Cinema

Novo 'Top Gun' testa fôlego dos espectadores e faz citações ao original

Em meio à altitude e atitudes firmes, um elitizado grupo treinado pelo personagem de Tom Cruise, em "Top Gun: Maverick", testa o fôlego dos espectadores em filme dinâmico e cheio de citações

Ricardo Daehn
postado em 26/05/2022 06:00 / atualizado em 26/05/2022 10:27
 (crédito:  Paramount Pictures)
(crédito: Paramount Pictures)

Numa outra era do cinema — num céu de brigadeiro para Tom Cruise, antes, e bem antes de sucessos como Minorty Report e das franquias Jack Reacher e Missão: Impossível —, o filme Top Gun: Ases indomáveis (1986) cravou o marco absoluto de bilheteria para o astro e que paira até hoje, numa esfera de renda de US$ 357 milhões, em escala mundial. Noutros tempos, desde 2018, US$ 152 milhões foram injetados em Top Gun: Maverick, que chega, finalmente, nas telas, depois de travado pelos efeitos da pandemia. Com ar cool, e algo abatido, mas com a petulância sob medida do protagonista, o piloto de caça Pete "Maverick" Mitchell, Cruise encabeça Top Gun: Maverick, no qual o inimigo tem forma definida: uma usina ilegal de urânio.

No material de divulgação do filme sob o selo da Paramount Pictures, Tom Cruise exalta a "grandiosidade e beleza em pilotar um caça". Se coloca as mãos na icônica jaqueta de couro, no estiloso ray-ban e no guidão da invejável Kawasaki, não há dúvidas de que Maverick vai se meter entre a esquadrilha de caças, e pilotar os F-18 que enlouquecem o corpo de alunos do programa de Táticas de Caças de Combate da Marinha (popularmente batizado Top Gun). Na californiana estação Miramar, na qual teve aprendizados há 33 anos, Cruise regressou para um curso de sobrevivência e ainda ajustou as apostilas de ensinamentos repassados aos colegas do elenco, tornado instrutor dos atores.

"O novo filme é sobre família, amizade e sacrifícios. É ainda sobre redenção e sobre o preço dos erros", avalia Cruise, novamente unido aos lendários produtores Don Simpson e Jerry Bruckenheimer. Vale a lembrança de que o roteiro do longa original partiu de um artigo assinado pelo israelense Ehud Yonay, valorizado pela capacidade imersiva da leitura do texto publicado numa revista de 1983. O mote do filme atual, que tem direção de Joseph Kosinski (dos futuristas Tron: o legado e Oblivion), passou pelo trato de Ehren Kruger (O chamado), Eric Warren Singer (Trapaça) e Cristopher McQuarrie (Missão: Impossível — Efeito Fallout).

Rispidez, sem direito a debate, e uma hierarquia exagerada cercam o experiente Maverick. Veterano de combates na Bósnia e no Iraque, ele é informado de  possível cortes nas verbas de um projeto ligado a supersônicos que ele encabeça. Cheio de medalhas e menções especiais, Maverick segue sem promoções, mas vislumbra se ajustar. Porém é alertado de que "o futuro está vindo" e que o fim "é inevitável". O almirante Ciclone (Jon Hamm) é quem dá sobrevida a Maverick. Tornado "o ser humano mais veloz do mundo", Maverick é destacado para lecionar para um grupo de brat pack (pirralhos) que, de certa forma, já forma a elite da Marinha, num recurso que faz entrever o nostálgico filme oitentista do britânico Tony Scott estrelado por Anthony Edwards, Tom Skerritt, Tim Robbins e Val Kilmer, outrora visto como o rival Iceman (que retorna à telona). O interesse romântico de Maverick, vale a menção, não é mais a instrutora Charlotte (Kelly McGillis, afastada do projeto).

