Tecnologia

Pandemia fortalece podcasts como meio de consumo de cultura e informação

Em meio à crise provocada pela pandemia, podcasts se tornam ferramentas de empatia e de proximidade com outras pessoas

Pedro Ibarra*
Isabela Berrogain*
postado em 21/06/2021 07:18
 (crédito: Kouchi/Divulgação)
(crédito: Kouchi/Divulgação)

A pandemia trouxe a distância social e mudou a forma como as pessoas se relacionam afetivamente. O amor teve de passar por adaptações para que todos conseguissem se conectar, mesmo que de forma remota. Entre as plataformas digitais que ganharam público, está o podcast, um programa de rádio gravado, com temáticas diversas e que o ouvinte pode escutar quando quiser. O podcast Nós, uma produção original Spotify, apostou nas conversas sobre o amor para atrair um público variado. “O amor é a maior ferramenta de transformação em uma sociedade e se ele vai ter que ser através de uma tela, é assim que vai ser, para a gente poder continuar vivendo”, afirma Sarah Oliveira, apresentadora conhecida por programas da MTV.

Ela e a radialista Roberta Martinelli decidiram criar narrativas para contar histórias de amor, todos os tipos de amor, com episódios sobre amor familiar, romântico, de amizade, entre outros. No programa, cada apresentadora conversa com uma das partes envolvidas na história. No primeiro episódio, O mundo é um moinho, as duas contaram a trajetória de Reinaldo e Julia, e a bela relação de pai e filha têm, mesmo não sendo biológica.

“Neste momento em que a vida está tão travada, que viver está sendo tão difícil, é tão desafiante ouvir histórias de vida, que me deixam com vontade de salvar esse mundo inteiro”, afirma Roberta Martinelli. “Queremos cutucar um pouquinho, abrir a cabeça, mostrar que existem inúmeras possibilidades de amor”, acrescenta Sarah.

As duas apresentadoras tinham programas em que ouviam histórias de vida das pessoas pelas plataformas digitais, mas sentiram que poderiam compartilhar tudo isso de outra forma. “A nossa ideia não era um programa que julgasse essas histórias, a gente não quer ter uma solução, uma moral, a gente não está aqui para dar respostas”, explica Sarah. “Ouvir essas histórias de amor, de encontro e de afetos tem sido um tanto da nossa salvação durante essa pandemia”, adiciona Roberta.

“É uma maneira de abraçar o outro. Nos identificando com a história do outro, tendo empatia, mergulhando, abrindo um pouco a mente, entendendo que existem pessoas muito diferentes de nós”, avalia Sarah, sobre o amor nos tempos de pandemia.

Humanização

Em um caminho diferente, Gabi Oliveira e Karina Vieira também tocam no tema amor e afeto no podcast Afetos. As duas apresentadoras decidiram falar do tema para compartilhar as próprias experiências. “O nosso foco sempre foi a humanização das pessoas negras. Quando decidimos nos juntar e produzir um podcast, a escolha primária foi falar das nossas subjetividades”, contam as duas responsáveis pelo título, disponível nas principais plataformas de streaming. “Não queríamos, enquanto mulheres negras, que as nossas histórias e narrativas estivessem vinculadas exclusivamente ao atravessamento violento do racismo”, completam.

“Falamos das nossas vulnerabilidades, compartilhamos experiências pessoais, desmistificamos a ideia de que temos todas as respostas e sabemos de tudo e mostramos que somos mulheres negras comprometidas com a nossa coletividade”, explicam Gabi e Karina sobre a forma como constroem o que será falado no podcast. “Compartilhar que, em maior ou menor grau, quando falamos de sentimentos, todas e todos nós passamos por experiências similares, todas e todos sentimos, o que difere é a forma como expressamos esses sentimentos”, apontam as duas como maior foco do podcast.

