FILME

Heranças indígenas: curta 'Brincadeiras Mehinako' será lançado nesta quinta

Feito com autorização da Funai e auxílio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), Brincadeiras Mehinako vai ter circulação de cópias de DVDs nas escolas públicas do DF

Falado na língua nativa do indígena Aiuruá Meinako, que há mais de 20 anos deixou a aldeia Utawana, o curta-metragem Brincadeiras Mehinako, será lançado hoje, às 10h30, em canal do YouTube. O trabalho retrata tanto um resgate ancestral quanto um aprendizado lúdico. Morador de Planaltina DF, Aiuruá, tirava férias, quando criança, junto a integrantes da etnia Mehinako (Mato Grosso), no Parque Nacional do Xingu, relembrava da infância. Quando entrava no mato, flechava, corria atrás de cigarras e via alguns amigos e primos perseguirem vaga-lumes.

“Como a aldeia é redonda, os meninos combinavam tudo no centro e depois vinha toda a agitação. Hoje, lá eles usam muitas coisas dos brancos, como celulares”, constata Aiuruá Meinako. Brincadeiras Mehinako, com direção de Aiuruá, e diversificada participação das parceiras Delvair Montagner e Elza Ramalho, mais do que reconecta o empregado da Casa do Indígena (próxima do Paranoá), hoje aos 51 anos, com a nostalgia: aponta ainda para um futuro, quem dera, promissor.

“Fui para a aldeia com um roteiro, mas os mais velhos de lá sabem mais do que eu. O cacique, quando soube da nossa vontade de filmar, preparou e organizou tudo para nos receber. Quando chegamos, vimos as crianças interessadas nas brincadeiras de antigamente; mesmo aqueles que tinham alguma resistência no começo”, conta o indígena.

Com uma autoridade natural e virtudes da organização, o cacique Mehinako rememorou do cotidiano e dos hábitos do cineasta, à época em que dava trabalho para os três irmãos mais velhos dele, que ficaram na aldeia. “Hoje eu tenho família aqui (em Brasília); não volto para lá. Em 2000, tentei levar a minha filha Lorena para um resgate de raízes, mas não eu certo”, conta ele, que ainda é pai do jovem Kanídeo. “Vim estudar em Brasília, aprender na escola, porque na aldeia não tinha colégio”, completa Aiuruá, que ainda tem arraigados hábitos como o de comer beiju (tapioca) com peixe e pimenta.

Autodidata

Em Brasília, Aiuruá teve aperfeiçoamento no audiovisual com a ajuda da doutora em antropologia da UnB Delvair Montagner e apoio de Elza Ramalho (coeditora e corroteirista do novo filme). Feito com autorização da Funai e auxílio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), Brincadeiras Mehinako vai ter circulação de cópias de DVDs nas escolas públicas do DF.

“Em 1994, na aldeia, ganhamos câmeras do Japão, quatro filmadoras e também uma mesa de edição. Eu disse: ‘Vou aprender isso’ e, sem treinamento, filmei um Quarup (no caso, uma homenagem ao avô dele que morreu), eu mesmo editei, sem pensar muito ou seguir modelos”, conta o diretor. Foi a semente para que ele alcançasse dois outros feitos: foi premiado por Mapulawache — A festa do pequi (DocTV feito com apoio de Elza) e, há 21 anos, ganhou menção no 21º Tokyo Video Festival, pelo filme Mehinako Ukayumai.