Obituário

Morre uma lenda do cinema francês: Jean-Louis Trintignant

Aos 91 anos, afetado por persistente câncer, Trintignant morreu cercado por familiares. Para as novas gerações, será lembrado pela performance em Amour (2013)

Foi em 1987, descrente da profissão, que o ator Jean-Louis Trintignant, anunciou a precoce aposentadoria, sem nunca antever a futura extensão de sua importância para a sétima arte. Até 2013, o francês, morto nesta sexta (17/6), aos 91 anos, em decorrência de câncer, que afetou a velhice dele, teve uma expressão exemplar, quando, dirigido por Michael Haneke, despontou, ao lado da veterana Emmanuelle Riva, em Amour, numa espécie de canto de cisne. Monstro do teatro, ele somou a participação em mais de 150 obras de ficção. Um dos últimos momentos de brilho veio com Os melhores anos de uma vida, há três anos. Foi o capítulo final da parceria com o diretor Claude Lelouch e a atriz Anouk Aimée, com quem dividiu a tela, desde Um homem, uma mulher (1966).

Ator de filmes de gênios como Jacques Audiard, Ettore Scola, Eric Rohmer, René Clément e Claude Chabrol, Trintignant ficou mundialmente famoso, ao lado de Brigitte Bardot, em E Deus criou a mulher, comandado por Roger Vadim, em 1956. Formado pela Academia de Arte Dramática (Paris), ele teve quatro indicações ao prêmio César (e venceu em outra ocasião, por Amour, que lhe rendeu ainda o European Film Awards). Poucos atores com expressão internacional tiveram a visibilidade de Trintignant: além de ter trabalhado com diretores como Bernardo Bertolucci (em O conformista, de 1970) e Krystof Kieslowski (A fraternidade é vermelha, de 1994), ele venceu, pelo conjunto da obra o prêmio italiano David di Donatello e obteve, pelo seminal Z, de Costa-Gavras, o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes. Entre os intérpretes com quem contracenou estiveram Vittorio Gassman, Chales Aznavour, Romy Schneider e Catherine Deneuve.

Pelo avançado da idade, e entre entes queridos, Tringtignant morreu "serenamente", segundo registrado no comunicado enviado para a imprensa. Ele deixou viúva Marianne Hoepfner, a terceira esposa do ator que teve por companheira Stéphane Audran e Nadine Trintignant. Na vida pessoal, o ator se divertiu como piloto de automóveis, até os anos de 1980. Vencedor do prêmio de melhor ator no Festival de Berlim, por L´homme qui ment (1968), o ator teve um passado prejudicado, à época da adolescência, quando, passou meses abrigado em uma gruta, a fim de escapar das tropas invasoras alemães, durante a Segunda Guerra.