UM BEIJÃO DO GORDO

Brasília no sofá de Jô Soares: artistas aplaudem legado do apresentador

A relevância nacional da cultura de Brasília foi apresentada no programa mais famoso do país. Artistas falam ao Correio da experiência de participar das entrevistas com Jô

O pedido de cessar-música com a mão, marca registrada de Jô Soares, era sinal de que o apresentador daria prosseguimento ao brilhante trabalho como apresentador. Agora, o silêncio se prolonga sem ser cortado pela voz carismática de Jô. A experiência de participar do programa de entrevistas mais famoso do país ficou marcada na trajetória de artistas brasilienses. "Mandamos o disco, e o Jô logo se interessou pelo nosso jeito inusitado de fazer música", relata ao Correio o maestro Rênio Quintas, sobre a participação no Programa do Jô. Welder Rodrigues, integrante da Cia Os Melhores do Mundo, lamentou a perda e destacou a importância de Jô na trajetória do grupo de comédia. "Ele é praticamente um divisor de águas na nossa carreira. Tem uma carreira antes do Jô, no teatro de Brasília, reconhecidos em Brasília.… Mas depois do Jô, a gente vira um grupo nacional de teatro", disse.

Nick Elmoor/Divulgação - Cia. Os Melhores do Mundo

Os Melhores do Mundo

Para os integrantes da Cia. Os Melhores do Mundo, a participação no Programa do Jô foi fundamental para alavancar a carreira nacional. "Ele é praticamente um divisor de águas na nossa carreira. Tem uma carreira antes do Jô, no teatro de Brasília, reconhecidos em Brasília.… Mas depois do Jô, a gente vira um grupo nacional de teatro. A nossa relação com ele sempre foi ótima! O Jô, numa agenda gigantesca e um monte de prioridade, abriu espaço para mandar um recado quando a gente comemorou 25 anos de carreira. É muito emocionante e maravilhoso", contou Welder Rodrigues.

"A morte é sempre uma perda, apesar de ser um processo natural da vida. O Jô, sem a menor dúvida, entra para o panteão das maiores celebridades da nossa cultura, um nome que fica gravado para sempre na história da nossa arte, do humor. Ele é um dos caras, eu acho, mais importantes da história da tevê e do humor no Brasil", refletiu Adriano Siri.

Welder Rodrigues reflete sobre o futuro do humor no país sem a figura do Gordo: "A gente perde mais um pilar. A gente perdeu o primeiro com o Chico (Anysio) e agora com o Jô, referência para todos nós. E agora nós estamos aqui para honrar o legado dele e continuar tentando fazer humor neste país, que não está fácil".

Adriano lembra que, na segunda passagem pelo programa do humorista, a companhia fez uma cena de Joseph Klimber. "O site Jacaré Banguela gravou da televisão e publicou no YouTube e, apesar de ainda estar nos seus primórdios, viralizou. Pouco tempo depois, nós éramos conhecidos no Brasil inteiro e, a partir daquele momento, por causa daquela entrevista, nós começamos a fazer grandes casas por todo o Brasil", enfatizou Adriano.

Victor Leal também lembra com carinho da apresentação, em específico de uma fala de Jô que marcou para sempre a trajetória do grupo. "Ele sempre citava o Joseph Klimber como um dos grandes textos de humor que ele já tinha visto. Então você receber um elogio destes do Jô Soares é muito forte", lembra o ator que elogia o apresentador. "Uma pessoa muito culta, muito sofisticada e que mesmo assim era muito popular. Além disso, uma pessoa muito querida", complementa citando que mesmo debilitado, Jô enviou um vídeo parabenizando os 25 anos de Os Melhores do Mundo. "Foi uma honra ter passado de fã para amigo de uma pessoa como ele", concluiu.

A perda de Jô Soares fez com que os Melhores do Mundo relembrassem a própria carreira. "O Brasil perde uma referência no humor, nas artes e em tudo. Nós, dos Melhores do Mundo, somos muito impactados com isso, pois tivemos o privilégio de ter a nossa vida modificada pelo Jô. Tivemos o privilégio de conhecê-lo e de ficar amigo dele, bem próximos dele. Que Deus o tenha. Em outro plano, que ele continue a brilhar como brilhou aqui nessa neste planeta junto com a gente", diz o humorista Jovane Nunes, exaltando a vida do apresentador que os apadrinhou.

