liberdade escrita

Autora da novela 'Amor de mãe', Manuela Dias lança o primeiro livro

Manuela Dias, autora de sucessos na televisão, como 'Justiça' e 'Amor de mãe', se debruça sobre a literatura com 'Tilikum', primeiro livro da carreira

*Andrea Malcher
postado em 13/06/2022 06:00 / atualizado em 13/06/2022 06:12
 (crédito:  Jorge Bispo/Divulgação)
(crédito: Jorge Bispo/Divulgação)

Com uma consagrada carreira na televisão e no cinema, a dramaturga Manuela Dias, autora da telenovela Amor de mãe e da minissérie Justiça, adentra o universo literário com Tilikum, livro inspirado na baleia, de mesmo nome, que se apresentava no parque aquático Sea World e, após 30 anos em cativeiro, matou três pessoas, incluindo dois dos treinadores. Ao Correio, a escritora explicou as origens da obra e como a mágica narrativa do “manuelaverso” acontece.

“Como tudo que eu escrevo, tenho um compromisso com o que eu acredito, com a minha identificação, digamos assim. Isso tem a ver com transformar o mundo de alguma forma. E eu acho que transformar o mundo é uma coisa bem do dia a dia, é uma coisa pequena”, comenta Manuela.

O livro começou a tomar forma quando Manuela assistiu ao documentário Black fish, que conta a história de baleias mantidas em cativeiro para o entretenimento. As crueldades que animais aquáticos sofrem em “atrações” provocaram questionamentos que viriam a compor a narrativa de um homem diferente, capturado aos dois anos, treinado para apresentações.

“Quando eu vi o filme pensei: ‘imagina se essa baleia pudesse falar’. O que ela diria para a gente? ‘Olha o que vocês estão fazendo comigo. Eu estou pirando aqui dentro, vocês não têm o direito de fazer isso.’ E aí antes que eu percebesse essa baleia virou uma pessoa e o livro é sobre esse cara totalmente pirado”, explica. “Acho que o livro nasce de tudo isso: dessa vontade de que a gente se repense. Eu mesma já levei minha filha para ver um show de animais grandes em cativeiro e sem consciência. Consciência é uma parada muito plástica, sempre em construção.”

A narrativa que provoca reflexão não é novidade no trabalho da autora. Com títulos como A floresta que se move, Love film festival, Ligações perigosas, Justiça e Amor de mãe, ela se solidificou como uma narradora do íntimo cotidiano. “Para mim, minha dramaturgia tem um protagonista diluído, porque eu acho que a gente precisa restituir as pessoas do seu volume humano.”

Pouco interessada na história com mocinha definida, “princesas” como ela mesma define, o interesse é de construir personagens que sejam normais, mesmo que nessa busca se perceba a estranheza contida no ordinário.

“Acho que as pessoas curtem uma novela que não é mais o conto da princesa. Mas é o conto da ama, e isso dá uma dimensão para todas as amas sociais, para todas as mães que não sejam só a rainha da Inglaterra, que não são só as mulheres incríveis. A minha dramaturgia é muito voltada para pessoas normais, claro que não existe ninguém normal. Mas é isso que no final das contas você descobre: que ninguém é normal e ninguém está num dia normal, a gente está sempre num dia intenso, cheio de problema, num dia maluco”, avalia.

'Tilikum', primeiro livro da dramaturga Manuela Dias
'Tilikum', primeiro livro da dramaturga Manuela Dias (foto: Material de divulgação)

Manuela não possui um método-chave para produzir. Em Justiça, por exemplo, foram empregadas fichas para acompanhar o desenrolar das múltiplas narrativas entrelaçadas. Segundo Dias, em Justiça 2, que ela está atualmente roteirizando e revelou exclusivamente o retorno de um casal da primeira temporada, essa técnica já não é usada.

“A ideia vem e faz parte de cada trabalho eu descobrir o método que vai dar certo naquele. No Ligações perigosas foi um trabalho intenso de idas e vindas, então eu não tenho um método. Mas eu acho, arriscaria dizer, com medo de parecer pedante, que eu sou cardíaca”, pondera.

A escrita “manuelana” tem um ritmo próprio, um beat, mas que se revela um desafio uma vez que não há uma fórmula para cada texto. “Na prática, eu sou muito controladora, na novela Amor de mãe, eu escrevi 99% dos diálogos, em Justiça eu escrevo 100%, então é muito exaustivo. Mas é maravilhoso, eu amo meu trabalho.”

Tendo passeado pelo roteiro televisivo, cinematográfico, teatral e agora literário, Manuela não enxerga diferença no processo de escrita, mas entende que cada gênero textual guarda possibilidades específicas.

“É tipo as regras do jogo. O formato é o que vem ali junto com o tabuleiro, só o que importa é o dado. O que importa é a hora que você lança o dado, é quando vai acontecer alguma coisa crível ou não. Você inventa quais são os critérios de uma boa jogada”, compara. “É claro que eu acho que algumas histórias, por exemplo, a ficção, o livro, dá um lugar para dentro da cabeça. Abre um acesso. A dramaturgia audiovisual, mesmo a dramaturgia de cena, de teatro, não são meios propícios para tipos de história que se passa dentro da cabeça.”

