Quem aposta que o melhor remédio é o tempo, “que cura tudo”, vai ter um bom entendimento do filme sobrenatural de suspense proposto por M. Night Shyamalan; o cineasta associado à criação do clássico O sexto sentido (1999). Ao adaptar a graphic novel Sandcastle (de Pierre-Oscar Lévy e Frederick Peeters), Shyamalan não quer deixar dúvidas para o espectador, e tudo que é visto na tela, é bem explicado. O enredo parte das reações alteradas nos corpos afetados por um tempo acelerado que ronda turistas, numa ilha desértica.
Como no longa Fim dos tempos, de 2008, a natureza parece conspirar com algumas circunstâncias fantasiosas. No novo filme, há personagem que aventa um vírus como uma possibilidade associada ao inferno na vida da galeria de tipos unidos para veraneio em resort paradisíaco.
Ao sabor das teorias da conspiração da atualidade, Shyamalan administra os destinos dos turistas que vão para a praia. E é ele, como ator, que aparece em cena, na pele do motorista do resort que guia todos. Estatístico de riscos associado a seguros de vida, Guy (Gael García Bernal), um dos protagonistas, está em crise no casamento com Prisca (Vicky Krieps). E o casal traz para um momento de relaxamento o casal de filhos: Trent (depois de mais velho, interpretado por Alex Wolff) e Maddox (Thomasin McKenzie).
Ao acaso, como tudo leva a crer, eles ganharão a companhia dos personagens de Rufus Sewell (conhecido pelo longa Judy), Nikki Amuka-Bird, Ken Leung e Abbey Lee (de Mad Max).
Há um momento do filme em que Guy é acusado de apenas “pensar no futuro”, enquanto Prisca se vê fixada no passado. Prisca, aliás, ainda sem saber da espécie de maldição que acompanhará o grupo, alerta para o “desperdiçar de momentos” a que muitos se entregam.
Não demora, sem aviso, ela verá os filhos crescerem sete anos, em três horas. Como que numa redoma, que faz lembrar a atmosfera da série Lost, Tempo se vale de sobressaltos, rompantes e atritos entre os confinados que vivem momentos à la filme de catástrofe coletiva, como um O destino do Poseidon.
Códigos e perigos
A fenda em gigantescas rochas da praia poderia servir de passagem para uma fuga, mas a reserva natural se revela aprisionante. Quem lembrar de O anjo exterminador de Luis Buñuel, com uma saída interditada para os participantes de um banquete, terá ideia das proporções da trama.
Ao se reservar o direito ao silêncio, o rapper Mid-Sized Sedan (interpretado por Aaron Pierre), que vaga pela ilha amaldiçoada, deixa em estado de alerta profissionais como enfermeiro, psicóloga e médico, todos alinhados numas férias sem muita diversão. A viagem zen se encaminha para uma psicose coletiva.
Desmaios, surtos, ataques de epilepsia e artroses extremadas são algumas das situações presenciadas pelos espectadores.
Tempo trata de tópicos mórbidos e de seres fragilizados: pais que sentem desconforto na convivência com os filhos, pessoas sem tempo para viver o luto e degeneração física. Conceitos e desconfianças que cercam a indústria farmacêutica e a ideia de constante vigilância na sociedade, igualmente, despontam. Tempo abusa ainda de uma mensagem cifrada, a exemplo do que o diretor propôs, no codificado Sinais (2002).
Com o final delongado em excesso, há a ironia de que Tempo demanda paciência do espectador, já que a edição do filme é bem problemática. Ah! Preste atenção na dica de um dos personagens, obcecado pelo faroeste setentista que uniu os talentos de Marlon Brando e Jack Nicholson, Duelo de gigantes (1976).
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