Música

Batuque do Amapá

Juliana Oliveira
postado em 24/12/2021 00:01
Enrico Di Miceli e Joãozinho Gomes: músicos do Amapá -  (crédito: Luan Cardoso)
Enrico Di Miceli e Joãozinho Gomes: músicos do Amapá - (crédito: Luan Cardoso)

Mais do que abrigo para os negros que conseguiam fugir das fazendas do Brasil escravagista, os quilombos se tornaram verdadeiros polos de resistência para cultura e saberes dos povos africanos. No Amapá, um dos estados com maior presença afro-brasileira, é na música e nas festas populares que essa potência fincou raízes, uma riqueza ainda desconhecida do mercado fonográfico pop do país. Aos poucos, artistas amapaenses trabalham para conseguir visibilidade e apresentar o suingue e a força do batuque desenvolvido em comunidades quilombolas da região.

Joãozinho Gomes, 64 anos, poeta e músico radicado no Amapá, é uma das vozes que tem projetado a cultura local. Em parceria com a cantora Patrícia Bastos e o violinista e compositor Enrico Di Miceli — tradicionais artistas locais — eles acabam de lançar o álbum Timbres e tambores.

Em 10 faixas, é possível conhecer a percussão limpa e cadenciada influenciada diretamente pelo marabaixo — manifestação cultural do estado — e dos ritmos caribenhos propriamente incorporados na Amazônia brasileira. "Esse trabalho fala da nossa cultura em vários segmentos, fala da nossa culinária, ritmos (batuque e marabaixo), fala das nossas ribeiras, dos encantamentos amazônicos do Amapá, do sincretismo religioso e nossa raiz afro, porque somos um dos estados mais africanos do Brasil. Ele tem o som das nossas festas", explica Joãozinho Gomes.

Em Timbres e tambores, Dante Ozzetti, um dos grandes produtores e arranjadores da música popular brasileira, participa com o firme propósito de corrigir a injustiça musical que é a falta de visibilidade à sonoridade do Amapá. "Talvez, seja o local com maior prevalência da cultura afro na Amazônia, com comunidades quilombolas importantes, como as Curiaú e do Mazagão, que desenvolveram uma cultura única do batuque, além da influência da Guiana Francesa, com o bushi nengue, o zouk, além dos ritmos indígenas e caribenhos", analisa.

Herança musical

Adelson Preto, cantor, compositor, percussionista e quilombola cresceu na comunidade do Curiaú e fala da participação de músicos das comunidades na cena cultural do estado. "Nós vivemos marabaixo e batuque desde o nascimento. Como eu já morei na cidade, cheguei a tocar e compor para alguns artistas, até que, com apoio, comecei a construir a identidade do meu trabalho e foi assim que nasceu o grupo Afro Brasil, com membros da comunidade", diz.

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