Mestre da guitarrada

Manoel Cordeiro é a atração desta semana no Clube do Choro

De volta a Brasília, onde já esteve três vezes, o guitarrista é a atração de hoje, às 20h30, do projeto que comemora 60 anos do choro na capital

"Oh glória!" Esse é o bordão que o músico, compositor, arranjador e produtor paraense Manoel Cordeiro utiliza a cada conquista. A expressão foi ouvida por quem estava ao lado dele, quando o mestre da guitarra se livrou da covid, depois de 45 dias de internação num hospital em Belém, em janeiro de 2021.

A exclamação poderia ser usada igualmente por todo aquele que tem acesso ao trabalho desse talentoso artista de 65 anos. Ele é tido como o criador da guitarrada, um novo gênero musical que funde elementos dos brasileiríssimos choro e carimbó com os de ritmos caribenhos como merengue, cúmbia e bolero.

Criterioso, Cordeiro prefere atribuir a criação da "guitarrada de raiz" a Aldo Sena, Mestre Curica e Mestre Vieira. "O que fiz foi adaptá-la a uma sonoridade contemporânea, respeitando o conceito que havia sido proposto por eles. Juntos, fomos responsáveis pelo surgimento desse novo gênero musical, originário de Belém".

De volta a Brasília, onde já esteve três vezes, o guitarrista é a atração de hoje, às 20h30, do projeto que comemora 60 anos do choro na capital. Ele vai tocar temas dos seus dois primeiros discos e do terceiro, intitulado Manoel Cordeiro — Levadas de festa, que chega às plataformas digitais na próxima sexta-feira, pelo selo Sesc SP.

Manoel  será acompanhado pelo grupo brasiliense Passo Largo, formado por Marcus Moraes (guitarra), Vavá Afiouni (baixo) e Thiago Cunha (bateria). "Para nós, é uma honra estar lado a lado no palco com este grande músico brasileiro, por quem temos muita admiração", destaca Moraes. "Conhecemos o trabalho do mestre Manoel Cordeiro por meio de disco. Certa vez assistimos a uma apresentação dele num festival do qual também participamos nas Ilhas Canárias, na Espanha", acrescenta.

Manoel Cordeiro, ao vivo no Clube do Choro

Show do guitarrista e compositor paraense, acompanhado pelo grupo brasiliense Passo Largo, hoje, às 20h30, no Espaço Cultural do Choro (Eixo Monumental). Ingresso na Bilheteria Digital. Informações: 99956-7369. Amanhã, o show será apresentado no Centro Cultural Banco do Brasil (Setor de Clubes Sul), às 20h30, com entrada franca.


Entrevista, Manoel Cordeiro

Quando e como teve início a sua vitoriosa trajetória musical?

Sou marajoara. Nasci em belém, mas fui ainda criança com a família para Macapá. Aprendi a tocar o instrumento com meu pai Raimundo, Seu Mundinho, que tocava em em baile. Aos 15 anos eu já estava ao lado dele em conjuntos como Embalo 7 e Os Inimitáveis. Aos 18 anos voltei para Belém e passei a formar na banda de Eli Farias, com a qual participei de uma gravação do cantor Pinduca. Foi o primeiro disco de carimbó com instrumentação elétrica. Antes era à base de pau e corda, o chamado carimbó nativo.

O que vem a ser a guitarrada?

É uma música que começou a partir da percepção do músico ao ouvir chorinho, carimbó, bolero, merengue, tocados no rádio, na região ribeirinha e na periferia de Belém. Aldo Sena, os mestres Curica e Vieira as reproduziram de forma eletrificada, a partir de 1976. Eu, como produtor de estúdio, participei do movimento, ao torná-la contemporânea, utilizando os recursos das modernas aparelhagens.

Tem ideia de em quantos discos sua guitarra é ouvida?

Calculo que participei, só em Belém, de uns 800 discos. Fafá de Belém, Beto Barbosa, Trio Los Angeles, Grupo Carrapicho e Márcia Ferreira, cantora aí de Brasília, estão entre os muitos artistas mais conhecidos com quem gravei, além, é, claro do meu filho Felipe Cordeiro, que tem brilhado bastante.

Poderia falar sobre seus discos solo?

Lancei dois e agora em 1º de julho lanço o terceiro. O primeiro, Manoel Cordeiro e a sonora Amazônia, é de 2015. Ele traz lambada, merengue, bachata e zook, gêneros populares no Norte e no Nordeste. O segundo, Manoel Cordeiro — Guitar Hero do Brasil saiu em 2018; enquanto o terceiro, Manoel Cordeiro — Levadas de festa, gravei em 2021, tendo como convidados grandes músicos da nova geração, Kassim, Pupillo e Marlon Sette.O lançamento é pelo selo Sesc SP.

Tem algo seu em vídeo?

Várias coisas. Em 2016 tomei parte no filme Pequeno segredo,do cineasta David Shurman, indicado para o Oscar em 2016. Na trilha sonora tem uma música minha intitulada Asfalto amarelo. No mesmo ano participei de outros três filmes. Um é o Sotaque elétrico — A maneira brasileira de tocar guitarra, dos diretores Caio Jobim e Pablo Ferancischeli. Estou ao lado de Armandinho Macedo, Davi Moraes, Fernando Catatau, Pio Loato e Felipe Cordeiro. O outro é o Piano que conversa, dirigido por Moacir Machado. Já o terceiro, de 2017, é o Amazônia Groove, de Marco André, que foi produzido pela Urca Filmes.

Destaca algo na área da produção?

Em 2016 produzi um disco do Mestre Pinduca, o rei do carimbó, que tem como título No embalo do carimbó. Essa produção concorreu ao Grammy 2017.

Morando já há algum tempo em São Paulo, tem ido pouco a Belém?

Jamais vou deixar minha origem, minhas raízes. Sempre volto a Belém e a Macapá, até porque sempre tem algum projeto para desenvolver nas duas cidades, além dos shows.

Como se sente, vindo tocar em Brasília?

Brasília me acolheu com carinho e admiração, desde a primeira vez que toquei ai. Agora vou realizar um grande sonho, que é o de me apresentar no famoso Clube do Choro da capital do país. Espero contar com a Márcia Ferreira no show.

 

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