Cinema

Série Wandinha aposta no '''selo'' Tim Burton para bater recordes na Netflix

Um dos mais estrondosos sucessos da Netflix, a série Wandinha tem tudo para estabelecer recordes, sob o selo de qualidade de Tim Burton, na preferência entre os consumidores da plataforma de alcance mundial

Ricardo Daehn
postado em 08/12/2022 00:01 / atualizado em 08/12/2022 08:27
Uma das cenas mais comentadas da série: a exótica dança de Wandinha -  (crédito:  VLAD CIOPLEA/NETFLIX)
Uma das cenas mais comentadas da série: a exótica dança de Wandinha - (crédito: VLAD CIOPLEA/NETFLIX)

Foram centenas de testes, até que o olhar afiado do diretor Tim Burton detectasse instinto e a expressividade do olhar da atriz Jenna Ortega, o real pilar para um fenômeno mundial disponibilizado pela Netflix no finalzinho de novembro. Desde 2021, em filmagens na Romênia que atravessaram oito meses, a série Wandinha ganhava corpo, a partir da inspiração direta nos desenhos originais de Charles Addams, para a comicidade da longeva e nada tradicional Família Addams, entretenimento cristalizado, em diversas mídias, desde o final dos anos de 1930.

Tivesse em frente aos números coletados pela série (de episódios, quatro dos quais comandados por Tim Burton), talvez até a eternamente apática Wandinha ficasse impressionada ou até incomodada, diante da infinita resistência a ser uma figura popular. Há duas semanas incorporada pelo catálogo da Netflix, a atração computou mais de 752 milhões de horas de exibição. Numa esperada ascensão, pode vir a assumir a liderança absoluta, num cenário em que, na quarta temporada, Stranger things (criada há seis anos) detém o recorde de 1,35 bilhão de horas acessadas, nos primeiros 28 dias de exibição. Dahmer — Monster: The Jeffrey Dahmer story, em torno de um serial killer, segue como vice-líder, com 856 milhões de horas acessadas.

Jenna Ortega afirma ter nutrido a protagonista Wandinha, filha dos bizarramente apaixonados Mortícia e Gomez Addams, com uma "confiança sorrateira", com a qual é capaz de revidar bullying sofrido. Numa das estratégicas cenas, está um ataque de piranhas, orquestrado por ela como vingança feroz, e que ocasiona a perda de um testículo de um dos colegas de classe. Alérgica à vivacidade de cores, no cotidiano, Wandinha se proclama uma "gatinha" detentora de garras, e que não teme seus usos. Para além da habitual frieza, a intérprete de Wandinha ressalta qualidades como teimosia, obstinação e obsessão. Incapaz de ser contida, ela se orgulha da condição de, socialmente, se encerrar numa ilha fortificada, "resguardada por tubarões".

Transferida a contragosto para a escola Nunca Mais, estabelecida em terreno avizinhado de uma assustadora floresta, Wandinha tem tudo para deixar fluir o pendor interior dos monstros dos quais ela mesma fala, e que dispensam "dentes e garras". Louvando o perigo das bestas ocultas, entre companheiros de classe como Enid (Emma Myers, na pele da colega de quarto de Wandinha), Wandinha, repleta de esquisitices, cultivará o sarcasmo, ao lado do prazer de não ser popular. Orgulhosa do sofrimento que nutre sua existência, Wandinha, tocando violoncelo e paramentada de regular tonalidades negras, sistematicamente, pulará atividades sociais, no internato que tem, entre professores, Marilyn Thornhill, vivida por Christina Ricci, justo a atriz que personificou a mesma personagem da série, numa leva de filmes clássicos dos anos 1990. Vale a lembrança de que Ricci também foi musa de Tim Burton no longa A lenda do cavaleiro sem cabeça (1990).

Continuidade incerta

Ainda com todo o estrondo de Wandinha, próximas temporadas da atração para a Netflix seguem oficialmente sem confirmação pelo que demonstram os responsáveis pela produção, Alfred Gough e Miles Millar, dupla de sucesso, no passado, com o comando de Smallville. A posição consolidada de Wandinha, fora do ranking, grosso modo, medido mensalmente pela Netflix, a deixa na liderança absoluta entre todas as atrações norte-americanas disponibilizadas, se levados em conta apenas os acessos semanais da Netflix.

A série ostenta nomes consagrados como os de Luis Guzmán (de Oz e Narcos) e Catherine Zeta-Jones (de Chicago), mas sem pestanejar é um nome que reluz no elenco: Jenna Ortega. Numa entrevista ao The New York Times, a atriz, de ascendência mexicana e porta-riquenha, deu pistas dos meios para estar à altura do icônico personagem. Diante de um dos ápices da trama, a expressão "icônica" se viu até desgastada ao qualificar o desempenho da antissocial jovem Wandinha, numa pista de dança. Os exóticos passinhos da personagem, ao som de Goo Goo Muck, do The Cramps, fizeram a busca pela música, na internet, disparar 95 vezes em relação ao último mês.

A marca da maldade 

Muitos se perguntam de onde teria vindo o estrelato de Jenna Ortega, hoje, aos 20 anos, e que dá vida à Wandinha de 15 primaveras. A carreira de Dakota Fanning (sucesso, desde criança, com o longa Grande menina, pequena mulher) foi uma das maiores inspirações para Jenna, quando ainda pequena, na criação em Coachella Valley (ao sul da Califórnia, e perto de Los Angeles). Descoberta na série de tevê Rob, ao lado do humorista Rob Schneider, há 10 anos, Jenna teve por trabalho fazer muitos descolarem da visão limitada de um mero talento promissor do Disney Channel, uma vez que, até 2018, se viu presa ao papel de uma moça com muita criatividade, na série A irmã do meio. Pouco antes, ela já havia despontado com a versão infantil da estrela Gina Rodriguez, na série Jane the virgin.

Há nove anos, a estreia de Jenna na sétima arte se deu com o longa Homem de Ferro 3, num papel menor. Depois de resgatar a vontade de viver de uma traumatizada personagem de A vida depois (2021), há quatro meses, ainda nos cinemas, Jenna Ortega foi um dos destaques em X — A marca da morte, no qual um grupo de artistas pornô arrepia o território texano. Integrante da série Você, em torno de um serial killer, e, novamente, agora, no contexto sombrio de Wandinha, a atriz, diz se libertar do estrese, entre os gritos de desespero coletados ao longo da carreira, numa trajetória com ressaltada pela queda de ser uma scream queen (figura com potencial de vítima), e que inclui Sobrenatural: Capítulo 2 (2013), A babá — Rainha da morte (2020) e o quinto exemplar da franquia Pânico, além de Terror no estúdio 666 (2022).

 

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