O teatro ocupa a cidade

Festival Cena Contemporânea apresenta espetáculos com a releitura de João Cabral e o debate sobre a morte dirigido para as crianças

Pedro Ibarra
postado em 01/07/2022 00:01

Um dos principais festivais de teatro de Brasília e do Brasil, o Cena Contemporânea começou na última terça-feira e já ocupou múltiplos espaços do DF. Nos preparativos para o primeiro fim de semana, o evento guarda atrações relevantes para todas as idades e gostos durante o período que assume os cartaz das principais salas dos teatros de Brasília.

Com encerramento marcado para o dia 10 de julho, esta é a 23ª edição e marca o retorno do Cena para o calor do presencial. O festival passou dois anos sendo realizado no formato on-line e agora é o momento do reencontro com o público que se interessa pelos mais variados temas e das mais diversas regiões do DF.

Teatro Galpão Hugo Rodas e na Sala Multiuso do Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul, Teatro Garagem, Teatro da ADUnB, Teatro Oficina do Perdiz, Espaço Multicultural Casa dos Quatro, Teatro Paulo Autran SESC Taguatinga, Complexo Cultural de Planaltina e Galpão Instrumento de Ver (Vila Planalto) receberão apresentações nestes pouco mais de 15 dias de evento. Os temas passam pelo social e chegam ao universal, de Diáspora africana a amor, passando por gênero, sexualidade, clima, mas também por vida e morte.

Uma das atrações que tem apresentação marcada para hoje utiliza da metalinguagem com Brasília para ser universal como o Cena pede. Se eu falo é porque você está aí, espetáculo do grupo Teatro do Concreto, viaja pelo tempo da capital. Volta a 1993, lembra da montagem do encenador Mangueira Diniz da peça Dias felizes, de Samuel Beckett. A partir desse resgate, passeia por grandes momentos da cidade e do teatro local. Eles ficam em cartaz até domingo no Teatro Oficina Perdiz.

"A repetição é um dos motores do teatro e da história, os acontecimentos se repetem, mas nunca do mesmo jeito e, por isso, reviver esses momentos é também garantir que eles não desapareçam, ao mesmo tempo que estamos os reinventando e projetando futuros que a gente ainda não conhece", reflete João Turchi, que dirige as atrizes Gleide Firmino e Micheli Santini, além dos performers convidados, por fazerem parte destes momentos históricos de Brasília, Ana Rozita Pessoa, Dill Diaz, Lucinaide Pinheiro, Jeferson Alves e Raquel Fonseca. "Depois de 29 anos vou retornar ao Lago Paranoá para falar da montagem de Dias felizes, do Mangueira, reviver isso ontem no ensaio foi emocionante", conta Lucinaide.

Sábado e domingo, no Sesc Garagem, será possível acompanhar uma experiência para toda família com a peça A caminhada dos elefantes, da companhia portuguesa Formiga Atômica, a única dirigida especialmente às crianças. Fruto de um grande estudo, o espetáculo propõe um diálogo sobre a morte e o luto. Com sombras, brinquedos e um fio condutor de uma história real, o grupo conta a história de  um grupo de elefantes que deu o último adeus a uma amigo humano. "A morte foi nosso ponto de partida. Queríamos criar um espetáculo que fosse um diálogo entre adultos e crianças sobre a questão", conta o ator e encenador Miguel Fragata. "A morte é um tema que, de fato, estará sempre presente nas nossas vidas. E esteve ainda mais com a pandemia e com a guerra na Ucrânia. A discussão sobre a morte e o medo da morte estão muito em voga na nossa realidade", acrescenta.

Pela primeira vez no Brasil e na América do Sul, a companhia espera criar um espaço de partilha com o público sobre o tema. "A força de estar ali, no lugar com o público, de estar em comunicação direta, ultrapassa qualquer tecnologia ou rede social. É uma crença muito grande no teatro e no poder do teatro. Um lugar compartilhado entre ator e espectador", pontua o artista.

"Esses festivais e todas as iniciativas são muito importantes não só para circulação, mas para a construção de uma rede e até para a construção de uma identidade cultural, então é muito bom poder contar com esses pares", diz Luiz Fernando Marques, diretor do espetáculo Estudo Nº1 morte e vida. Ele foi convidado pelo grupo pernambucano Magiluth para comandar a peça, baseada na obra Morte e vida Severina de João Cabral de Melo Neto.

A companhia se apresenta domingo e segunda no Teatro Galpão Hugo Rodas e vai trazer a própria perspectiva sobre "questões do direito à terra, trabalhistas, dos motivos, do porquê se emigra e quem são esses emigrantes", segundo o ator Giordano Castro. "Porque essas questões que aconteciam há um pouco mais de 50 anos atrás continuam acontecendo e que muito provavelmente, por tudo que estamos vivendo, pela organização política e social que a gente vive hoje, vão continuar acontecendo, é uma ideia cíclica", completa.

Colaborou Ândrea Malcher*


*Estagiária sob a supervisão

de Severino Francisco

Serviço

Se eu falo é porque você está aí

Com o Grupo
de Teatro Concreto (DF)

Hoje, amanhã e domingo. No Teatro Oficina Perdiz (710 Norte), às 19h30. Ingressos a partir de R$ 20 (meia-entrada). Classificação
indicativa livre.

O rinoceronte,
de Ionesco

Com a Agrupação Amacaca (DF)

Hoje, no Teatro Galpão Hugo Rodas (508 sul), às 20h. Ingressos esgotados. Não recomendado para menores de 16 anos.

A caminhada
dos elefantes

Com o grupo Formiga Atômica (Portugal)

Amanhã e domingo. Teatro Sesc Garagem (913 sul), às 16h e às 19h. Ingressos a partir
de R$ 30
(meia-entrada). Classificação
indicativa livre

SEMUTSOC (Companhia de Dança Corpus Entre
Mundos -DF)

Amanhã e domingo. Teatro Sesc Paulo Autran (CNB 12, Taguatinga Norte), às 20h. Entrada franca. Classificação
indicativa livre.

Estudo Nº1 morte e vida

Com o Grupo Magiluth (PE)

Domingo e segunda. Teatro Galpão Hugo Rodas (508 sul), às 21h. Ingresso a partir de R$ 30 (meia-entrada). Não recomendado para menores de 16 anos.

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