Tilikum entra no corpo de trabalho de Manuela Dias como um grito por liberdade, uma auto análise do conceito e do desejo de ser livre, mas também é um manifesto de alteridade. Como o próprio livro conclui: o que a gente faz com os outros, também faz a gente.

 *Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

Serviço

Tilikum, Manuela Dias, Editora Melhoramentos, 144 páginas, R$ 49,90

Com uma consagrada carreira na televisão e no cinema, a dramaturga Manuela Dias, autora da telenovela Amor de mãe e da minissérie Justiça, adentra o universo literário com Tilikum, livro inspirado na baleia, de mesmo nome, que se apresentava no parque aquático Sea World e, após 30 anos em cativeiro, matou três pessoas, incluindo dois dos treinadores. Ao Correio, a escritora explicou as origens da obra e como a mágica narrativa do “manuelaverso” acontece.

“Como tudo que eu escrevo, tenho um compromisso com o que eu acredito, com a minha identificação, digamos assim. Isso tem a ver com transformar o mundo de alguma forma. E eu acho que transformar o mundo é uma coisa bem do dia a dia, é uma coisa pequena”, comenta Manuela.

O livro começou a tomar forma quando Manuela assistiu ao documentário Black fish, que conta a história de baleias mantidas em cativeiro para o entretenimento. As crueldades que animais aquáticos sofrem em “atrações” provocaram questionamentos que viriam a compor a narrativa de um homem diferente, capturado aos dois anos, treinado para apresentações.

“Quando eu vi o filme pensei: ‘imagina se essa baleia pudesse falar’. O que ela diria para a gente? ‘Olha o que vocês estão fazendo comigo. Eu estou pirando aqui dentro, vocês não têm o direito de fazer isso.’ E aí antes que eu percebesse essa baleia virou uma pessoa e o livro é sobre esse cara totalmente pirado”, explica. “Acho que o livro nasce de tudo isso: dessa vontade de que a gente se repense. Eu mesma já levei minha filha para ver um show de animais grandes em cativeiro e sem consciência. Consciência é uma parada muito plástica, sempre em construção.”

A narrativa que provoca reflexão não é novidade no trabalho da autora. Com títulos como A floresta que se move, Love film festival, Ligações perigosas, Justiça e Amor de mãe, ela se solidificou como uma narradora do íntimo cotidiano. “Para mim, minha dramaturgia tem um protagonista diluído, porque eu acho que a gente precisa restituir as pessoas do seu volume humano.”

Pouco interessada na história com mocinha definida, “princesas” como ela mesma define, o interesse é de construir personagens que sejam normais, mesmo que nessa busca se perceba a estranheza contida no ordinário.

“Acho que as pessoas curtem uma novela que não é mais o conto da princesa. Mas é o conto da ama, e isso dá uma dimensão para todas as amas sociais, para todas as mães que não sejam só a rainha da Inglaterra, que não são só as mulheres incríveis. A minha dramaturgia é muito voltada para pessoas normais, claro que não existe ninguém normal. Mas é isso que no final das contas você descobre: que ninguém é normal e ninguém está num dia normal, a gente está sempre num dia intenso, cheio de problema, num dia maluco”, avalia.

Manuela não possui um método-chave para produzir. Em Justiça, por exemplo, foram empregadas fichas para acompanhar o desenrolar das múltiplas narrativas entrelaçadas. Segundo Dias, em Justiça 2, que ela está atualmente roteirizando e revelou exclusivamente o retorno de um casal da primeira temporada, essa técnica já não é usada.

“A ideia vem e faz parte de cada trabalho eu descobrir o método que vai dar certo naquele. No Ligações perigosas foi um trabalho intenso de idas e vindas, então eu não tenho um método. Mas eu acho, arriscaria dizer, com medo de parecer pedante, que eu sou cardíaca”, pondera.

A escrita “manuelana” tem um ritmo próprio, um beat, mas que se revela um desafio uma vez que não há uma fórmula para cada texto. “Na prática, eu sou muito controladora, na novela Amor de mãe, eu escrevi 99% dos diálogos, em Justiça eu escrevo 100%, então é muito exaustivo. Mas é maravilhoso, eu amo meu trabalho.”

Tendo passeado pelo roteiro televisivo, cinematográfico, teatral e agora literário, Manuela não enxerga diferença no processo de escrita, mas entende que cada gênero textual guarda possibilidades específicas.

“É tipo as regras do jogo. O formato é o que vem ali junto com o tabuleiro, só o que importa é o dado. O que importa é a hora que você lança o dado, é quando vai acontecer alguma coisa crível ou não. Você inventa quais são os critérios de uma boa jogada”, compara. “É claro que eu acho que algumas histórias, por exemplo, a ficção, o livro, dá um lugar para dentro da cabeça. Abre um acesso. A dramaturgia audiovisual, mesmo a dramaturgia de cena, de teatro, não são meios propícios para tipos de história que se passa dentro da cabeça.”

Tilikum entra no corpo de trabalho de Manuela Dias como um grito por liberdade, uma auto análise do conceito e do desejo de ser livre, mas também é um manifesto de alteridade. Como o próprio livro conclui: o que a gente faz com os outros, também faz a gente.



*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco





Serviço



Tilikum, Manuela Dias, Editora Melhoramentos, 144 páginas, R$ 49,90

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