Música

The Weeknd assume casamento com o pop em 'Dawn FM'; Confira a crítica

The Weeknd lançou 'Dawn FM' nesta sexta (7/1). Álbum conta com a participação de Jim Carrey e Tyler, The Creator.

Pedro Almeida*
postado em 07/01/2022 15:20 / atualizado em 07/01/2022 15:26
 (crédito: Reprodução/YouTube/The Weeknd )
(crédito: Reprodução/YouTube/The Weeknd )

Abel Tesfaye, o The Weeknd, acaba de lançar o quinto álbum de estúdio, Dawn FM. Com 16 faixas, o álbum chegou às plataformas nessa sexta-feira (7/1). O artista assume o romance com Michael Jackson, Prince e a música disco e pop dos anos 1980. Abel entrega uma obra-prima que continua legado do antecessor After Hours

Dawn FM abre com a faixa homônima em tom épico. Em uma cama de sintetizadores de sons etéreos somados ao grave característico do artista, The Weeknd canta sobre a solidão. Com seriedade e peso, se questiona se “depois da luz há somente escuridão”. O clima tenso se dissolve em um arpejo final, quase que celestial. Um locutor se revela. O ouvinte descobre que está, na verdade, diante de um programa de rádio. Ninguém menos que Jim Carrey apresenta a fictícia Dawn FM, na frequência 103.5. “Você ficou tempo demais na escuridão. É hora de vir para a luz”, avisa Jim. Tanto para os ouvintes insones que ouvem o fantasioso programa à espera do amanhecer (Dawn em inglês), quanto para a humanidade, que esteve reclusa em função da pandemia, é hora de acordar.

Além da amizade entre Abel e o ator, a escolha de Jim Carrey parece ser calculada. As declarações niilistas que o ator tem dado nas aparições públicas trazem à persona dele um ar calmo e apocalíptico. Após o convite para a luz ser proposto, o locutor tranquiliza o ouvinte e afirma que não há pressa. Enquanto o despertar não chega, “escute a uma hora de música comercial na 103.5 FM”, provoca o narrador. Abel parece dizer que entendeu o absurdo da vida, mas que dançar ao som das baladas com versos sobre temas mundanos pode ser uma ótima distração.

The Weeknd se sente em casa no novo álbum. Os ritmos e instrumentações oitentistas, assim em After Hours, estão presentes. O artista está à vontade no pop nostálgico que concebeu e quer passear mais um tempo por ele. Gasoline e How do I make you love me soam como velhas conhecidas para os fãs do artista. Já ouvida pelo público, Take my breath vem para emular o sucesso da grandiosa Blinding Lights, e o faz com maestria.

O interlúdio A tale by Quincy traz o gigante da indústria musical Quincy Jones, não na posição de lendário produtor e empresário, mas em um relato profundamente humano. Jones fala sobre o impacto da ausência da mãe, que sofria de transtornos mentais e teve de ser internada quando ele ainda era criança, nas relações amorosas que teve na vida adulta.

A partir daqui, a obra desacelera a velocidade, mas mantém a qualidade. Depois de tanto relatar frustrações amorosas e corações partidos, The Weeknd tira um tempo para refletir sobre si mesmo em Out of time. A maduridade do artista, que aparece grisalho na capa, como se já tivesse vivido uma vida inteira nos 31 anos completos, dá sinais. “Nos últimos meses, eu tenho trabalhado em mim (…) Existe muito trauma na minha vida”. Tesfaye conclui o que Quincy Jones avisou: o autoconhecimento é o único caminho para manutenção de relacionamentos amorosos saudáveis.

A faixa em parceria com Tyler, The Creator, Here we go… again fica aquém do trabalho. O tom genérico torna a canção, que tinha muito potencial, esquecível.

O bloco Best friends, Is there someone else e Starry eyes faz um aceno a trabalhos antigos do cantor. A primeira poderia estar presente no álbum Starboy, assim como a última se encaixaria com facilidade em My dear melancholy.

Na reta final, o interlúdio Every angel is terrifying é a peça publicitária de intervalo. O produto em questão é a vida após a morte, vendida como um espetáculo cinematográfico técnica e visualmente incrível. Sucesso de crítica, o objeto de desejo pode ser adquirido com uma assinatura mensal para os que querem passar pela experiência inesquecível. A faixa ironiza o sistema de vendas atual, mas aprofunda o tema da passagem da escuridão para a luz, da noite para o dia.

O artista assume de vez o pop em Less than zero. A canção é uma clássica balada. O último refrão, somente em voz e violão, é o testemunho de que, se The Weeknd foi considerado em algum momento rapper, ele já não se lembra mais.

Por fim, Jim Carrey finaliza a transmissão em Phantom regret by Jim. A narração perde a conotação radiofônica e ganha ar de declamação. O narrador fala sobre arrependimentos, perdão e fazer as pazes com a vida para seguir para a luz. “Você precisa ser o paraíso para ver o paraíso”. The Weeknd viu o pop e, enfim, tornou-se o pop nessa obra-prima que abre o ano de 2022. É hora de acordar.

*Estagiário sob supervisão de Nahima Maciel

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