A forma como as duas decidiram falar sobre o podcast deu frutos, e o Afetos teve grande crescimento recente. “Um crescimento orgânico que é muito bonito de ver, estamos completando dois anos de podcast, são quase 100 episódios que vão ao ar toda sexta feira, inclusive produzimos semanalmente mesmo durante a pandemia, temos um público de cerca de 10.000 plays por episódio e estamos em todas as plataformas de distribuição de podcast”, contam as apresentadoras sobre o trabalho que têm feito. Elas também possuem um grupo em que interagem no Facebook e um no Telegram.

A popularidade

O podcast Nós, de Sarah Oliveira e Roberta Martinelli, faz parte de um boom do formato nas plataformas digitais. Spotify, Amazon Music, Apple Music, Tidal, todos os grandes serviços de streaming estão investindo em podcasts. Segundo o Spotify, foram lançados 40 títulos brasileiros, originais e exclusivos da plataforma, que em 2020 tinha aproximadamente 1,9 milhão de podcasts disponíveis, número que aumentou para 2,6 milhões em 2021. Atualmente, o streaming é o mais popular nessa linguagem de programas de áudio.
Para o especialista Elton Bruno Pinheiro, professor da UnB e doutor em comunicação e sociedade, além de um dos líderes do Observatório da Radiodifusão Pública na América Latina (UnB/CNPq), a popularização do podcast se deve a uma associação de fatores como acesso à tecnologia, relação das pessoas com os podcasts e até a possibilidade de transformar esse formato em um negócio.

Contudo, os streamings foram ressaltados como um dos mais importantes fatores pelo professor. “As plataformas de streaming reconfiguraram a forma como nos relacionamos com os podcasts. Os agregadores de conteúdo em áudio operam facilitando a organização, o acesso e o uso da informação”, explica o estudioso e coordenador do projeto de extensão, pesquisa e inovação UnBCast: Narrativas sonoras para a divulgação científica e cultural. “Logo, as plataformas de streaming cumprem um papel muito importante para a circulação de podcasts, tendo, sem dúvidas, ajudado a popularizá-los”, complementa.
O professor também aponta a popularização do podcast para radiodifusão jornalística. Ele relembra que, durante o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, os podcasts foram uma fonte importante de informações para o público interessado em análise política, por exemplo. “Nesse contexto, nem sempre as pessoas puderam estar atentas 24 horas aos noticiários da tevê ou navegando em portais de notícias que, muitas vezes, são pagos, para obter análise aprofundada dos fatos”, analisa Elton. “Notadamente, nesse período, houve um expressivo aumento na divulgação e na escuta de podcasts jornalísticos” conta. Para o doutor, o podcast “acompanha o cotidiano das pessoas sem necessariamente demandar um tipo de atenção exclusiva”.

Seguindo essa tendência, o Correio conta com cinco podcasts semanais na programação. Em agosto de 2015, o CB.Poder, parceria entre o Correio e a TV Brasília, deu início ao primeiro programa do jornal neste formato. Ele aborda os principais temas locais e nacionais em entrevistas exclusivas, tendo como foco o mundo da política e da economia. Dele, nasceram CB.Saúde e CB.Agro, também em parceria com a tevê, que tratam, semanalmente, das principais questões do DF e do Brasil envolvendo saúde e agricultura. Você pode ouvir os podcasts CB.Poder, CB.Agro e CB.Saúde nas principais plataformas digitais, e assisti-los nas redes sociais do Correio e da TV Brasília.

Em 2020, o jornal teve mais dois novos podcasts próprios. O Se pá: um podcast, iniciado em novembro, discute, toda segunda-feira, temas atuais da cultura pop e do mundo do entretenimento, com opiniões e abordagens em formato de revista. Nas sextas-feiras, o mais recente programa em áudio do jornal, Luz aos fatos, traz conversas e entrevistas com especialistas sobre os principais destaques da semana, no intuito de apresentar ao público um olhar mais aprofundado sobre os temas. O Se pá: um podcast e o Luz aos fatos podem ser ouvidos também nas principais plataformas digitais.

*Estagiários sob a supervisão de José Carlos Vieira

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