A arquitetura brasileira perdeu Paulo Mendes da Rocha. Condecorado com o prêmio Pritzker, o Nobel da arquitetura mundial, em 2006, e o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza, em 2016, Paulo Mendes morreu, ontem, aos 92 anos, vítima de câncer no pulmão. Comparado a Oscar Niemeyer, ele era também uma referência do pensamento contemporâneo brasileiro.
Para o arquiteto e urbanista Lucio Gomes Machado, professor da Universidade de São Paulo (USP), Rocha foi “o mais importante arquiteto brasileiro da atualidade, seja pelo conjunto da obra, seja pelo enorme contingente de discípulos”.
Nascido em Vitória (ES), em 1928, Paulo Mendes formou-se em arquitetura e urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, em 1954. Desta época, tornou-se próximo de colegas como Jorge Wilheim (1928-2014) e Carlos Millan (1927-1964) e, juntos, passaram a pensar — e, mais tarde, produzir — a arquitetura moderna paulista. “Foi um poeta da forma, da linha reta e da precisão, contraponto complementar ao Oscar Niemeyer, de curvas e informalidade”, analisa o arquiteto e urbanista Henrique de Carvalho, pesquisador da USP.
Coube a Paulo Mendes a reforma, nos anos 1990, da Pinacoteca de São Paulo. O prédio, projeto no século 19, foi traçado pelo arquiteto Ramos de Azevedo. A reforma rendeu o Prêmio Mies van der Rohe de Arquitetura Latino-Americana, em 2000.
Foi influenciado pelas propostas de João Batista Vilanova Artigas (1915-1985) que Paulo Mendes passou a conceber suas primeiras obras, como o ginásio do Clube Atlhetico Paulistano. Tornou-se professor na USP, em 1961, como assistente de Artigas. Anos mais tarde, durante o regime militar, acabou sendo compulsoriamente afastado pela ditadura.
E é após a redemocratização que o arquiteto passou a desenvolver suas mais importantes obras públicas. Foi a partir de sua prancheta que a Pinacoteca de São Paulo, por exemplo, assumiu a configuração que a consolidaria como um dos mais importantes museus de arte do país. Ele também concebeu o Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), em São Paulo, a reforma do Centro Cultural da Fiesp e a Capela de São Pedro Apóstolo, em anexo ao Palácio Boa Vista, em Campos do Jordão. As instalações do Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, têm a assinatura do arquiteto brasileiro. Nas redes sociais, Pedro Mendes da Rocha, filho do arquiteto, publicou um texto comovente após a morte do pai: “Depois de tanto projetar edifícios em concreto e aço, meu pai foi projetar galáxias com as estrelas!”.
Políticos também renderam homenagens. “O Brasil está triste com a perda de Paulo Mendes da Rocha, um dos maiores nomes da nossa arquitetura de todos os tempos”, destacou o governador de São Paulo, João Dória. “Ele deixou um legado humanista muito além das suas criações em cidades do Brasil e do mundo”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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