A vacina CoronaVac recebeu ontem a aprovação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para ser usada de forma emergencial. O imunizante, que é o mais usado na campanha de vacinação contra a covid-19 no Brasil, já é aplicado em 22 países e, agora, poderá ser usado no programa Covax de distribuição de vacinas, comandado pela agência das Nações Unidas. A autorização também pode abrir caminho para que os brasileiros consigam viajar a nações que exijam vacinação por fármacos que receberam um “selo” internacional.
O medicamento produzido pelo laboratório Sinovac recebeu o aval após ser avaliado por um comitê de especialistas em vacinas da OMS. O procedimento é uma alternativa adotada pela agência para ajudar países que não têm meios para determinarem por si só a eficácia e a segurança de um medicamento. Com a ajuda da agência, pode-se acessar mais rapidamente os imunizantes. “O mundo precisa desesperadamente de várias vacinas contra a covid-19 para enfrentar as enormes desigualdades em todo o planeta”, declarou Mariangela Simão, vice-diretora-geral da OMS, em entrevista coletiva.
Segundo os especialistas da instituição internacional, a CoronaVac preenche requisitos essenciais para ser usada em nações menos desenvolvidas, que estão atrasadas na vacinação contra a covid-19. “Esse produto, do tipo vacina inativa, é fácil de armazenar, o que facilita sua administração e faz com que ele possa ser utilizado sem dificuldades por regiões com poucos recursos”, enfatizam em comunicado.
O imunizante chinês precisa ser aplicado em regime de duas doses, com intervalo de duas a quatro semanas, e pode ser administrado em pessoas com 18 anos ou mais. Além da China e do Brasil, ele está sendo usado em Tunísia, Chile, Indonésia, México, Tailândia e Turquia, entre outros países. A eficácia da CoronaVac para prevenir os casos de covid-19 sintomáticos é de 51%, e de 100% para evitar casos graves e hospitalizações. Novos estudos, porém, indicam desempenho ainda maiores. Na última sexta-feira, resultados preliminares de um estudo conduzido no Uruguai indicam que a fórmula protetiva reduz em 97% a mortalidade pela doença.
Butantan
Lorena de Castro Diniz, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), avalia que a autorização anunciada ontem pela OMS é uma excelente notícia e corrobora as decisões tomadas pelas autoridades brasileiras em relação ao imunizante. “É algo que nos dá muito ânimo, pois reforça o que a Anvisa já tinha visto e aprovado, permitindo que essa vacina seja aplicada na nossa população desde o início do ano. Além disso, temos o reconhecimento internacional ao Instituto Butantan, que foi o órgão que fez a parceria com os pesquisadores chineses nos testes do fármaco e que se saiu muito bem”, analisa.
Para a especialista, outro ganho proporcionado pela autorização concedida pela OMS à CoronaVac é a possibilidade de facilita a entrada de brasileiros vacinados em outros países. “Esse é um problema que poderia ocorrer, essa barreira entre as fronteiras. Caso a CoronaVac não fosse bem avaliada, teríamos, provavelmente, esse impeditivo em muitos territórios. Claro que ainda teremos que esperar um tempo para que os países adotem essa vacina em suas listas de permissão para entrada, mas será algo mais fácil, já que a OMS é um órgão de enorme relevância no mundo”, explica.
Lorena Diniz também ressalta que a CoronaVac será uma arma importante a ser usada pela OMS em sua missão de vacinar países mais pobres. “É um imunizante que se mostrou bastante seguro e que pode ser armazenado em refrigeradores normais”, justifica. “Além disso, o seu processo de produção usa uma tecnologia muito simples, a mesma utilizada para a vacina da gripe, algo fácil de ser replicado mesmo em locais com menos recursos. Todos esses pontos contam. É algo bom também para o Brasil, pois poderemos exportá-la para outras regiões, mas, claro, isso só pode acontecer após toda a nossa população ser imunizada.”
“Claro que ainda teremos que esperar um tempo para que os países adotem essa vacina em suas listas de permissão para entrada, mas será algo mais fácil, já que a OMS é um órgão de enorme relevância”
Lorena de Castro Diniz, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI)
Acessibilidade
O Covax foi lançado pela OMS, em parceria com a Aliança Mundial para as Vacinas e a Imunização (Gavi) e a Coalizão para as Inovações em Preparação para Epidemias (Cepi), para distribuir vacinas contra a covid-19 a países de baixa renda, com um preço mais acessível. A primeira entrega do grupo foi feita para Gana, na África, em fevereiro. A maioria dos países beneficiados está no continente africano e na América do Sul, incluindo o Brasil, que recebeu dois carregamentos de imunizantes comprados por meio do programa.
