Filme do Oscar?

Filme que pode representar Brasil no Oscar traz erotismo e desejo

Confira a crítica de Deserto particular, o longa de Aly Muritiba que expõe a fragilidade emocional de um policial

Ricardo Daehn
postado em 25/11/2021 09:21
Pedro Fasanaro em cena do longa Deserto particular, novo filme do diretor Aly Muritiba -  (crédito:  Pandora Filmes/Divulgação)
Pedro Fasanaro em cena do longa Deserto particular, novo filme do diretor Aly Muritiba - (crédito: Pandora Filmes/Divulgação)

Crítica // Deserto particular ###

Um beco amoroso

"Não tem mulher lá no Sul, não?" é a pergunta feita por Fernando (Thomas Aquino), ao tentar entender o deslocamento físico e a obsessão de Daniel (Antonio Saboia) pela mulher que o faz atravessar metade do Brasil, rumo ao Nordeste, em busca de aquietar um forte sentimento. Deserto particular, o pré-candidato nacional à seleção no Oscar 2022, chega aos cinemas brasileiros tratando de um encontro sentimental e de autoaceitação.

Um braço quebrado em Daniel — que o impede da plenitude dos movimentos — torna-se simbólico, num processo de libertação iniciado com uma jornada física e emocional. Homem não chora e pouco sente parecem conceitos atrelados ao cotidiano de Daniel, um policial em crise profissional, quando deixa Curitiba. A relação com Sara, sempre intermediada pelo universo virtual, tem preponderância na tentativa dele ver reorganizado um cotidiano violento que embaça sua felicidade.

Vivendo um pai calado (em decorrência de doença), o ator Lutero Almeida consegue trazer pistas do que sufoca Daniel: cheio de zelo na relação com o pai, o policial compartilha de valores rígidos e que norteiam, em parte, o contato dele com a irmã Deb (Cynthia Senek), um vetor para que Daniel expurgue preconceitos.

No roteiro do filme, desenvolvido por Henrique dos Santos e o diretor Aly (da série O caso Evandro), com o personagem Robson, o ator Pedro Fasanaro encontra espaço para discutir pertencimento e independência, ao encenar a rotina de um feirante dono do singelo sonho da felicidade. Junto com o coadjuvante Fernando, Robson terá vital na trama de Deserto Particular. Há uma premissa pouco convincente no filme, mas ela se ajusta (e ganha maior sentido), quando o espectador se dá conta da fragilidade momentânea de Daniel, que responde, na corporação, pelas consequências de um ato violento.

Como nos anteriores Ferrugem e Para minha amada morta (longas assinados Aly Muritiba), com Deserto particular, ele parece determinado a extirpar discriminações e salientar a importância da memória e do prazer de se compartilhar a vida. De quebra, ainda traz reconsiderações para assentadas raízes de fundo religioso.

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