da música sertaneja são constantes e, a cada ano, o sertanejo apresenta uma novidade de mistura de ritmos, como o funk, a eletrônica, o bolero, entre outros.
O sertanejo faz parte do gosto popular brasiliense e Brasília ainda hoje é palco para diversos artistas construírem as carreiras. O Correio entrevistou personalidades sertanejas que, de alguma forma, trazem a capital na trajetória.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira


Belluco
O cantor Belluco, que antes fazia parte da dupla Bonni & Belluco, está há dois anos e meio na carreira solo. O artista relata que mesmo admirando diversos músicos sertanejos atuais, ele se encontra realmente no estilo modão. “Eu sou um cara que canta música romântica, não me adaptei muito a essa modernidade da música com letras de duplo sentido. Então, me mantive nesse segmento, dando continuidade ao que Zezé Di Camargo & Luciano e Milionário & Zé Rico fizeram”, explica Belluco. O brasiliense destaca que, com a pandemia, ele decidiu fazer lives semanalmente para divulgar o seu trabalho e acabou conquistando muitos seguidores nacionalmente. Chamadas de Bloco admiração, as lives homenageiam algum artista da música sertaneja que Belluco admira. “As lives semanais me colocaram em ascensão no Brasil. Comecei em março de 2020 e acabou chamando atenção de artistas que eu homenageava, assim os seguidores deles também passaram a me reconhecer”. Atualmente, Belluco continua com as lives semanais todas as terças-feiras em seu canal de YouTube, às 20h, e está preparando um novo DVD chamado Modão na veia para apresentar o seu lado compositor ao novo público.


Alisson & Ariel
Os irmãos Alisson e Ariel, nascidos em Brasília, começaram a carreira com 12 e 14 anos, respectivamente. Como o pai tinha um bar com música ao vivo, em Ceilândia, e trabalhava com outros músicos sertanejos, a dupla teve contato com o gênero musical desde cedo. “A gente fazia um mix de repertório, misturava modão com músicas da atualidade e as pessoas começaram a gostar da gente, porque, na época, não se fazia muito essa mistura”, explica Ariel. A dupla acredita na diversidade sonora do sertanejo se apoia cada vez mais em plataformas digitais, principalmente com a pandemia. “Começamos a nossa carreira em 2007, quando a dupla Jorge & Mateus começava a estourar, então ainda havia muita ligação com o sertanejo raiz. Hoje em dia, o sertanejo capta um pouco de todos os estilos, como os da Bahia, o piseiro do Nordeste e tem até o ‘trapnejo’ agora, que representa a mistura do trap com o sertanejo”, conta Alisson. No momento, os artistas estão em Goiânia preparando o primeiro DVD da carreira com o produtor Blener Maycon, que trabalhou com nomes como Cristiano Araújo e Nayara Azevedo.


Juan Marcus & Vinicius
A dupla nasceu em São Sebastião e ganhou destaque com composições gravadas por artistas como Simone & Simaria, Marília Mendonça e Zé Neto & Cristiano. Desde 2015, Juan Marcus e Vinicius moram em Goiânia, com o objetivo de alavancar a carreira nacionalmente e veem a capital do país como uma influência de mistura de ritmos musicais. “Em Brasília, é muito misturado, muito mais do que em outros lugares. Acho que isso é por ser uma cidade muito nova, ter gente de todo lugar. Isso trouxe muitos gêneros musicais no nosso repertório”, relata Vinicius. A dupla lançou o álbum Volta marcada ano passado e se destacou com a canção de mesmo título, que contou com a participação de Lauana Prado. Os cantores pretendem lançar um novo EP este mês.


Cleber & Cauan
Cleber e Cauan se conheceram quando eram crianças na cidade onde nasceram, Ceres, no interior de Goiás. De 2009 a 2012 os artistas marcaram presença em Brasília e cantaram nas noites e em grandes festas brasilienses. “Esses shows nos deram uma base muito grande para sair e trabalhar nacionalmente, além de ter nos dado um grande número de fãs, que temos até hoje. Isso aumenta mais a nossa ligação com Brasília”, conta Cleber. Além disso, com 11 anos de carreira, os artistas avaliam que o cenário da música sertaneja mudou muito ao longo dos anos. “O sertanejo está sempre se reinventando, de lá para cá mudou muita coisa e estamos sempre buscando não ficar para trás. Acho que estamos sempre buscando inovação”, destaca Cauan. A dupla anuncia que em breve lançará o novo álbum Cleber & Cauan no Rio Quente.


Larissa Nogueira
Uma das representantes das artistas de sertanejo em Brasília, Larissa Nogueira nasceu na capital e toca violão desde os 5 anos. Apaixonada por música, a cantora, que tem como principais referências artistas como Zezé Di Camargo & Luciano e Marília Mendonça, acredita que o sertanejo mudou muito, mas não perdeu as raízes. “No início da minha carreira, ainda era a época do ‘modão raiz’, com músicas mais românticas e até histórias contadas no ritmo sertanejo.Hoje, após a entrada do sertanejo universitário, o ritmo e as letras mudaram bastante, mas o mais interessante é que as características antigas ainda permanecem. Então, sem perceber, eu também fui mudando muito o estilo dos shows e das letras que escrevo”, conta Larissa. Além disso, a cantora destaca a importância dos outros ritmos musicais para a carreira. “Nosso quadradinho sem dúvidas tem a preferência pelo sertanejo, mas tento levar todos os estilos para os meus shows, até porque eu amo pop, MPB, reggae, rap e pagode. Optei por um repertório mais eclético”, declara.

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