Mulher inspiradora

Correio Braziliense
postado em 18/07/2022 00:01

Foi durante uma conversa com o cineasta Vladimir Carvalho e com a escritora Claudine Duarte que a editora e jornalista Clara Arreguy se deu conta ter em mãos um material rico e à espera de edição para homenagear a professora Lucília Garcez. Quando vier a primavera, que tem lançamento marcado para hoje, às 19h, no Espaço Cultural do Liberty Mall, é um tributo com textos da própria homenageada e de personalidades da cidade que tiveram suas trajetórias marcadas pelo trabalho de Lucília.

Uma carta da professora Gina Vieira Ponte é o ponto de partida para a edição do livro. Escrito em 2009, o texto narra o impacto do encontro com Lucília na trajetória de Gina. Foi durante uma palestra sobre Grande Sertão: veredas, à qual compareceu na década de 1990, que Gina se encantou pela leitura. Ela trabalhava em uma biblioteca escolar e mal conhecia o clássico de Guimarães Rosa, mas Lucília o fez parecer tão fundamental que a então jovem professora foi atrás. "Foi um divisor de águas. Eu queria saber o que havia de especial na obra. E por causa disso decidi cursar letras e passei a prestar atenção nas coisas que a Lucília dizia", conta. As duas professoras não se conheciam até 2008, quando se encontraram em uma palestra na Feira do Livro de Brasília. Gina como espectadora, Lucília como palestrante. A primeira agradeceu à segunda o vislumbre proporcionado anos atrás e uma amizade nasceu. Agora editada e publicada no livro, a carta traz a história de um despertar para a literatura graças ao magnetismo e generosidade de uma pesquisadora, um encontro delicado entre almas cuja afinidade só aumentaria. Mais tarde, Gina criaria o programa Mulheres inspiradoras, projeto premiado que serviu de base para políticas públicas de leitura e valorização da escrita feminina.

Outro texto, dessa vez escrito por Margarida Patriota para receber Lucília como membro da Academia Brasiliense de Letras, também integra o volume. É uma homenagem, mas também a celebração de uma amizade. Lucília e Margarida se conheceram há mais de quatro décadas. A primeira foi aluna da segunda na Universidade de Brasília (UnB) e a admiração mútua entre mestre e aluna gerou outro encontro de almas, uma coisa para a qual Lucília Garcez tinha bastante habilidade. "Ela era uma pessoa que tinha muito bom senso, era muito igual com todo mundo, muito generosa, muito aberta", conta Margarida. "Tinha uma simplicidade que não nos fazia pensar que era uma grande intelectual. Era uma das maiores leitoras que eu conhecia, com um cabedal de conhecimento da literatura muito grande. Não tinha nenhuma postura de arrogância, de exigências, de intelectualidades, de rigor. Era uma pessoa de muito grande conhecimento, foi uma perda muito grande." Lucília morreu em setembro de 2021, após anos de enfrentamento de um câncer.

Claudine Duarte, também responsável pela produção e edição de Quando vier a primavera, credita a Lucília a existência do Calangos leitores, projeto de formação de jovens leitores baseado em dois eixos: bibliotecas itinerantes e clubes de leitura. "Não existiria se não fosse a Lucília. A paixão dela pelas letras, pela literatura, e o poder transformador da leitura é algo que nos inspira", diz Claudine, coordenadora do projeto e integrante do famoso clube de leitura tocado por Lucília no Lago Norte durante anos. "O clube é um lugar onde a gente cresce não só como leitor, mas como pessoa, ser humano, por causa desse poder da humanização da literatura que a Lucília conseguia passar. Era um ser humano iluminado, colorido", lembra.

Completam o livro um texto de Clara Arreguy e outro de Vladimir Carvalho, companheiro de Lucília, além de um conto inédito, Máscaras, e uma crônica publicada no site Maria Cobogó. Escrito durante a pandemia, Máscaras foi entregue a Clara pela própria autora, que enviou a história para um concurso em Portugal. "Ela falou 'é um segredo entre nós, não mostra pra ninguém'. Só eu e Vladimir conhecíamos esse texto", conta Clara, fundadora da Outubro Edições, que também publicou o primeiro romance de Lucília, Outono, cujas edições estavam esgotadas. O livro foi reeditado pela Geração Editorial e será lançado hoje durante a homenagem. Clara e o poeta Marcos Fabrício Lopes da Silva também vão ler trechos do romance e comandar um bate-papo sobre a professora e pesquisadora.

 Quando vier

a primavera -

Um tributo a

Lucília Garcez

Com textos de Lucília Garcez, Margarida
Patriota, Gina Vieira Ponte, Vladimir Carvalho e Clara Arreguy.
Outubro Edições,
47 páginas. R$ 30.


Outono

De Lucília Garcez.
Geração Editorial, 184 páginas. R$ 40

Lançamento hoje, às 19h,

no Espaço Cultural do

Shopping Liberty Mall

 

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