Durante a pandemia, o trabalho dos humoristas tem se tornado cada vez mais difícil. Com a chegada da covid-19, a área artística foi a primeira a ser paralisada e, provavelmente, será a última a ser normalizada. Recentemente, os comediantes enfrentaram diversos desafios: fechamentos de teatros, cinemas, bares, interrupções de filmagens e gravações, além de serem os responsáveis pela árdua missão de fazer rir. Os últimos meses não foram fáceis, especialmente para os brasileiros, mas, ainda assim, os humoristas não desistiram de trazer alegria.
“Para a classe artística como um todo, essa pandemia foi devastadora. Para os humoristas, artistas, músicos. As pessoas, realmente, foram impossibilitadas de trabalhar, foi muito difícil para muita gente”, aponta Victor Leal, integrante do grupo brasiliense de comédia Os Melhores do Mundo.
“A companhia tem 26 anos de carreira estando em cartaz praticamente todos os finais de semana. Então, para nós, realmente foi um baque muito grande não poder fazer teatro durante tanto tempo”, revela. “Em março do ano passado, realizamos a nossa última sessão presencial no teatro. Na época, nós falamos ‘Ah, vai parar agora, mas até junho deve estar de volta’. Nós já estamos em agosto do outro ano e as coisas ainda não se normalizaram”, lamenta o humorista. Como uma alternativa aos palcos do teatro, o grupo chegou a realizar três shows de comédia no formato drive-in.
Ao se adaptar ao ‘novo normal’, Rafael Cortez se tornou o único humorista da comédia stand-up brasileira a gravar um especial de humor sobre o isolamento social no mesmo formato. “O resultado do show foi esse conteúdo que é relativamente difícil de fazer o espectador consumir, por uma questão estética mesmo. O stand-up é um espaço onde você tem uma plateia aparente, tem uma ligação com o teatro, tem essa história com o artista no palco e, no drive-in, é buzina no lugar de risada, é mais escuro, carro não é algo necessariamente bonito, você não vê close nas pessoas”, aponta Cortez.
Para Leal, se ambientar com o universo dos espetáculos drive-in também foi um desafio. “A buzina na peça quebra muito o fluxo, porque, por exemplo, a risada é uma coisa espontânea. A risada você ou ri pouco ou ri muito, é algo de acordo com o seu corpo. Já a buzina é uma coisa que você pensa ‘Gostei dessa piada, vou buzinar’ ou ‘Gostei muito vou dar três buzinadas’. Então, não é a mesma coisa, é muito frio”, compartilha.
“Na segunda vez que fizemos o drive-in, já haviam liberado para as pessoas sentarem em uma mesinha ao lado do carro. Só de você poder olhar para o rosto das pessoas, ver as pessoas rindo, já faz uma diferença imensa”, complementa.
Na área televisiva, as apresentadoras do A culpa é da Carlota, primeiro programa de humor brasileiro constituído apenas por mulheres, foram presenteadas com o privilégio de continuar trabalhando. Com respeito a todas as regras de segurança da Organização Mundial da Saúde (OMS), as humoristas gravaram duas temporadas da atração durante a pandemia. “A gente gravou naquele momento em que havia 3 mil pessoas morrendo por dia, o clima estava pesado”, relembra Carol Zoccoli, uma das integrantes do programa.
“Havia pessoas da equipe que perderam entes queridos. Então, eu e as meninas realmente tivemos que tirar muita energia para trazer uma certa leveza para o palco e trazer humor, para poder criar um clima em que as pessoas se sentissem à vontade para rir”, relata.
Mesmo com as inúmeras dificuldades, foi quase um consenso entre os humoristas que, respeitando a pandemia, o show não poderia parar. Grande parte da classe artística passou a ver o humor como a única saída do momento atual, tentando transformar, para eles mesmos e para o público, a risada em cura. “Nesse momento de pandemia, o riso é o que nos dá esperança de um futuro melhor”, diz Cris Wersom, líder do A culpa é da Carlota.
“Eu acho que o trabalho do humorista, mais do que nunca, é necessário. O humor tem essa força quase que terapêutica para ajudar as pessoas a passarem por momentos difíceis. E sempre foi assim”, afirma Leal.
Ao mirar o futuro, o co-criador do Os Melhores do Mundo é otimista em relação à volta do público aos shows de comédia nos teatros, principal palco do humor. “A pessoa vai ao teatro para poder ter 1h30, 2h de cura. O humor tem essa capacidade de melhorar a vida das pessoas”, garante o humorista. “A tendência é que [o humor no teatro] volte mais forte do que antes da pandemia. As pessoas viram o quanto isso é importante na vida delas”, opina Leal.
*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco.
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