MÚSICA

Com pandemia sob controle, países começam a retomar shows presenciais

Enquanto o Brasil vive a tragédia de milhares de mortes diárias e grande prejuízo financeiro, países que estão superando a pandemia começam a voltar ao normal

Apesar de parecer cada vez mais distante no Brasil, o retorno dos shows presenciais é uma realidade em diversos países. Ao passo que, nacionalmente, grandes festivais como Lollapalooza e Rock In Rio são adiados para 2022, eventos como Reading e Leeds, que chegam a reunir mais de 100 mil pessoas na Inglaterra, anunciam edições para o segundo semestre deste ano.

Como forma de testar a segurança dos eventos presenciais pós-pandemia, a banda Love of Lesbian realizou um concerto para 5 mil pessoas em Barcelona, na Espanha, no fim de março. Para participar, o público passou por um teste de antígeno e utilizar máscaras FFP2, o distanciamento social não era necessário. Os participantes também passaram por um ponto de controle de verificação de temperatura, além de contarem com garrafas de álcool em gel ao longo do evento.

Duas semanas depois, o público foi testado novamente para checar se houve infecção de covid-19 durante o show. Seis pessoas testaram positivo para o vírus, entretanto, pesquisadores da Fundação de Combate à Aids e Doenças Infecciosas e do Hospital Universitário Germans Trias i Pujol concluíram que quatro delas foram infectadas em outro lugar, e não no concerto. Já em relação às outras duas, existe uma grande possibilidade de que também não tenham se infectado no espetáculo.

Ainda que esse tipo de teste esteja sendo bem-sucedido internacionalmente, não há um horizonte para o retorno de eventos presenciais no Brasil. Enfrentando a pior fase da pandemia até então, com uma média móvel de mais de 2.500 mortes, o país nunca esteve mais longe da retomada de shows e festivais.

“Atualmente, no Brasil, não vejo nenhuma perspectiva de shows, de nada. Acho que essa doença é muito incerta. Muitas coisas que nós falamos já foram desditas, quebradas. Qualquer previsão a longo prazo tem erros. Quem imaginava que hoje, um ano após (o início da pandemia), a gente estaria no nosso pior cenário”, opina a doutora Juliana Lapa, infectologista e professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), em entrevista ao Correio.

Mesmo com a falta de expectativa para o Brasil, os produtores Pedro Batista e Kaka Bessa, sócios da Influenza Produções, veem com otimismo a volta dos shows presenciais internacionalmente. “Olhar a retomada em outros países nos dá esperança de que, em breve, o Brasil consiga se reerguer, mesmo com as dificuldades no processo de vacinação, que poderia ser mais rápido e eficaz. Acreditamos no crescimento gradual, com protocolos de segurança, eventos híbridos e muito planejamento”, pontuam.

“Nossos planos estão sendo escritos a lápis, pela evolução da vacinação no país ainda ser uma grande incógnita. Acreditamos que a retomada dos eventos presenciais no Brasil se dará ainda este ano, de forma mais sutil, e que grandes festivais e eventos voltarão em 2022”, acrescentam os produtores.

Já a empresa R2 Produções, segundo o sócio Bruno Sartório, não tem perspectivas de volta para este ano. “O nosso planejamento é para 2022 de fato, não acreditamos que, antes disso, a gente consiga ter um mercado com, no mínimo, 50% de volta. Temos de tomar muitos cuidados e, também, precisamos planejar este retorno. A gente sabe que existe uma demanda reprimida forte, e corre um risco muito grande de alguns mercados não se atentarem ao perigo dessa retomada e isso gerar mais problemas, principalmente na saúde do público. Então, acreditamos que, em meados de 2022, a gente consiga começar o processo de normalização do mercado”, analisa Sartório.

Durante a falta dos shows presenciais, as lives se destacaram no universo das produções de eventos. “O show nunca parou, ele mudou de meio”, aponta Franklin Costa, consultor de inovação e sócio co-fundador do øclb, consultoria especializada em entretenimento ao vivo e design de experiências. Apesar de serem uma alternativa à impossibilidade da realização de eventos presenciais, os shows on-line vieram para ficar, mesmo com o fim da pandemia. Costa acredita que, com a normalização do mercado, as experiências virtuais serão ainda mais apreciadas.

“Na volta dos eventos presenciais, esses (eventos digitais) serão ainda mais valorizados. Os shows serão uma experiência premium. Mas a evolução das experiências digitais neste ano não vai desacelerar, muito menos voltar atrás. As lives de ontem já são superproduções e novas fontes de receitas para artistas e festivais. Isso só tende a crescer. As experiências digitais vão ocupar um lugar cada vez mais central, mesmo com a volta dos eventos presenciais”, finaliza.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira