Estreia

Cacau Protásio e Rafael Portugal vivem casal em 'Juntos e enrolados'

Novas atrações nos cinemas servem a público diverso: 'Juntos e enrolados' aposta no filão das gargalhadas incontidas, enquanto o sombrio Benedetta requer tolerância, mesmo dos mais escolados

Ricardo Daehn
postado em 13/01/2022 06:00
Rafael Portugal está em uma das estreias da semana -  (crédito: Jorge Bispo/Divulgação )
Rafael Portugal está em uma das estreias da semana - (crédito: Jorge Bispo/Divulgação )

Conhecido pelo trabalho na série Alucinadas, Rodrigo Van der Put também se projetou, como diretor da produtora Porta dos Fundos — e, em particular, com o especial Se beber, não ceie; polêmico, em 2018, ao cutucar questões religiosas. Na nova investida, ao lado do codiretor Eduardo Vaisman (lembrado pelo infantil Detetives do prédio azul), Van der Put traz a comédia Juntos e enrolados, estrelada pela dupla Cacau Protásio e Rafael Portugal. Numa nova circunstância, prestes a se casarem, os personagens Júlio e Daiana parecem muito influenciados pelo que um deles ouve de um terceiro personagem: "a vida (de vocês) acabou".

As incertezas da badalada festa de união contribuem para o estremecimento da relação do casal. Nas instalações de um clube, Júlio e Daiana se conhecem em situação peculiar: sem saber nadar, Júlio ganha o irônico apelido de Perereca, pouco antes de ser salvo pela quase futura esposa. Ao som da autoral My love you, o romance engata, num roteiro que alinha a escrita de Sabrina Garcia (Um tio quase perfeito), Rodrigo Goulart (do futuro Vovó Ninja) e de Claudio Torres Gonzaga (colaborador, entre outros, em A Escolinha do Professor Raimundo).

Hilário

Sob bênçãos do eclético Mestre Shan, papel do hilário Leandro Ramos (visto em Choque de cultura), o casal começa a idealizar o caro momento recreativo de celebrarem (no mesmo clube do primeiro encontro) o juntar de trapos. O preço da festa assusta tanto quanto o nível de detalhes a serem estudados: da escolha das cores das latas no carro dos recém-casados até as decisões da sogra (Fafy Siqueira) enxertada nos festejos, e que pretende usar a festa para a autopromoção como artista plástica. Tudo vai relativamente bem, até que Mestre Shan sacramenta: "(Deus), quando vê que deu ruim, separa". É a senha para o desandar da festa, quando é dada a partida real para a comédia.

Com toda sorte (e azar) de convidados, entre os quais a avó interpretada por Berta Loran (e que leva o marido de inusitado modo para a festa), Juntos e enrolados traz a chamada Tchutchuca (uma ex do protagonista interpretada por Emanuelle Araújo) em momentos decisivos da trama. Na amalucada festa que parece não ter fim, e abraça até mesmo o prematuro desejo de divórcio dos pombinhos, os destaques se espalham no elenco que inclui Evelyn Castro (no papel da cerimonialista Suzie), Fábio de Luca (na pele do amigo gay do noivo, Carlos Mário) e Marcos Pasquim, que personifica o acalorado bombeiro Marcondes. Ah! — a festa pega fogo quando despontam comentários sobre "o Tinder bombando" e ainda com a amalucada ideia de jogar Eu Nunca, em pleno matrimônio.

Duas perguntas / Rafael Portugal

É possível ser original em meio a muita cartilha do que pode ou não render graça em cinema?

No filme claramente tem um roteiro maravilhoso com história de início, meio e fim, mas nós vamos dando nosso jeito de fazer. Então, se improvisa muito, se coloca muita coisa e isso deixa divertido, engraçado. É legal quando um ator surpreende o outro com coisas que não esperava. A gente consegue segurar, mas, às vezes, a gente desmonta. E é isso que deixa vivo o filme. O longa tem um elenco incrível, maravilhoso, desde a nova geração até o pessoal mais antigo, como Tony Tornado, Neusa Borges. Esse filme, além de ser meu primeiro papel como protagonista, é um presentão para mim. As pessoas são naturalmente engraçadas.

