Há muito tempo a artista portuguesa Fernanda Fragateiro se interessa por Lina Bo Bardi e, sobretudo, pela trajetória de mulheres artistas e arquitetas. Por isso a exposição Só é possível se formos 2, em cartaz a partir desta sexta-feira (29/10) na Galeria Camões, na Embaixada de Portugal, tem um sentido especial.
“Este trabalho vem na sequência do meu interesse em examinar a história de mulheres artistas, escritoras, designers, arquitetas que, é maioritariamente uma história de descriminação”, explica a artista. “Parece-me fundamental juntar as agendas política e artística no que toca a questões de igualdade de gênero. É por isso que muitas das minhas obras são feitas a partir de obras de outras mulheres que, de algum modo, sofreram um processo de maior ou menor apagamento ao longo do tempo.”
Fernanda já realizou várias obras inspiradas no trabalho de arquitetura e nos escritos de Lina.
A prática multifacetada da arquiteta que projetou o Masp, em São Paulo, fascina a portuguesa. Lina transitava em áreas que vão da arquitetura ao design, do ensino à curadoria, da pedagogia aos processos editoriais. “Cruza-se com os meus interesses e com a minha prática. Lina propôs também novos parâmetros para a prática da arquitetura, trazendo a beleza da imperfeição, a rudeza dos materiais e a cultura popular para o discurso da arquitetura, desmontando o marcado discurso masculino da arquitetura modernista”, garante Fernanda.
Para a exposição, ela criou obras que dialogam com produção de Lina. “O meu trabalho está muito ligado à relação entre texto, escultura e arquitetura”, avisa Fernanda, que tem como fontes de inspiração documentos e arquivos, usados para realizar uma espécie de arqueologia moderna com a qual pretende se aproximar do passado para dar origem a novos trabalhos. “Tenho um grande interesse em 'conversar' com o trabalho de outros artistas de modo a recolocá-los no tempo presente” avisa.
Com o título Só é Possível se formos 2, Fernanda quis fazer referência a uma obra criada em 2002 para a exposição Um oceano inteiro para nadar, coletiva realizada em Lisboa com 37 artistas brasileiros e portugueses. A mostra, pensada para lembrar os 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil, propunha uma reflexão conjunta sobre a produção visual contemporânea nos dois países e recusava o sentido de celebração da efeméride. “Essa exposição assinalou um primeiro, mas ainda tímido, esboço para a descolonização do pensamento no nosso meio artístico”, acredita Fernanda.
Só é Possível se Formos 2
De Fernanda Fragateiro. Visitação até 18 de fevereiro, na Galeria Camões (Embaixada de Portugal, SES, Quadra 801, Lote 2). A exposição está aberta para visitação exclusivamente mediante agendamento prévio nos dias e horários disponíveis.
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