Literatura

Livro conta a história dos soldados negros que morreram na guerra do Paraguai

Jornalista e pesquisador Sionei Ricardo Leão lança livro sobre 129 soldados negros que morreram de cólera durante a Guerra do Paraguai

Prisley Zuse*
postado em 27/05/2021 06:00
Sionei Ricardo: a história de 129 soldados com cólera que morreram durante a guerra -  (crédito: Sionei Ricardo Leão /Divulgação)
Sionei Ricardo: a história de 129 soldados com cólera que morreram durante a guerra - (crédito: Sionei Ricardo Leão /Divulgação)

Jornalista e pesquisador, Sionei Ricardo Leão lança hoje seu primeiro livro, fruto de uma pesquisa de 20 anos: Kamba’Race: afrodescendências no Exército Brasileiro, em uma live pelo Instituto Astrojildo Pereira. O interesse no tema surgiu após ouvir a história sobre o local onde 129 soldados com cólera morreram durante a Guerra do Paraguai.

“A história me chamou a atenção desde o início, pois gosto de pesquisar sobre temas raciais. Foi assunto da minha monografia em jornalismo e, ao longo de 20 anos, fui aprimorando. Produzi um documentário sobre o assunto em 2005, que foi premiado pela Fundação Palmares do Ministério da Cultura. Não restam dúvidas que a maior parte dos soldados eram negros, porém não sabemos quantos eram escravos e quantos era libertos”, completou Sionei.

O livro conta a bibliografia inédita de 11 generais negros do Exército Brasileiro. “Quando comecei a pesquisar, percebi que tinham oficiais que não eram reconhecidos publicamente. Consegui entrar em contato com alguns familiares e comecei a descobrir outros generais negros em diversas áreas. No final, reuni 11 bibliografias, algo que nem o Exército Brasileiro tem”.

O título do livro, Kamba’Race, faz referência a um episódio da Guerra do Paraguai conhecido como Retirada da Laguna, ocorrido em 24 de maio de 1867, no Mato Grosso do Sul, onde 129 soldados com cólera foram mortos pelas tropas paraguaias em um terreno descampado, após serem deixados para trás pelos seus companheiros de guerra. “A tropa brasileira tinha 2 mil soldados no começo do confronto nessa região, no final sobraram 700, sendo que 130 estavam com cólera. Ou a tropa toda morria, ou eles deixavam para trás os enfermos, e foi o que aconteceu. O local onde os soldados morreram ficou conhecido como Kamba’Race.”
“Kamba, em guarani, quer dizer negro e Race é choro ou gemido, ou seja, é o choro dos negros. As pessoas dizem que o local é assombrado. De certa forma, eu sinto que estou dando voz a esses soldados, pois é uma parte da história pouco conhecida”, destacou Sionei.

A live contará com a presença de Moacir Lacerda, fundador e membro do Acaba: Cantadores do Pantanal. O grupo pesquisa e divulga a história e folclore do Mato Grosso do Sul a partir da música. “Este ano estamos lançando o projeto A chama da paz na América do Sul, uma antologia musical literária, sobre a Guerra do Paraguai. São 250 músicas e uma delas será sobre o Kamba’Race, uma homenagem aos guerreiros negros.”
A live será às 20h30, no canal do YouTube Instituto Astrojildo Pereira. Para o debate, estarão presentes: Sionei Ricardo Leão, autor do livro, e Moacir Lacerda, fundador e membro do grupo Acaba. O jornalista André Ricardo será o mediador.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

Kamba’Race: afrodescendências no Exército Brasileiro

De Sionei Ricardo Leão, Editora Astrojildo Pereira, 158 páginas. Preço sugerido no site da Amazon: R$ 60.

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