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Luis Xavier de França/Esp. CB/D.A Press - Philippe Seabra

Philippe Seabra

Philippe Seabra, o rosto da banda brasiliense de rock Plebe Rude, relembra a importância do espaço para atos musicais nos programas de entrevista: "O Jô Soares sempre recebeu as bandas de rock de braços abertos. Era, talvez, um dos poucos lugares onde o rock alternativo, mais afastado do mainstream, ou até mesmo underground, tinha espaço". O vocalista relembra, em tom divertido, que o apresentador gostava de se arriscar na música: "Às vezes, ele tocava bongô junto e era sempre muito bacana". E completa com a revelação de que, além da atuação, Jô foi vanguarda no rock brasileiro: "As pessoas esquecem que um dos primeiros rocks gravados no Brasil foi um compacto do Jô chamado Capitão gay".

Arquivo Pessoal - Paulo César Cascão

Paulo César Cascão

"Genialidade, generosidade e intelectualidade". É como descreve o vocalista e formador original da banda Detrito Federal, Paulo César Cascão. O ex-integrante via em Jô uma pessoa que muito agregou para a cultura e para a arte brasileira. "Todo mundo fala da intelectualidade de Jô. Realmente, é ímpar a genialidade dele. Mas a generosidade dele é maior, porque dava espaço para todos", completa. Para o artista e hoje advogado, Jô conseguia compreender o matiz de todas as artes, inclusive a característica de Brasília, o rock n' roll.

Arquivo Pessoal - Rênio Quintas

Rênio Quintas

O maestro Rênio Quintas, do grupo Naipe, teve a oportunidade de estar presente no Programa do Jô, para uma conversa sobre a música brasiliense. Rênio se emociona ao falar do momento em que esteve diante o artista. "Mandamos o disco, e o Jô logo se interessou pelo nosso jeito inusitado de fazer música", conta. Quintas descreve que a conversa com Jô flui muito bem. "Ele estava sempre provocando e conseguia tirar o melhor das pessoas". Para Rênio, Jô vai deixar o legado de uma grande inteligência, que tinha como dom a compreensão dos humanos.

André Deca

O ator e produtor brasiliense André Deca exalta as qualidades que fizeram de Jô Soares o fenômeno que foi. "O Jô é uma referência para muitos, um artista múltiplo, carismático, inteligente e criativo", afirma. Deca teve a honra de produzir um espetáculo do apresentador em 2001 em Brasília e recorda as qualidades profissionais do artista. "Eu admirava muito seu humor político e irreverente! Um dos grandes artistas que o Brasil perde. Muita luz pra ele!", completa.

Jaime dos Santos

Em 2013, Jô entrevistou Jaime dos Santos, brasiliense que tinha um blog sobre histórias do cidadão da capital, o Humanos de Brasília, e sempre manteve uma vida atrelada ao ativismo social. Jaime é filho de Cristina Serra, jornalista que por muito tempo foi "menina do Jô", título carinhoso que ganhou dos repórteres que discutiam assuntos políticos com o apresentador. "Quando conheci, ele eu tinha ido assistir minha mãe na plateia ao vivo. Me jogaram uma pergunta aleatoriamente durante o show e eu respondi com a inocência de um adolescente de 16 anos", lembra. "Ele viu algo nisso, e umas duas semanas depois recebi uma ligação da produção dele. Jô, sinceramente, tinha curiosidade em ouvir a perspectiva de um adolescente sobre tudo que estava acontecendo naquele momento", conta Jaime, que hoje segue carreira musical sob o nome Saint-Hills. "Ele foi uma das primeiras pessoas que viu algo em mim", concluiu.

