Música

Reinvenção: Lô Borges lança álbum e celebra 50 anos do Clube da Esquina

Lô Borges apresenta Chama viva, o quarto disco de estúdio em quatro anos, na mesma época em que comemora o aniversário de 50 anos do Clube da esquina e do álbum de estreia

Pedro Ibarra
postado em 01/05/2022 06:00
 (crédito: Deckdisc/Reprodução)
(crédito: Deckdisc/Reprodução)

São 70 anos de idade e 50 de carreira e cantando. Lô Borges continua em atividade e lançando músicas inéditas. O cantor lança o álbum Chama viva, o quarto em quatro anos e mostra que ainda pode se reinventar a cada trabalho, com uma sonoridade completamente diferente da anterior e uma vontade criativa ainda muito intensa.

O disco de 10 faixas é o terceiro que ele produz durante a pandemia e teve a ignição da ideia em meio ao processo de pré-mixagem do trabalho anterior, intitulado Muito além do fim. "O processo de criação dele foi uma coisa absolutamente inédita e inusitada para mim", afirma Lô Borges que escreveu 7 canções em 7 dias na folga do outro álbum. "O meu processo foi um profundo mergulho de sete dias que me deixou até cansado. É incomum na minha trajetória compor tantas músicas em tão pouco tempo", lembra.

Enquanto o músico vivia o fluxo criativo da composição, ele passava as músicas para a parceira de trabalho Patrícia Maês, que escrevia as letras. Juntos, eles fizeram um álbum que soa progressivo e que destoa muito do trabalho anterior. "Era uma sonoridade diferente do que eu estava trabalhando na época. Eu estava tocando uma música de guitarrada, bateria forte e muita pulsação. Quando compus essas músicas parecia um descanso de toda adrenalina que eu estava fazendo naquele momento", conta o artista.

O frenesi na composição é ainda maior se considerado o retrospecto recente. Lô Borges lançou quatro discos em quatro anos, pois ele gosta de expor para o mundo o que está trabalhando e pensando. "Eu não gosto de ficar guardando música em casa, alguns compositores que eu conheço afirmam que têm baús com canções. Eu não tenho nenhum baú em casa, tenho um infinito de canções na minha cabeça", explica. "Nesses últimos anos, não fiquei 15 dias sem ir ao estúdio registrar uma música nova", complementa.

"Eu adoro show, público e plateias, mas eu me realizo mesmo quando estou em casa compondo. É a coisa mais importante para mim", expõe Lô que crê na longevidade do trabalho gravado. "No palco, o show dura uma hora e meia e termina ali. Um álbum quando lançado, daqui há 200 anos, as pessoas ainda podem estar ouvindo, aquilo dura para eternidade", reflete.

História

Lô Borges acredita na longevidade da música, porque está vendo o próprio trabalho ser cada vez mais prestigiado com o passar do tempo. Os dois primeiros discos que gravou na carreira, Clube da esquina e Lô Borges, fazem 50 anos em 2022 e continuam entre os mais cultuados da história da música brasileira.

"Quando o Clube da esquina fez 40 anos tiveram celebrações e entrevistas e uma pessoa me perguntou se eu imaginava o que eu estaria fazendo em 10 anos e respondi que achava que ia estar compondo música inédita e, com certeza, estaria falando dos 50 anos do Clube da esquina. E aqui estou", recorda. O Clube da esquina é relevante internacionalmente e marca a estreia de Borges como músico, em uma coautoria com Milton Nascimento. "É um álbum que até hoje tem um frescor. Ele foi feito de um jeito em que ninguém queria se dar bem, ou vender milhões de cópias, ou fazer o próximo sucesso do verão. Não havia ambição pequena, nós queríamos fazer arte", rememora o músico.

A felicidade pela comemoração do álbum se mistura a gratidão que sente pelo parceiro Milton. "Tenho de agradecer a ele por ter apostado em mim desde sempre. Ele me levou para gravar o álbum Clube da esquina quando eu tinha só 18 anos", afirma o artista. "Ele teve que brigar com a gravadora para me colocar como coautor do disco. Ele era o famoso Milton Nascimento querendo dividir o álbum com o desconhecido e inexperiente Lô Borges", conta da época. "Eu brinco com ele sempre, falo: 'Bituca [nome pelo qual os amigos próximos chamam Milton Nascimento], de 5 em 5 anos no mínimo, eu tenho que agradecer a você por ter apostado em mim e dividido o Clube da esquina comigo'. A gratidão que eu tenho por esse cara é eterna", completa.

O cantor entende que está na história da música brasileira. "É atemporal mesmo, foi um momento cósmico, as pessoas certas, no lugar certo e na hora certa. Foi a conjunção de grandes talentos, compositores, letristas, arranjadores, músicos e artistas", pontua. Ele agora quer trazer a magia de volta em uma série de shows, mostrando os novos trabalhos e exaltando as músicas que fez na época, canções atemporais como Trem azul, Girassol da cor do seu cabelo e Tudo o que você podia ser. "Vou botar o bloco na rua, trazer de volta para o palco os músicos, os técnicos e os demais servidores", afirma.

Para um futuro mais distante, Lô Borges só relembra da própria resposta dada há uma década. "Acho que se daqui há 10 anos, se deus me der vida até lá e espero que dê, estarei compondo e celebrando os 60 anos do Clube da esquina", projeta.

Chama Viva

De Lô Borges. Deck discos. Dez faixas. Disponível em todas as plataformas
digitais

 

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