ARTES CÊNICAS

Brasiliense Marina Nunes é a esposa do abolicionista em série 'Doutor Gama'

A atriz também interpreta na novela 'Quanto mais vida melhor' o papel de Joana, uma cirurgiã competente secretamente apaixonada pelo colega de trabalho vivido por Mateus Solano

Nahima Maciel
postado em 20/08/2021 06:00
Mariana Nunes fala sobre a representatividade do negro no cinema e na tevê -  (crédito: Fernanda Candida/Divulgação)
Mariana Nunes fala sobre a representatividade do negro no cinema e na tevê - (crédito: Fernanda Candida/Divulgação)

A atriz brasiliense Marina Nunes está com a agenda tão cheia que só foi conseguir assistir a Doutor Gama durante a abertura do Festival do Rio. No longa de grande sucesso dirigido por Jefferson De, Mariana interpreta Claudina, a mulher do abolicionista e advogado Luiz Gama. A atriz também está em A morte habita a noite, de Eduardo Morotó, programado para ser exibido no mesmo festival. Além dos dois filmes, Mariana entrou em estúdio para a gravação de Quanto mais vida melhor, a próxima novela das 19h na Rede Globo.

A atriz está especialmente empolgada em participar da produção que narra a trajetória de Luiz Gama. Nascido livre e vendido como escravo aos 10 anos pelo próprio pai, um homem branco, Gama nunca pôde cursar a universidade, mas aprendeu tudo sobre direito e tornou-se um dos nomes mais importantes do abolicionismo. Brilhante, conseguiu ganhar causas que deram liberdade a vários escravos e comprou outros tantos para lhes conceder a alforria.

Em Doutor Gama, em cartaz no circuito comercial, Mariana vive Claudina, nascida livre e companheira de causa do marido. “Claudina entende a luta do esposo e faz dessa luta a luta dela também, porém, ela se preocupa com a integridade da família, porque os inimigos do Luiz acabam atacando a família. Ela vive em um lugar de conflito, porque sabe que essa luta é importante”, conta Mariana.

“Faço um paralelo entre a Claudina e o que a gente vive hoje em dia: como estamos muito cientes de nossos direitos, da estrutura racista em que vivemos em nosso país, é impossível ficar calada diante de tanta injustiça. Ao mesmo tempo, muitas vezes, isso acaba trazendo questões de nossa própria saúde mental e afetiva. A Claudina acaba trazendo essa reflexão sobre a luta e a manutenção da nossa saúde e da nossa integridade”, acrescenta.

Inspirado no norte-americano Charles Bukowski, A morte habita a noite tem como protagonista um escritor fracassado pela vida na qual passam três mulheres. Segundo Mariana, essas figuras femininas representam a caminhada para a decadência do personagem principal. A atriz, que no longa de Morotó vive Lígia, faz um paralelo com a derrota do homem contemporâneo diante da maturidade dos movimentos que questionam e derrubam o protagonismo masculino na história das sociedades. “É o fracasso do homem branco, hétero, contemporâneo. Três mulheres passam pela vida desse homem e a Lígia é a primeira, é o prólogo, a anunciação da derrota”, destaca Mariana.

Também é uma mulher decidida que ela interpreta na novela Quanto mais vida melhor. No papel de Joana, uma cirurgiã competente secretamente apaixonada pelo colega de trabalho vivido por Mateus Solano, ela enxerga uma exceção fruto de pequenas (e ainda mínimas) mudanças na situação dos atores negros na televisão. “Ainda são pouquíssimas as exceções; você tira por base quantas são as protagonistas negras. A partir do momento que você percebe que praticamente não existe protagonista retinta, isso responde à pergunta ‘está mudando?”, diz. “Estou aguardando o dia de pegar uma novela que tenha a metade, mas ainda fui legal, que tenha um terço dos diretores e atores pretos.”

Formada pela Faculdade Dulcina, a atriz de 40 anos deixou Brasília aos 22, em 2003, para realizar a oficina de atores da Globo. Na emissora, ela participou de novelas, especiais, filmes e séries, como Carcereiros, na qual apareceu em duas temporadas.

*Estagiário sob supervisão de José Carlos Vieira

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