MÚSICA

Música eletrônica: DJs famosos falam como se reinventaram na pandemia

O Correio conversou com Moby, uma figuras mais destacadas da música eletrônica mundial, além de DJs brasilienses

» Fernanda Gouveia*
postado em 03/08/2021 06:00
Camila Jun: lives com a conexão entre música eletrônica e arquitetura de Brasília -  (crédito: Cria Mov/Divulgação)
Camila Jun: lives com a conexão entre música eletrônica e arquitetura de Brasília - (crédito: Cria Mov/Divulgação)

Conhecida pelo som criado ou recriado por meio de instrumentos eletrônicos e outros recursos digitais, a música eletrônica domina as pistas de dança desde meados da década de 1970, quando o estilo se diversificou. A partir de então, muitas vertentes surgiram, como o techno, a house music e o drum ‘n’ bass. Atualmente, esse estilo musical apresenta uma grande variedade de formas de se produzir música, com influências de outros gêneros e de culturas de diferentes países.

Uma das figuras mais destacadas da música eletrônica dançante mundial é Richard Melville Hall, mais conhecido como Moby. Nascido em Nova York, o cantor, compositor e produtor foi um dos responsáveis por levar a música eletrônica para o mainstream e por definir a próxima onda popular. “O interessante em Nova York, no começo dos anos 1980, é que a cena musical era muito eclética. Você ia assistir a um show de uma banda punk, mas o DJ acabava tocando reggae. Isso é o que me introduziu à música eletrônica”, conta Moby em entrevista ao Correio.

Com vários discos de platina e diversas indicações ao Grammy, Moby alcançou vendas mundiais de mais de 20 milhões de álbuns e chegou oito vezes ao Top 10 de sucessos na parada de Dance Club Songs da Billboard. Neste ano, o artista lançou o álbum Reprise, em que repaginou alguns dos seus clássicos da carreira com novos arranjos para instrumentos acústicos e para orquestra. Para isso, ele contou com a participação da Orquestra de Arte de Budapeste.
“Quando eu estava crescendo com bandas de punk rock e sendo DJ em bares, eu nunca pensei que teria um contrato de gravação e nunca pensei que alguém iria ouvir a minha música. Então, eu certamente nunca imaginei que tocaria com uma orquestra, ter 130 músicos no palco tocando músicas que eu escrevi, isso foi extraordinário”, declara Moby.

Pandemia

Com 55 anos, Moby acredita que a pandemia de covid-19 não afetou tanto o trabalho, por estar acostumado a ficar em casa e não ter uma vida social agitada. Porém, essa não é a realidade para a maioria dos artistas. O Brasil tem diversos artistas consagrados da música eletrônica e Brasília também apresenta uma cena forte desse estilo. Um exemplo, a DJ brasiliense Camila Jun, que criou um projeto de lives na tentativa de se reinventar no momento de crise, em que não é possível realizar shows ou tocar em festas.

O projeto de Camila consiste numa série de vídeos em que ela toca música eletrônica em diversos locais marcantes de Brasília. Ao todo, são quatro episódios, que serão lançados mensalmente, de maio a agosto. “Eu já tinha muita vontade de colocar em prática um projeto audiovisual interessante, diferente e que pudesse enaltecer Brasília, a arquitetura da cidade e que isso fosse conectado com a música eletrônica. Porque eu sempre vi uma conexão muito genuína entre a arquitetura modernista da capital e a música eletrônica”, conta a DJ.

Camila, que mantém uma forte conexão com a house music, uma das vertentes da música eletrônica, produziu dois episódios de lives até o momento. O primeiro ocorreu no Eixão e, o segundo, no Museu Nacional, com a produção da Influ Music e a captação e edição do vídeo pela Cria Mov. Os dois episódios estão disponíveis no canal de YouTube de Camila Jun.

Outro DJ que cresceu em Brasília é Bhaskar, irmão gêmeo de Alok, que iniciou a carreira aos 12 anos e sempre foi influenciado musicalmente pela família. O projeto solo começou em 2016 e, desde então, tem conquistado espaço na cena brasileira, com parcerias internacionais. Durante a pandemia, o DJ criou o projeto Follow the sun, uma série de lives em meio à natureza e em lugares deslumbrantes com intuito de trazer bem-estar e uma mensagem de esperança para as pessoas em casa.
“Cada um teve uma estratégia. Tem alguns DJs que se trancaram no estúdio e estão esperando a volta dos eventos para lançar tudo. Outros fizeram inúmeras lives. Eu fiz um pouco de cada, porque acho que é importante o artista continuar criando conteúdos independentemente dos shows. E também foi um momento que consegui me dedicar mais à produção”, explica Bhaskar.

Os irmãos gêmeos Marcos e Lucas Schmidt, mais conhecidos como os Dubdogz, também apostaram no formato de lives com cenários na natureza. Atualmente, a dupla é especialista no house brasileiro, ou brazilian bass, uma vertente que surgiu no Brasil, com foco instrumental nos sons mais graves. “De 2014 para cá, a cena brasileira deu um salto gigante. Outro passo importante já está em andamento: A música eletrônica “made in Brazil” sendo exportada para o mundo”, comenta os Dubdogz.

Mulheres na cena

Para a DJ e produtora gaúcha Carola, o momento de pandemia representou algo diferente. Ela trabalha com produção musical desde 2015, momento em que começou a lançar as próprias músicas, enquanto também trabalhava em uma produtora de eventos do Sul do país. Com a pandemia de covid-19, Carol perdeu o emprego. “Eu achei que as coisas iam ficar bem ruins e, no fim, ficaram boas porque eu consegui de fato focar na música, que é o meu sonho”, diz a DJ.

Diferentemente dos artistas da música eletrônica que apostaram nas lives durante a pandemia, Carola encontrou a sua forma de lidar com o momento por meio de um alto fluxo de lançamentos. Em 2020, ela lançou nove músicas em seis meses, e algumas chegaram a ser tocadas por artistas renomados internacionalmente, como David Guetta, Martin Garrix e Tiesto. “Vi que as lives funcionam mais para os artistas que tem o público já definido e que consegue ser identificado, o que não é o meu caso porque as pessoas fora do Rio Grande do Sul não me viram fazendo show ainda”, explica Carola.

Além disso, a DJ e produtora foi a primeira mulher do mundo a lançar uma música na gravadora do Martin Garrix, a Stmpd Rcrds. “Acho que isso já fala muito sobre o momento da música eletrônica para as mulheres. Existem femininos de muita relevância no mercado, mas em comparação aos projetos masculinos, representa quase nada”, pontua Carola.

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

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