Reavivando a carga de descontração das cenas que traziam as cantorias de Great balls of fire e ainda You´ve lost that lovin´ feelin´ (do primeiro filme), a jovem senhora atrás do balcão de bar, Penny (Jennifer Connelly), é quem atrai o protagonista que, inesperadamente, volta a vestir o branco uniforme de gala. Em certa medida, quem ensaia um retorno é Goose — mas, a partir do rebento tenente Bradley "Rooster" Bradshaw (Miles Teller). Na missão de liderança, Maverick assume missão que determina vida e morte entre novos, afoitos, e por vezes, insubordinados e provocadores, pilotos. No grupo, destacam-se os atores Glen Powell (Hangman), Monica Barbaro (Phoenix) e Lewis Pullman, na pele do nerd Bob.

À frente de um forte campo minado armado pelos inimigos, a falta de tempo se prova a maior adversidade dos jovens que padecem para encampar o espírito de equipe. O novo longa parece abraçar o mesmo potencial para estímulo de alistamento detectado no exitoso filme de 1986. A ação desenfreada, doses de competição e sombras dos efeitos de mortes reaparecem, na mesma medida. A engenharia técnica que despontou na edição do Oscar de 1987, quando o filme venceu estatueta de canção original (por Take my breath away), e ainda se viu candidato à melhor edição, som e edição de efeitos sonoros, se repete agora: a excelente direção de fotografia de Jeffrey L. Kimball (do original) tem parelha na obra de Claudio Miranda (o mesmo de As aventuras de Pi)

Divisor de águas

"Sempre quis me envolver em grandes histórias e entreter o mundo. Foi meu propósito", ressaltou Tom Cruise, no material promocional. O sucesso está impresso na nova aventura. Para além das irretocáveis e envolventes cenas de combate aéreo, o filme explora bem as dívidas e os medos no exame de consciência de Maverick. Os testes de tolerância dos organismos sujeitos à resistência e às forças da física, no ar, também impressionam. O compositor Hans Zimmer faz a diferença no projeto em muito baseado nos propósitos de a equipe aérea atingir o alvo, entre rasantes quase mortais. Calibrado de emoção, atitudes paternais de um personagem (a princípio) solitário e ainda por revival sonoro (ecoa Danger zone, com Kenny Loggins), o novo Top Gun, apesar de uma fajuta música defendida por Lady Gaga, consegue divertir, com toques de heroísmo e superação (por vezes, piegas), numa missão plenamente "realizada".

  • Jon Hamm tem papel decisivo na trama do novo filme Paramount Pictures
  • Paramount Pictures
  • Miles Teller interpreta o tenente Bradley "Rooster" Bradshaw: elemento vivo do sombrio passado de Maverick Paramount Pictures
  • A união deveria fazer a força entre os alunos da escola dos pilotos de caça Fotos: Paramount Pictures

O olhar dos fãs

 Tainan
Tainan (foto: Arquivo Pessoal)

Top Gun é um clássico dos anos 1980 e acredito que, como tal, todo mundo deveria ver pelo menos uma vez. A trilha sonora é uma das melhores que o cinema já produziu e espero que a continuação mantenha esse nível. Estou ansioso para assistir esse lançamento, gostei do trailer e li boas resenhas, principalmente sobre a atuação do Tom Cruise, e é perceptível como o tempo e a experiência ajudaram no desenvolvimento do personagem.

Tainan Soares Rodrigues, consultor financeiro, 30 anos

Alexya
Alexya (foto: Arquivo Pessoal)

Não gosto do primeiro filme (Top Gun- Ases indomáveis), mas o segundo me surpreendeu muito. Melhorou em todos os aspectos, entregou ação e drama de qualidade, não é previsível, a trilha sonora é incrível, o preparo dos atores e da produção fica evidente a cada cena. É um filme que conversa com todos os públicos porque aborda situações que todos conseguem se identificar, além de ser um entretenimento que você quer ver e rever várias vezes. Recomendo demais.

Alexya Lemos, estudante, 19 anos 

Colaborou Giovanna dos Santos

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