Música

Toquinho renova colorido de canções eternas, e conta com parceria de Caetano

Canção clássica, 'Tarde em Itapoã' ganha regravação no álbum 'Novas cores, eternas canções', de Toquinho. Trabalho traz parceria inédita com Caetano Veloso

Andrés Ruiz*
postado em 12/12/2022 06:00
 (crédito:  Marcos Hermes/Divulgação)
(crédito: Marcos Hermes/Divulgação)

Traços de jovialidade e modernização se fundem na releitura de Tarde em Itapuã. Gravada em novembro deste ano com Caetano Veloso, a canção de Toquinho faz parte do álbum Novas cores, eternas canções, esperado para 2023. O projeto revisita clássicos do próprio repertório musical e já conta com dois singles disponíveis: O velho e a flor (1971), com Giulia Be, editado em 16 de setembro, e O caderno (1983), com Sandy, lançado em 14 de outubro.

Na intenção de recolorir as obras, Toquinho prezou por uma renovação que preservasse a essência. "O projeto todo (Novas cores, eternas canções) foi, desde o início, o de escolher 21 canções que fazem parte do sucesso de minha trajetória e convidar pessoas que fossem coerentes na interpretação de cada uma delas para fazer uma parceria comigo", comenta o artista.

A fim de fazer jus à baianidade de um dos maiores nomes do MPB, a escolha por Caetano para representar a tarde em Itapuã selou uma parceria inédita entre os dois. "É um prazer imenso ter a nossa voz na poesia do querido Vinicius de Moraes", escreveu Caetano em publicação no Instagram. A música também contou com arranjos de base de Camilla Faustino, além de arranjos gerais e eletrônicos, produção e finalização de Bruno Estevez Santos.


Entrevista // Toquinho

Existe uma história conhecida por trás de Tarde em itapuã, de que Vinicius compôs o poema e você o roubou. Você pode relembrar como surgiu a canção?

Isso é verdade. Nós estávamos na Bahia e o Vinicius fez o poema antes, foi uma das poucas músicas que eu musiquei do Vinicius de Moraes. Eu sempre colocava letra depois, e essa ele fez um poema, exatamente a letra de Tarde em Itapuã, já pronto. Eu tentei musicar, mas ele disse que iria dar para Dorival Caymmi, e eu (com 22 anos não ia impor uma coisa). Então, eu não tive outra alternativa a não ser roubar o poema antes de ele dar para Dorival. Eu fiz uma canção e mostrei para ele, que ficou reticente e não sabia o que fazer, mas ouviu várias vezes e decidiu não dar mais para Caymmi. Falou: 'Vai ficar assim como está, como você musicou'. Essa é a verdadeira história.

As tardes em Itapuã são tão bonitas hoje como eram naquela época?

Não. Hoje ela não é tão bonita quanto era. Todo mundo se queixa muito quando vai conhecer Itapuã, depois de meio século ela mudou muito. E para pior, eu acho, infelizmente. Aquela que era a praia de Itapuã na época em que fizemos, há 50 anos atrás, era uma praia de pescadores. A gente abria o quintal da casa e o portãozinho já dava na areia, tinha pescadores ali. Então, era muito diferente.

Para alguém que passou considerável parte da carreira ao lado do Poetinha, como é revisitar esse grande clássico da música nacional, agora com a voz de Caetano?

Convidar, simplesmente, não era o suficiente. Por que onde está o elemento novo nisso? Ele veio com a participação do Estevez, grande produtor e percussionista, que fez toda a elaboração rítmica de cada canção. O som da canção ficou muito mais atual para o ouvido jovem, e essa foi a novidade. O Caetano foi escolhido por vários motivos: porque ele é baiano, gostava e gosta dessa música e pela nossa amizade de mais de 50 anos. Como eu nunca tinha gravado nada com ele, foi uma oportunidade maravilhosa de juntar todas as características desse grande personagem e poeta brasileiro com a nossa amizade, como um brinde a todos os anos que passaram.

Sobre o processo de modernização, você conseguiu fazer isso sem alterar a essência da música? Como procurou manter a pegada de simplicidade e sofisticação que sempre existiu em suas canções?

Uma pergunta inteligente e lincada a muita sensibilidade sua. Isso realmente existe. Eu não tirei o meu DNA. Toda a estrutura harmônica, o timer da canção, fui eu que dei sozinho no estúdio, com a guitarra, o violão e um metrônomo, nada mais. O meu DNA já estava ali. Toda a sofisticação que você diz existe porque eu participei de tudo diretamente. Depois, foi dado ao Estevez o DNA já posto, e ele ficou livre para colocar uma moldura moderna em tudo isso que eu tinha feito. Essa fusão deu uma categoria jovial.

Para além da parte técnica, o tom romântico, como um todo, é muito presente na Bossa Nova e no MPB. Você acha que ele é aplicado da mesma maneira na nova versão?

Cada canção é imutável. Eu não posso mudar a característica dela e ter somente a letra. O que eu tentei colocar foi a participação de cada um com a característica de cada um. A canção foi feita respeitando ao máximo a estrutura dela e com uma interpretação e uma visão novas de um outro artista. Essa fusão está dando um resultado muito grande na curiosidade das pessoas. Então, saiu a Giulia Be, a Sandy e agora o Caetano Veloso. São três mundos diferentes. Entre si, eles não têm muito a ver realmente, cada um com o seu talento. Daqui para a frente, em cada música, vai acontecer isso: sempre haverá uma "intromissão" boa de cada intérprete.

A regravação de Tarde em itapuã é apenas uma das músicas do álbum Novas cores, eternas canções. O que mais pode ser adiantado acerca do projeto?

Tem um samba inédito que eu fiz com Vinicius de Moraes. Eu musiquei um soneto dele, coisa que nunca fiz nesses 42 anos da morte dele e fiz agora para esse novo disco. Foi cantado por Camila Faustino e se chama Soneto do amor total.

 

* Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco

 

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  • Toquinho faz releitura de Tarde em Itapuã com Caetano Veloso
    Toquinho faz releitura de Tarde em Itapuã com Caetano Veloso Foto: Divulgação
  • Toquinho e seu violão.
    Toquinho e seu violão. Foto: Marcos Hermes
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