Hipersexualização da Arlequina: como personagem foi remodelada para o cinema

Ter uma mulher na direção do filme Aves de Rapina (2020) foi um grande passo para que a sexualização da personagem se findasse de uma vez nas adaptações para o cinema

Yasmin Ibrahim*
postado em 08/08/2021 13:01 / atualizado em 08/08/2021 13:52
 (crédito: The Suicide Squad (2021)/ Divulgação)
(crédito: The Suicide Squad (2021)/ Divulgação)

Com cabelos loiros e pontas coloridas, shorts curto e lutando contra os vilões em salto alto, assim se solidificou a personagem Arlequina no universo live-action. O par romântico do famosíssimo vilão do Batman, Coringa, ganhou sua primeira aparição nos cinemas com o filme Esquadrão Suicida (2016), do diretor David Ayer. Hoje, a personagem que foi inicialmente retratada como uma doutora em psiquiatria, retorna às telonas no longa O Esquadrão Suicida (2021), do diretor James Gunn. Mas desta vez, Harley Quinn (nome da personagem em inglês) tem uma abordagem muito diferente da apresentada no primeiro filme.

Com calças, corpete e jaqueta, Harley aparece com um ar completamente diferente de Esquadrão Suicida (2016). Agora, a doutora Quinn tem um background muito maior do que apenas bater com um taco de beisebol nos anti-vilões.

A quadrinista Rafaela Rosa explicou que é muito importante que os estúdios acompanhem como é realmente a história desses personagens nos quadrinhos antes que elas cheguem aos cinemas. “Compreendo que adaptações para mídias diferentes não tenham a necessidade de que tudo seja fiel à obra original, mas se analisarmos toda a trajetória da personagem nos quadrinhos até chegarmos aos tempos atuais, não havia motivos para que a Harley continuasse sendo sexualizada e à mercê do Coringa no cinema”, destaca.

Antes de fazer O Esquadrão Suicida (2021), a atriz que interpreta Harley nos cinemas, Margot Robbie, deu vida a personagem no longa Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa, no início de 2020. Também produtora do filme, Margot fez questão que a trilha sonora, a direção, e diversas outras partes do longa fossem comandadas por mulheres. Nessa nova aventura, Harley usa roupas mais soltas e confortáveis para que a personagem possa lutar.

 
 
 
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Para Rafaela, ter uma mulher na direção do filme de Aves de Rapina foi um grande passo para que a sexualização da personagem se findasse de uma vez nas adaptações para o cinema. Com o desenvolvimento da personagem no filme, foi possível construir uma mulher muito mais independente e forte para o filme deste ano.

Arlequina nos quadrinhos

Sempre fazendo as vontades de seu “Pudinzinho”, apelido carinhoso que Harley deu ao Coringa, ela batia e matava por seu grande amor, tudo isso em troca de migalhas de amor do palhaço psicótico. A grande virada da personagem foi em 2016, quando passou pela mão do quadrinista Jimmy Palmiotti e da ilustradora Amanda Conner. Com uma série em 12 quadrinhos, Arlequina finalmente se emancipou do Coringa, e foi ter sua própria vida como uma anti-heroína.

Essa série, intitulada de Novos 52, além de repaginar Harley, trouxe novos públicos. Rafaela Rosa, que acompanhou todo o arco da anti-heroína, falou que foi extremamente notória e importante sua evolução. “O fato dela se “libertar” da relação de anos com o vilão e andar pelas “próprias pernas” foi algo muito simbólico. O que mais me marcou foi o “vivendo um dia de cada vez” da personagem e até a delicadeza que o roteirista teve de mostrar que mesmo após nos libertarmos de uma relação ruim, as marcas ficam e demoram para sair”, contou.

A nova Arlequina?

A personagem Punchline, popularmente conhecida como “a nova namorada do coringa” apareceu pela primeira vez em Batman #89, em fevereiro de 2020. Diferentemente de Arlequina, Punchline é completamente fria e sádica.

Rafaela ainda completa a descrição da personagem, dizendo que “Apesar de ambas terem origem “parecidas”, as interações com o Coringa, e até mesmo o nível de relacionamento, tem se apresentado muito diferente. Como leitora antiga da Harley e alguém que tem acompanhado essa nova fase da DC Comics, para mim ficou visível que a Punchline segue uma linha mais “séria” que a Arlequina, não levando tanto sua relação com o Coringa a um alívio cômico”.

Primeira aparição da Punchline nos quadrinhos, em Batman #89, em Fevereiro de 2020
Primeira aparição da Punchline nos quadrinhos, em Batman #89, em Fevereiro de 2020 (foto: DC Comics/ Reprodução)

Dito isso, ainda é incerto o futuro da Arlequina no cinema, a atriz Margot Robbie anunciou ao site ET! Online que aceitaria voltar a interpretá-la dependendo do projeto e de sua direção.

“Acho que já tive uma pausa grande o bastante, estou pronta para mais, Fiz Aves de Rapina e O Esquadrão Suicida, um depois do outro, então foi muita Harley em apenas um ano, mas isso já faz um tempo. Estou sempre pronta para retornar a ela", comentou. Só nos resta esperar para ver a personagem de volta às telas.

*Estagiária sob supervisão de Hellen Leite

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