» Líderes pedem por igualdade
Em um texto publicado, ontem, no jornal Washington Post, diretores da OMS, da Organização Mundial do Comércio, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial afirmam que as desigualdades na vacinação contra a covid-19 favorecem o surgimento de variantes do coronavírus. “Está muito claro que não pode haver resistência global à pandemia da covid-19 sem acabar com a crise de saúde. O acesso às vacinas é fundamental para ambos”, afirma o texto. Os líderes das instituições internacionais pedem que o G7, em sua próxima reunião de cúpula, prevista para acontecer no Reino Unido, neste mês, estabeleça uma “estratégia mais coordenada, respaldada por novos recursos, para vacinar o planeta” e aceite contribuir com US$ 50 bilhões para um plano contra a pandemia proposto pelo FMI.
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Canadá autoriza tomar doses distintas
O comitê científico que assessora o governo do Canadá no enfrentamento à pandemia deu luz verde à possibilidade de aplicar doses distintas de vacinas contra a covid-19 em um mesmo indivíduo. Dessa forma, pessoas que receberam a primeira dose de AstraZeneca podem receber a segunda dose do mesmo imunizante ou uma de outra vacina de RNA mensageiro, como a da Pfizer/BioNTech ou a da Moderna.
“A intercambiabilidade das vacinas significa que você pode receber uma primeira dose da vacina e, com segurança, receber uma vacina diferente para a sua segunda dose para completar a série de vacinas necessárias para garantir a proteção ideal contra a covid-19”, enfatiza, em comunicado, Howard Njoo, vice-diretor do Departamento Federal de Saúde Pública do Canadá.
O Comitê Consultivo Nacional de Imunização (CCNI) informou que tomou a decisão levando em conta, principalmente, o risco de coágulos sanguíneos associado à formula da AstraZeneca. O órgão alerta, porém, que a mistura pode levar ao “potencial de aumento dos efeitos colaterais de curto prazo, incluindo dores de cabeça, fadiga e uma sensação geral de desconforto.
Questionada sobre o risco de os canadenses rejeitarem a vacina AstraZeneca na segunda dose, Theresa Tam, diretora de saúde pública, pediu cautela. “Acho que teremos que olhar de perto o que acontecerá após essa recomendação”, disse. “Não queremos deixar as doses da vacina sem uso”, acrescentou. Caberá às províncias do país decidirem se adotarão a recomendação do comitê.
Nova infecção por gripe aviária na China
Autoridades da China anunciaram o primeiro caso, no mundo, de contágio humano da cepa de gripe aviária H10N3. O infectado é um homem de 41 anos que vive na cidade Zhenjiang, no leste do país. Ele passa bem e, segundo a Comissão Nacional de Saúde (NHC), o risco de “grande propagação” dessa variante entre pessoas é baixo.
O paciente foi identificado com a gripe aviária após ter dado entrada em um hospital próximo de sua casa, em dia 28 de abril, com queixas de febre alta. Cinco dias depois, foi internado. Em 28 de maio, um sequenciamento genético feito na instituição médica que atendeu o homem resultou no diagnóstico definitivo para H10N3, de acordo com a NHC. “Esse caso é de uma transmissão zoonótica (entre espécies animais) ocasional de ave para homem (...) O risco de uma propagação em grande escala é muito baixo”, enfatiza o comunicado divulgado ontem.
A NHC também informou que as pessoas que tiveram contato com o homem infectado pela cepa H10N3 foram monitoradas e não apresentaram “anormalidades”. O órgão, porém, não informou como o homem foi infectado. Limitou-se a pedir para que as pessoas que têm contato com aves no país tomem cuidado ao tocar em animais mortos e mantenham distância dos vivos.
Epidemia
Várias cepas de gripe aviária em animais já foram registradas em território chinês, mas os casos em pessoas são pouco comuns. A última epidemia da doença no país asiático se deu entre o fim de 2016 e o início de 2017, com o vírus H7N9. Essa cepa contaminou ao menos 1.668 pessoas e causou a morte de 616 desde 2013, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
O monitoramento da transmissão de doenças de animais para humanos é um procedimento comum, feito pelas autoridades sanitárias dos países. Esse procedimento se tornou ainda mais intenso ao longo da atual pandemia da covid-19, principalmente na China, já que o novo coronavírus, o Sars-CoV-2, foi detectado, pela primeira vez, em um mercado de comida e animais em Wuhan, no centro do país, no fim de 2019.