Estou com saudades do Brasil e dos grandes brasileiros. Queria entender o fundamento de algumas ações políticas. Enquanto as nossas florestas e seus guardiões, os povos indígenas, são ameaçados, altas Excelências da República estão preocupadas com a lisura do sistema eleitoral eletrônico, reconhecido internacionalmente e sem nunca ter sido flagrado em qualquer irregularidade.
Não sei por que me lembrei do marechal Rondon, um dos patronos do Exército Brasileiro. "Morrer, se preciso for. Matar, nunca." O lema é impressionante porque partiu de um marechal. Em princípio, os marechais são treinados para a guerra. Mas as batalhas de Cândido Rondon eram em favor do respeito aos direitos dos índios, da preservação das florestas, do progresso para o interior do país, da civilidade e do humanismo.
O lema é ainda mais impactante porque não era apenas uma frase de efeito. Passou pelo teste da realidade. Em uma das incontáveis expedições, Rondon foi atingido por uma flechada dos índios nhambikwara e proibiu a seus soldados que revidassem. Em outra, um soldado morreu. Rondon foi duramente questionado pelos militares, mas não cedeu.
Darcy Ribeiro dizia que ele era o maior de todos os brasileiros. De fato, destacou-se em múltiplas frentes: explorador dos trópicos, pacifista, ambientalista, antropólogo e indigenista. Empreendeu expedições que o alçaram à condição de um dos maiores exploradores da história, acima dos célebres Sir Richard Francis Burton, Ernest Shackleton e David Livingstone.
O marechal criou o Serviço de Proteção ao Índio, que se desdobraria na Funai. Batalhou pela criação de leis que amparassem os índios da violência de fazendeiros, madeireiros e seringueiros. Distinguiu-se, sobretudo, pela atuação de pacifista, a ponto de ser cogitado três vezes para o Prêmio Nobel da Paz — uma delas por indicação de Albert Einstein.
No excelente Rondon, uma biografia (Ed. Objetiva), com instinto de repórter, o jornalista norte-americano Larry Rohter descobriu carta de Einstein com trechos em que ele faz a indicação. "Tomo a liberdade de chamar a atenção de vossas senhorias para as atividades do general Rondon do Rio de Janeiro, uma vez que, durante minha visita ao Brasil, fiquei com a impressão de que esse homem é altamente merecedor de receber o Prêmio Nobel da Paz."
Rondon é atualíssimo em tempos de desmatamento desenfreado, ataques covardes aos índios, barbárie, desproteção, sandice e mentira institucionalizada. É uma figura inspiradora para os militares. Precisamos, dramaticamente, de brasileiros que nos engrandeçam, que nos ajudem a dar passos de civilização. Esse, sim, eu chamaria de verdadeiro patriota.
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