Qual o recado maior do teu personagem no filme? Como é ser acochado por uma comediante mulher, na trama?

A gente faz as inversões dos clichês na comédia. Estamos fazendo isso sem precisar mostrar que estamos fazendo porque é algo super natural no dia a dia. É uma coisa que não se vê muito na dramaturgia e que bom que a gente trouxe isso! Tem o exemplo da Fafy Siqueira também, que mostra que ela foi oprimida e quis se libertar. É uma comédia, e as pessoas se identificam como família, e vão quebrando os estigmas.

Crítica / Benedetta ***

A sombra da dúvida

Hoje em dia com pouco mais de 17 mil habitantes, a pequena Pescia, na Itália (Toscana), no século 17, foi epicentro de agigantado escândalo no meio religioso. Madre superiora, no mais recente e forte longa-metragem do holandês Paul Verhoeven, a personagem Felicita requisitava uma intérprete da estatura de Chalotte Rampling. É ela quem praticamente planta um mal no seio do convento, e ainda puxa o fio da meada, ao tentar soterrar terrível situação que foge ao seu controle. Felicita administra com requintes capitalistas e doses de ironia o habitat das freiras que ficarão em polvorosa com as atitudes e os milagres atribuídos a Benedetta (Virginie Efira).

Vinda da família Carlini, e com trajetória descrita em livro de Judith C. Brown (que deu base ao roteiro do filme), Benedetta se considera das mais perfeitas "noivas de Jesus". Crescente adepta de uma libertação sexual, entretanto, ela, ao mesmo tempo em que apresenta às colegas de celibato incontestáveis marcas de estigma, supostamente associadas à fé, deixa fluir os prazeres da carne junto à iniciada Bartolomea (Daphné Patakia). O "doce Jesus", segundo defende Benedetta, alimentaria suas controversas necessidades. Com roteiro de Verhoeven, em parceria com David Birke (o mesmo do feminista Elle), Benedetta devassa pontos instintivos do que seja carnal.

Longe dos acordes serenos e altivos da sonoridade de Hildegard von Bingen (freira alemã dada às artes, e compositora sacra), Benedetta traz uma estrondosa força política para o discurso de uma trama que transcorre em meio a transmissões escalonadas do segundo ciclo da peste (pela Europa). Há um momento em que a devota Benedetta, já consagrada abadessa, consegue impedir até mesmo o acesso de pessoas à cidade, justificando um necessário freio na peste.

Exemplos assustadores dos instrumentos de intimidação da Igreja Católica também marcam o perturbador filme de Verhoeven que não poupa o público das imagens de profanação de objetos sacros. Em época de tantos julgamentos virtuais, impressiona a capacidade dos castigos, na trama em que o ator Lambert Wilson abraça o papel de um núncio que, entre outros feitos, absorverá um impactante golpe chamado de "beijo da morte". Bem forte o filme de Verhoeven (diretor de Instinto selvagem, Robocop e Vingador do futuro).

Quem iria dizer

A aguardada pré-estreia do longa Eduardo & Mônica virá em 76 sessões, a partir de hoje, na capital que nutriu as mentes criativas de Renato Russo (autor da letra da música em que o filme se baseia) e do diretor René Sampaio (foto), nascido em Brasília. O filme estrelado por Alice Braga e Gabriel Leone poderá ser visto em sessões distribuídas nas salas dos complexos Cultura Liberty, Cinemark, Espaço Itaú e Kinoplex, além de estar no Cine Brasília, no Drive-In e numa sala da Ceilândia. O épico candango conta do encontro entre o estudante Eduardo e a descolada Mônica. Oficialmente, a estreia se dará em 20 de janeiro.

Pânico

De Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett.

Com Melissa Barrera, Kyle Gallner, Courteney Cox, David Arquette e Neve Campbell. Um quarto de século se passou, desde uma série de crimes brutais chocar a cidade de Woodsboro. Agora, um novo maníaco se apropria da máscara de Ghostface. Ele centra fogo na misteriosa perseguição a
um grupo de adolescentes.

 

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