Três perguntas / Taís Araújo

Às vésperas da celebração do Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro), ao Correio, Taís Araújo trata do espírito de luta que a fizeram popular, desde um dos pontos de virada da carreira, com Xica da Silva (novela de 1996 da extinta Rede Manchete).

Quais detalhes de Beti e do Pixinguinha aumentaram sua admiração por eles?

Não sabia que ela era uma artista e isso diz muito de uma época: uma mulher que abre mão de seu sonho para construir uma família. Mas é bonito também que eles tenham permanecido juntos por uma vida inteira. Minha admiração pelo Pixinguinha vem desse homem e da família dele (pai, mãe, irmãos). Ver tudo o que eles conseguiram construir, logo no pós-absolvição da escravatura. E num país como o Brasil! Acho que a pensão Vianna (no bairro do Catumbi, em que havia a animação com as rodas de música da família) é um acontecimento que a gente tem que pesquisar mais.

Protagonizar Xica da Silva mudou você como artista. Hoje, com a visão mais feminista da sociedade, acha que deveria ser revista a obra?

Acho que, hoje, a obra Xica da Silva tinha que ser revista, sim. E entender essa mulher como a mulher política que ela foi. Ela nunca foi tratada com esse viés. Ela teve atitudes políticas importantes. Sinto que ela foi sempre só sexualizada. Falta contar melhor a trajetória dela.

Às vésperas da celebração do Dia da Consciência Negra acredita em conquistas?

Estão vindo as conquistas. Na dramaturgia, acho que tem evolução, mas ainda precisa de muitas coisas. A gente vê muito mais personagens negros, humanizados, mas ainda faltam escritores e diretores negros, uma vez que percebo (a necessidade de) uma questão identitária.