ALÉM DAS TELAS

Música agridoce: Alexandre Nero fala sobre produção do novo álbum musical

Conhecido pela atuação em novelas, o artista fala sobre o processo dramático de produção do álbum, que tem parceria com Aldir Blanc e participações de Milton Nascimento e Elza Soares

Pedro Ibarra
postado em 20/06/2022 06:00 / atualizado em 20/06/2022 06:36
 (crédito: Priscila Prade/Divulgação)
(crédito: Priscila Prade/Divulgação)

A arte é a maior forma de expressão de Alexandre Nero, não importa se é atuando ou fazendo música. Nesta ânsia de trabalhar os sentimentos de forma produtiva, o ator e músico lançou o álbum "Quartos, suítes, alguns cômodos, outros nem tanto", fruto de um trabalho extenso, iniciado em 2018.

O disco de 11 faixas foi apresentado ao público em abril. O álbum traz uma arrojada e rebuscada percepção de Nero sobre os assuntos que atravessaram a vida do ator durante esses mais de quatro anos de produção.

"Foi o processo mais longo, doloroso e difícil da minha vida profissional", afirma. Ele conta que a semente da ideia surgiu em 2018 e toda trajetória caminhou desde a época até 2022, passando por tempos difíceis, como a pandemia. "Foi muito cansativo, muito estressante, uma angústia. Diversas vezes pensei em desistir. Eu acho que tudo isso está lá no disco", complementa.

Alexandre Nero usou a música como uma forma de expressar tudo que sentia ao redor. A dor do processo não era apenas da complexidade de produzir um disco, mas todo o contexto em que estava inserido. Um exemplo são duas das parcerias que ele fez no caminho, que não puderam ver o trabalho final. Aldir Blanc assina junto de Alexandre a canção Virulência, a primeira do álbum, e Elza Soares canta um trecho de Miseráveis.

Além da presença no álbum, Blanc foi um parceiro com quem o cantor dividia o projeto. "Depois da morte dele, me senti muito sozinho, sem saber muito com quem dividir". Elza Soares foi convidada apenas como intérprete, em uma canção que conversava com as pautas sociais que ela costumava cantar. "Eu acho que é muito mais a minha homenagem a eles. Eu agradeço a eles a oportunidade de poder estar aqui para prestar essa homenagem muito merecida", comenta.

Milton Nascimento é outro nome ilustre presente no disco. O cantor mineiro empresta a voz para música Em guerra de cegos. "Ter esses três nomes no meu álbum me deixa sem palavras para explicar o sentimento, estou nas nuvens", diz o artista. "Uma boa frase para que talvez explique o que estou sentindo é do Milton e do Márcio Borges: 'Sonhos não envelhecem'", acrescenta. "Fico brincando com os meus amigos que posso me aposentar agora", completa.

Não foram apenas músicos que inspiraram o trabalho presente no disco, a poesia é muito viva nas referências do artista. "Eu sou filhote de Paulo Leminski, então a poesia está em mim desde muito moleque", conta Alexandre Nero, que ainda adiciona a importância dessas referências para forma como ele cria. "Eu sou fascinado pela arquitetura das palavras. Uso-as como brinquedos de montar", diz o cantor, que abusa de aliterações no novo disco.

Crítica

As presenças de peso se somam a uma musicalidade sofisticada e letras líricas e poéticas. O conjunto é Quartos, suítes, alguns cômodos, outros nem tanto, um disco que, apesar de doloroso, mostra Alexandre Nero na essência como músico, mas como artista e pessoa. Ele fala sobre o que a acredita e critica de forma contundente os rumos do Brasil desde 2018.

"É um abismo político, é um abismo não só político. Acho que é um abismo moral. O Brasil começou a tomar um rumo como sociedade que é assustador. Falta uma postura humana com as pessoas", analisa o músico. "Então,  acho que é inevitável falar sobre esse caminho. Eu como um artista preciso falar do meu tempo", acrescenta.

A pandemia também se tornou tópico, Virulência, a música escrita com Blanc, faz uma metáfora sobre o período, por exemplo. "Nunca pensei em fazer um disco para falar alguma coisa sobre isso. Porém, foi inevitável. Eu falo do meu redor. No disco, eu falo do meu filho, de solidão, de depressão. A gente passou por uma pandemia, não tinha como não tocar nesse assunto", explica. "A gente passa por uma treva muito escura. Faço essas críticas como forma de refletir os caminhos do nosso tempo. Esse é meu papel como artista", reflete.

 


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  • Este é o quarto álbum de 
Alexandre Nero
    Este é o quarto álbum de Alexandre Nero Foto: Priscila Prade/Divulgação
  • Capa do disco Quartos, suítes, alguns cômodos, outros nem tanto
    Capa do disco Quartos, suítes, alguns cômodos, outros nem tanto Foto: Risco/Divulgação
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