O quanto ficção e realidade se encontram no livro?
Eu dei a Nella minhas próprias experiências pessoais e características. Trabalhei no mundo da edição e era uma das poucas mulheres negras. Muitos personagens da Wagner Books são exagerados, mas eu realmente trouxe o ambiente — antiquado, peculiar e muito branco — da vida real para o livro. Também estou entendo a relação complicada de Nella com sua identidade negra. Frequentei uma escola básica predominantemente branca e cresci em uma vizinhança predominantemente branca, então, quando passei para o ensino fundamental e para o ensino médio em escolas com muito mais diversidade, experimentei um choque cultural. Às vezes eu era zombada pela maneira como falava ("como uma garota branca"). No entanto, enquanto Nella nunca teve um primeiro amigo verdadeiro negro até os 20 anos, eu tive a sorte de me enturmar em um maravilhoso grupo de amigos negros no meu primeiro ano do ensino superior. Outra diferença grande entre Nella e eu são nossas aspirações. Enquanto ela sonha em se tornar editora, meu maior sonho sempre foi escrever.
Como é a presença de pessoas negras no mercado editorial americano?
O mercado editorial tem sérias lacunas quanto à presença de pessoas de cor — especialmente negras. Quando eu estava no mercado, a maioria das pessoas negras com as quais eu estava em contato no trabalho eram guardas de segurança, recepcionistas ou o staff da correspondência. As pessoas que trabalhavam na área editorial eram, na maioria, brancas. Quando eu decidi sair da editora para terminar de escrever este livro, me senti culpada, como se estivesse desistindo de uma posição tão preciosa enquanto tantos outros lutam apenas para conseguir entrar. Eu sentia que tinha um senso de responsabilidade de tentar ajudar a fazer do escritório um lugar mais diverso. Mas o problema é que isso pode ser um peso e essa pressão pode levar você para todo tipo de coisa: burnout, virar um troféu, se sentir isolado. Isso é o que faz muitas pessoas negras quererem cair fora — elas não se sentem valorizadas. Eu acho que essa é uma das muitas razões pelas quais nós ainda somos sub-representados no mundo da edição e em outras indústrias corporativas similares.
E como isso reflete nas publicações?
Eu acredito que há mais livros publicados por autores negros do que negros trabalhando no mercado editorial. A contribuição artística dos negros tem, historicamente, sido mais aceita na cultura americana do que as próprias pessoas. Mas não é toda a cultua, porque, com frequência, se espera de escritores negros que escrevam um certo tipo de histórias, normalmente sobre lutas e racismo. Ter mais pessoas negras no mercado editorial diminui as chances de empregados negros se sentirem troféus ou isolados e poderia aumentar não apenas o número de autores negros publicados, mas também a diversidade entre as histórias publicadas.