Para celebrar os orixás
Quando idealizou Contos de axé, o escritor Marcelo Moutinho pensou em um livro que não fosse necessariamente para iniciados. Ele queria autores capazes de criar contos cuja temática girasse em torno das religiões de matrizes africanas. Escolheu 18 autores e pediu que criassem as ficções reunidas no livro. “A ideia foi ter uma diversidade de vozes do ponto de vista tanto de gênero quanto de raça e estilo literário”, avisa. “E minha ideia era que essa diversidade se estendesse à questão da iniciação.”
Moutinho não queria que todos os autores fossem iniciados nas religiões, mas que fossem capazes de criar em torno delas. Cada um escolheu um orixá como espécie de guia para a narrativa, cuja descrição didática antecede o texto. O resultado é muito diverso, com contos de diálogo mais direto com o mito ou com o próprio arquétipo, e outros em que os orixás serviram de ponto de partida para histórias passadas na contemporaneidade e sem referência muito explícita.
Contos de Axé — 18 histórias inspiradas nos arquétipos dos orixás
Organização: Marcelo Moutinho. Malê, 224 páginas. R$ 49,90
Encontros e desencontros
Sula e Nel eram amigas inseparáveis no meio oeste pobre americano, até que a primeira decide deixar a região em busca de oportunidades. Quando retorna à terra natal, é vista com desconfiança pela comunidade negra na qual cresceu, enquanto Nel se tornou uma liderança local.
Publicado em 1973, o romance de Toni Morrison reflete sobre raízes, identidade e o significado de comunidade em um país profundamente machucado pelo racismo. Liberdade sexual e econômica, conservadorismo versus progressismo, individualismo e coletividade são alguns dos temas tratados pela autora no romance.
Sula
De Toni Morrison. Tradução: Débora Landsberg. Companhia das Letras, 176 páginas. R$ 49,90
Violência contra a mulher
Juntar pedaços é um livro sobre violência contra a mulher. São 37 contos nos quais Miriam Alves constrói pequenas narrativas interligadas por uma temática comum. Uma das vozes mais antigas e importantes do movimento da literatura negra no país, com 40 anos de carreira, Miriam escolheu contar histórias de mulheres nesse pequeno livro que nasceu durante a pandemia e tomou corpo como forma de respiro após a autora concluir o romance Maréia.
Miriam trabalhou durante 30 anos no serviço social de dois hospitais públicos em São Paulo. Na pediatria, ela ouvia muitas histórias de mulheres vítimas de todo tipo de abuso. “E tinha várias histórias bem complicadas, sobretudo o impedimento de sair da relação abusiva. Isso me marcou muito. Estou há 15 anos aposentada do serviço social, mas tinha muitas vozes gritando dentro de mim”, conta.
A violência é a linha narrativa que costura todos os contos. “Quando monto um livro, faço questão de imprimir uma linha narrativa. Um livro só é absorvido pelo leitor quando existe essa linha narrativa. E a linha narrativa tem altos e baixos, de montanha russa, então nada que tem nesse livro é por acaso”, avisa. A identidade, a discriminação e o racismo também são elementos que unem todas a narrativas. Miriam lembra que há vários tipos de violência contra a mulher e é por essas nuances que ela transita nesta reunião de contos.
Juntar pedaços
De Miriam Alves. Malê, 112 páginas. R$ 42
Em busca da identidade
Vitória nasceu em Angola, é neta de colonos mestiços, cuja pele é escura demais para serem aceitos pelos brancos e clara demais para serem considerados iguais pelos negros. A menina foi entregue aos avós ainda bebê. A mãe se embrenhou na luta pela independência do país e desapareceu. A guerra veio e os avós carregaram Vitória para Portugal, onde cresceu certa de que, a essa altura, era órfã. Mas não se apaga assim uma identidade e, adulta, a personagem criada por Yara Nakahanda Monteiro parte para a África em busca da mãe.
Essa dama bate bué! é o primeiro romance da autora e narra uma trajetória que ela conhece bem. A própria Yara nasceu em Angola e cresceu em Portugal, para onde foi levada aos 2 anos.
Essa dama bate bué!
De Yara Nakahanda Monteiro. Todavia, 196 páginas. R$ 62
Mundo da edição
Depois de três anos trabalhando no mercado editorial, a escritora Zakiya Dalila Harris publicou um romance que explora o cenário extremamente competitivo e hierarquizado da publicação de livros nos Estados Unidos.
No livro, a personagem Nella Rogers é a única funcionária negra de uma editora. Contratada como assistente editorial, ela passa boa parte da vida profissional se sentindo deslocada até uma outra funcionária negra ser contratada e Nella se sentir em desvantagem. Para completar, ela passa a receber ameaças embutidas em pedidos para que deixe a empresa. "Boa parte de Nella veio de mim e de minhas experiências trabalhando no mundo da edição. Frequentemente fui a única garota negra sentada à mesa de trabalho", conta a autora. "E quando você é a única, é difícil não ter a sensação de que seus colegas de trabalho pensam que você representa as pessoas negras. Quando você não é a única, não é incomum imaginar se você não será constantemente comparada com outras pessoas negras do escritório. Eu queria olhar para todos esses sentimentos frustrantes a partir da perspectiva da Nella."
A outra garota negra
De Zakiya Dalila Harris. Tradução: Flávia Rössler e Maria Carmelita Dias. Intrínseca, 384 páginas. R$ 46,90
Mudança e diversidade
Escrito pela poeta Amanda Gorman, a mesma que recitou um poema durante a posse do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em janeiro, Canção da mudança é um livro infantil repleto de mensagens de esperança. Com ilustrações de Loren Long, a narrativa é protagonizada por uma menina negra que percorre as ruas de uma cidade a convidar crianças de diferentes origens e situações sociais para construir juntas espaços e pontes de diálogo. Meio ambiente, equidade de gênero e racial e tolerância são alguns dos temas abordados no livro
Canção da mudança
De Amanda Gorman. Tradução: Stephanie Borges. Intrínseca, 32 páginas. R$ 49,90