Globo/ Rogério Lorenzoni - Jô Soares grava a última temporada do seu programa na Globo Imagem: TV Globo/ Rogério Lorenzoni

Colaboraram Ricardo Daehn e Pedro Ibarra

*Estagiários sob a supervisão de José Carlos Vieira

 

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Nick Elmoor/Divulgação - Cia. Os Melhores do Mundo
Luis Xavier de França/Esp. CB/D.A Press - Philippe Seabra
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Globo/ Rogério Lorenzoni - Jô Soares grava a última temporada do seu programa na Globo Imagem: TV Globo/ Rogério Lorenzoni

Galeria

Tido como um dos talk-shows mais famosos do Brasil, o Programa do Jô mesclava entretenimento e música a partir de entrevistas humorísticas, características do célebre humorista Jô Soares, que se despediu ontem, aos 84 anos. Os brasilienses Oswaldo Montenegro, Zélia Duncan, Raimundos, Hamilton de Holanda, Juliano Cazarré, Flavio Bonfá e Jaime Santos são alguns dos destaques que tiveram suas aparições marcadas no programa.

Oswaldo Montenegro

Oswaldo Montenegro, 66, compõe trilhas sonoras para peças musicais e teatrais, além de cinema e televisão. Em 2011, no Programa do Jô, Oswaldo falou sobre a peça teatral Léo e bia, inspirada na canção de mesmo nome, composta pelo autor em 1979. Oswaldo conta que a escreveu em 1984 e sempre teve o desejo de transformá-la em filme, mas só o fez entre os anos de 2009 e 2010. Durante o programa, Jô pediu para que ele tocasse Bandolins, o primeiro mega sucesso autoral do compositor, lançado originalmente em 1979.

Dad Squariri

A professora, linguista e editora do Correio lançou no programa o Manual de Redação e Estilo para Mídias Convergentes, em maio de 2012."A internet, por exemplo, tem a característica de um texto curto", disse Dad ao apresentador, sobre como escrever em plataformas.

Zélia Duncan

A cantora e atriz Zélia Duncan, 57, foi outra presença no programa. Jô começa a entrevista sobre Pelo sabor do gesto - Em cena, segundo álbum da brasileira, lançado em 2011. Durante a entrevista, Zélia discorre sobre seu início na música, no Marista de Brasília e também toca umas palhinhas, a pedido do apresentador.

Raimundos

Em 1995, ainda no antigo programa Jô onze e meia, Jô Soares recebeu a banda Raimundos, uma das mais influentes do rock nacional. Formada em Brasília, a banda tinha menos de uma década de existência quando participou da entrevista pela primeira vez. Perguntas sobre a vida de cada um dos integrantes movimentaram o programa e um espetáculo da banda finalizou a participação. O grupo retornou ao Jô onze e meia quatro anos depois, em 1999, no último ano de edição do programa, quando já estavam mais consolidados no cenário musical.

Hamilton de Holanda

O bandolinista e compositor Hamilton de Holanda esteve sentado ao lado do apresentador Jô Soares diversas vezes durante sua trajetória musical. O artista até tocou com o próprio filho Gabriel de Holanda. Jô sempre foi conhecido por apoiar a cultura e a música, dessa forma, ele ajudou diversos artistas a alavancarem suas carreiras, foi o caso de Hamilton. Durante uma das entrevistas, Jô comenta " o bandolim é um lamento com raiva", se referindo ao instrumento que Holanda toca.

Juliano Cazarré

O ator e escritor Juliano Cazarré foi convidado por Jô para o programa em 2016, e fala sobre seus trabalhos no teatro e no cinema e a importância que eles carregam. Juliano começou a vida artística ainda no ensino médio, quando optou por fazer teatro. De lá seguiu e completou sua graduação em artes cênicas na Universidade de Brasília (UnB). Até então, o ator já era bastante conhecido no meio cinematográfico, pelo qual foi destaque das novelas Avenida brasil e Amor à vida, além de ter aparição internacional, com Anthony Hopkins, no filme 360, do diretor Fernando Meirelles. Atualmente, Cazarré está no filme Pluft o fantasminha, adaptação da obra de Maria Clara Machado, que em 1962 veio ao cinema com participação do próprio Jô Soares.

Flávio Bonfá

O carismático professor de geografia Flavio Bonfá é outro da lista dos brasilienses que já foram convidados do Jô, em 2011. No programa, Flávio conta sobre os cursos cenográficos que dava aos alunos pelo Brasil e sobre as aventuras que passou com a Lava Rápido, RestauraCar, que criou.