Família musical

Hamilton de Holanda lança disco ao lado de sobrinho e do filho

O bandolinista Hamilton de Holanda lança o álbum Maxixe samba groove, com a participação do filho, Gabriel, e do sobrinho Bento, filho do violonista Fernando César

Hamilton de Holanda, já há algum tempo, é um dos músicos brasileiros de maior evidência na cena nacional e internacional. Com produção incessante, nem mesmo a pandemia serviu de obstáculo. O bandolinista, compositor e arranjador, que iniciou sua trajetória artística em Brasília, lançou na primeira quinzena deste mês o álbum Maxixe samba groove. Logo em seguida, seguiu para a Europa onde cumpriu nova turnê — entre a França, Itália e Espanha.

A maioria das oito músicas do repertório do novo disco foi composta durante a longa quarentena. Luz de vida, uma das oito faixas, é a única que não tem assinatura de Hamilton. O tema foi composto pelo filho Gabriel Holanda (que também toca bandolim) e pelo sobrinho e contrabaixista Bento Tibúrcio, filho do violonista Fernando César. Ambos também participaram da gravação.

"Já há algum tempo venho tocando com meu pai. Quando ele ia gravar o novo disco, quis que eu participasse. Aí, sugeri que o Bento Tibúrcio, meu primo, também tomasse parte", conta Gabriel Holanda. "Em cima de uma harmonia criada por meu pai, eu e o Bento compusemos Luz de vida,. Ficamos felizes com a nossa estreia como compositores", acrescenta.

Nas outras outras faixas, Hamilton foi acompanhado por talentosos instrumentistas, que têm tocado com estrelas da MPB, como Caetano Veloso, Milton Nascimento, Ivan Lins, Djavan, Zeca Pagodinho, Marisa Monte, Simone e Mart´nália. São eles: André Vasconcellos (baixo), Antônio Neves (bateria) e André Siqueira (percussão).

Nas gravações, Hamilton utilizou vários bandolins. Um deles, de 10 cordas, foi construído pelo bombeiro e luthier Davi Lopes, utilizando madeiras de mais de 200 anos, salvas do incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Foram usados, ainda, outros seis bandolins: dois de Tércio Ribeiro e os de Pedro Santos, Rozini HH e Elifas Santana; além do que foi cedido pelo Instituto Jacob do Bandolim, que leva o nome do mestre do instrumento.

Quem também marca presença em Maxixe samba groove é a flautista e cantora indiana Varijashree Venugopal, cuja voz é ouvida em Choro fado, a faixa de abertura, gravada em Bangalore, na Índia. Já o saxofonista norte-americano Chris Potterm, ícone do jazz moderno, a quem Hamilton conheceu num festival em Miami, faz um solo em Afro choro, com gravação em Nova York. Além das músicas já citadas, o disco traz Bruzinho, Em nome da esperança, Ritmo e união e Tá nascendo flor no asfalto; e o tema que dá título ao trabalho.

 Na gravação e mixagem deste projeto, foi utilizado o estúdio do também brasiliense — radicado no Rio de Janeiro — Daniel Musy, parceiro de Hamilton de Holanda desde o primeiro disco solo, de 2002. Já a masterização ficou a cargo de André Dias, responsável igualmente por esta parte nos CDs Casa de Bituca, Baile do Almedinha e da série Caprichos. A capa do álbum foi idealizada por Enio Souza, tomando como referência uma imagem de Pang Way, fotógrafo da Malásia, especialista em vida selvagem — especialmente de insetos. O louva-a-deus retratado, segundo Hamilton, tem como referência o sentimento comum nos momentos de dificuldade: esperança.

Maxixe samba groove teve a coordenação de Marcos Portinari, produtor e empresário do bandolinista desde 2005. Os dois estiveram lado a lado em premiados projetos, entre os quais Bossa negra, Canto de Praya, Mundo de Pixinguinha e Samba de Chico.

Hamilton de Holanda iniciou a carreira aos seis anos de idade, formando com o irmão e violonista Fernando César o Dois de Ouro, nome dado pelo percussionista Pernambuco do Pandeiro, depois de ouvi-los tocar no Clube do Choro de Brasília. Em 1982, o Brasil tomou conhecimento do talento precoce dos dois instrumentistas numa apresentação no programa Fantástico, de TV Globo.

