Festival Transcendental

Um festival de cinema para desencorajar o desenfreado corre-corre

Sob curadoria de André Luiz Oliveira e Carina Bina, o Festival Internacional Cinema e Transcendência traz títulos de readequação do ser humano ao universo

Ricardo Daehn
postado em 01/12/2021 11:05
O filme 'Beatles na Índia' está no rol de atrações do Festival Cinema e Transcendência -  (crédito:  Reprodução)
O filme 'Beatles na Índia' está no rol de atrações do Festival Cinema e Transcendência - (crédito: Reprodução)

Com estrutura organizada há meio ano, desde a seleção de filmes, a legendagem dos títulos e demais arestas aparadas junto a patrocinadores, a oitava versão do Festival Internacional Cinema e Transcendência começa nesta quarta (1/12) e segue até 12 de dezembro, em esquema virtual, com acesso gratuito. "Não estamos exatamente isentos de qualquer tipo de risco. Fizemos o evento on-line, em respeito a pessoas ultracuidadosas consigo e com os outros", explica o cineasta André Luiz Oliveira, curador do festival ao lado de Carina Bini. No papel de espectador, André Luiz entra em parafuso, diante da programação monumental de festivais gigantes. Por isso — envolvido pelos temas que dominam o Cinema e Transcendência (livres de amarras comerciais, e fixados em espiritualidade, despretensão e meio ambiente) —, André Luiz apostou em 11 filmes (com acesso, diário, até 23h59) diferenciados, escolhidos a dedo e que propiciam reflexões".

Samadhi Road, em que os irmãos Hey, Daniel e Julio, traçam plano de autoconhecimento, ao lado de sumidades espirituais, culturais e de filósofos, dá a largada nas projeções, às 21h. Antes, às 20h, o show Dharmachakra (que perpetua o conceito da vida como roda viva), alinha a porção multiinstrumentista André Luiz (que toca sitar, bansuri e dilruba), com os parceiros dele no grupo Gharana Eletroacústica (Wilton Rossi e Zepedro Gollo). "Na música indiana, tudo é melódico. Enquanto a raga marca a escala da música, trazendo o mais profundo sentimento, a vibração do dhrupad, que alinha voz e instrumentos, se junta aos drones, uma 'cama' para que a raga se manifeste", explica o músico e cineasta.

A música também está no pano de fundo de Meeting the Beatles in India (2020), longa que terá duas exibições no evento realizado pelo Centro Cultural Banco do Brasil. "O diretor Paul Saltzman registrou o bonito e incrível retiro dos Beatles no ashram, o centro espiritual de ensinamentos e meditação, de Maharishi Mahesh Yogi (morto em 2008). John, Paul, George e Ringo bateram na Índia, reclusos para a criação do chamado "álbum Branco dos Beatles". Com o filme, nos sentimos muito próximo a eles, que viriam a trazer um frescor e redefinir o que era antigo do que era novo", observa André Luiz Oliveira.

Também a partir de "um documentário bem humorado sobre o repente", como define o curador, o público poderá acessar o longa Nordeste: cordel, repente, canção (1975), que expõe fatia da obra de Tânia Quaresma, homenageada nesta oitava edição do festival. Outro trabalho de Tânia, o curta Nísia —
Mulher à frente de seu tempo, se concentra na figura de Nísia da Floresta, feminista nascida no começo do século 19. Conheci Tânia nos anos de 1970, e desde então veio a admiração muito grande. Foi uma artista que soube buscar um verdadeiro caminho. Tivemos contato posterior num seishin (uma reclusão, para imersão espiritual), e, anos depois, a Tânia, ligada ao budismo, foi ordenada monja", comenta o curador André Luiz.

O festival encontra figuras inspiradoras no exterior, alinhadas ao conteúdo da revelação de interioridade, de assuntos de vida e morte e ainda defesa de liberdade de criação que quebre padrões de sistemas preestabelecidos. Entre exemplos estão Alejandro Jodorowsky (que tomou parte do evento em 2020) e David Lynch (presente em Meeting the Beatles). Este ano, um dos destaques está em dupla de vencedores do Prêmio Nobel da Paz, lado a lado, no longa Encontrando felicidade em tempos conturbados.

"Trazemos conteúdos que mexem com as pessoas, como no caso do filme dos pesticidas introduzidos na indústria de alimentos", conta André Luiz, ao mencionar As sementes de Vandana Shiva. Dirigido por James e Camilla Beckett, o longa trata do resguardo de sementes ancestrais, de eco-ativismo e do cultivo de alimentos orgânicos. Debater rearranjos na sociedade, introduzir visões mais informais em temas densos, rever tópicos com potencial de revolução, difundir preceitos antropológicos, e debater poluição e temas amplos de saúde, como a prática do yoga, são temas que perpassam o Festival Internacional Cinema e Transcendência.

Festival Internacional Cinema e Transcendência

Até 12 de dezembro. Acesso gratuito aos filmes pela internet (www.festivalcinemaetranscendencia.com)

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