Por iniciativa do bandolinista, o Congresso Nacional aprovou o projeto que criou em 23 de abril de 2000 o Dia Nacional do Choro, No mesmo ano, ele reinventou o bandolim tradicional, adicionando um par de cordas graves extras, afinadas em dó. O aumento no número de cordas, combinado com os solos rápidos, contrapontos e improvisações, inspira a nova geração a tocar o instrumento.

Desde meados da década de 2000, Hamilton tem levado seu som para os mais diversos continentes, nos quais se apresenta ao lado dos mais importantes músicos de jazz e de outros gêneros musicais. Ativo nas redes sociais, possui mais de 600 mil ouvintes mensais, que fazem contato com sua vasta discografia.


Maxixe samba groove

Álbum de Hamilton de Holanda e convidados com oito faixas. Disponível nas plataformas digitais.

Entrevista / Hamilton de Holanda

Maxixe samba groove, título do álbum, pode ser visto como a síntese desse projeto?

O maxixe e o samba mostram de onde vem minha música. Já o groove abre caminho para outras referências/influências, como o jazz. O disco abre espaço para outros ritmos, como o hip hop instrumental e o choro, minha língua materna, que é uma consequência do maxixe, irmão do samba. Então o título remete às ideias da concepção do disco.

As músicas foram concebidas durante a quarentena, determinada pela pandemia, ou compostas mais recentemente?

A maioria foi feita no auge da pandemia, em 2020, um ano bissexto, quando fiz 366 músicas, uma por dia. Tá nascendo flor no asfalto, Afro choro, Choro fado e Ritmo e união são dessa leva. Já Maxixe samba groove foi composta perto da gravação do disco.

Qual foi a sensação de gravar com o Gabriel Holanda, seu filho?

Foi uma experiência emocionante. Redescobri o que tenho de melhor dentro de mim. Além do Gabriel, o Bento, meu sobrinho, filho do Fernando César, tomou parte do projeto, compondo e gravando com o primo. É a continuação do Dois de Ouro e da música na família, o legado do meu pai, do meu tio e do meu avô.

O Gabriel já vinha tocando com você?

Venho tocando com o Gabriel desde que ele passou a se interessar pela música. Como também gosta de jogar futebol e tem os estudos, deixo ele bem à vontade em relação ao tempo. Durante a pandemia, o Gabi e o Bento participaram comigo de aulas on-line de improvisação. Cada um no seu canto. Acredito que isso resultou na Luz de vida, música que compuseram juntos, a partir de uma harmonia que criei.

Como tem sido a nova turnê pela Europa?

Estou fazendo uma série de shows com o pianista flamenco Chano Dominguez, que toca jazz e é apaixonado pela música popular brasileira; assim, sou apaixonado pela música flamenca. Um dos momentos mais aplaudidos do show é quando tocamos um medley com Santa Morena, de Jacob do Bandolim e Anda jaleo, música tradicional espanhola. Tocamos também clássicos de Tom Jobim e composições autorais.

Onde vocês se apresentaram?

Começamos a turnê por Paris e depois fomos para a Itália, onde nos apresentamos em Bolonha, Catania, Palermo, Veneza e Ferrara. Em todos os lugares fomos assistidos por grandes plateias. Em Veneza, muita gente ficou de fora, pois o teatro estava superlotado. Depois fomos para a Espanha, onde nos apresentamos em San Sebastian e Pamplona.

Além do novo álbum e da turnê europeia, o que tem na sua agenda para os próximos meses?

Em abril volto à Europa para nova turnê, acompanhado por Salomão Soares (piano elétrico) e Big Rabelo (bateria) e participação de Roberta Sá. O show, com músicas de Tom Jobim, é o mesmo que já fiz em Brasília no segundo semestre de 2021. Há ainda o show de divulgação do álbum Harmonize (já lançado), que farei em Belo Horizonte, São Paulo e possivelmente em Brasília, com a participação da indiana e Variashree Venugopal. Em junho me junto a João Bosco em novas apresentações.