Cinema

'O voo da borboleta amarela', sobre Rubem Braga, ganha prêmio em Portugal

Filme do cineasta Jorge Oliveira, que conta a trajetória do maior cronista brasileiro, arrebata a plateia do Festival Itinerante de Língua Portuguesa

Vicente Nunes - Correspondente
postado em 23/12/2022 11:30 / atualizado em 23/12/2022 11:30
 (crédito: Divulgação)
(crédito: Divulgação)

Lisboa — Foram 10 anos de pesquisas, muitos contratempos, mas o cineasta Jorge Oliveira finalmente conseguiu levar às telas a história do principal cronista brasileiro, o capixaba Rubem Braga. Num documentário emocionante, mesclado com dramaturgia — três atores se revezam na interpretação do escritor em fases diferentes da vida —, revelam-se fatos que mesmo pessoas muito próximas do autor de “Ai de ti, Copacabana” desconheciam. Exibido há pouco mais de uma semana em Lisboa, O voo da borboleta amarela — Rubem Braga, o maior cronista do Brasil ganhou o prêmio de melhor documentário no Festival Itinerante de Língua Portuguesa (FESTin).

Produtora e montadora do filme, Ana Maria Rocha não esconde a satisfação. Ela conta que as filmagens e o levantamento de arquivos para compor o documentário começaram pouco antes da pandemia do novo coronavírus. O projeto previa três patrocinadores, mas, com a decretação da crise sanitária e as restrições impostas pelas autoridades, apenas um se manteve firme. “Foi preciso rever tudo, enxugar a estrutura, cortar custos, pedir descontos aos fornecedores”, diz. Em boa parte do tempo, ela e Jorge — os dois são casados — tiveram de bancar as despesas para que não houvesse interrupção dos trabalhos. “O único patrocinador garantiu apenas um quinto do orçamento inicial previsto”, acrescenta.

Não foi fácil, mas a vontade de levar às telas a vida Braga, que aos 13 anos ganhou seu primeiro prêmio de literatura, era imensa. “Nos desdobramos, e, por sorte, tivemos suportes importantes, como o de Afonso Abreu, sobrinho do cronista, que morou com ele um bom período no Rio de Janeiro”, relata Ana. Também foi preponderante para o sucesso da película o trabalho em família. Durante parte da pandemia, Jorge, Ana e dois filhos que atuam na área de cinema se reuniram para fechar todas as pontas do projeto. “Essa união fez a diferença. Tivemos de encerrar os trabalhos antes do previsto, porque a equipe contratada era grande, de partes diferentes do Brasil e do exterior. Não tínhamos como sustentar essa estrutura.”

Trilha encantadora

O documentário conta a história de Braga, cujo sobrenome veio da cidade portuguesa onde os pais dele nasceram, de trás para frente. Ou seja, começa pouco antes de sua morte e vai até o início da adolescência. Na fase madura, o escritor e jornalista — que, em 1932, cobriu a Revolução Constitucionalista para os Diários Associados, ao qual pertence o Correio, e, logo depois, assumiu a página policial do Diário de Pernambuco — é interpretado pelo ator brasiliense Lauro Moreira, diplomata aposentado e amigo de Braga. “É impressionante como eles ficaram parecidos”, destaca a produtora.

A grandeza da vida do maior cronista do Brasil é embalada por uma trilha sonora de tirar o fôlego, toda produzida pelo sergipano João Ventura, que mora em Lisboa e hoje é destaque na cena musical ao misturar o erudito e o popular. Assim que concebeu o filme, Jorge definiu que uma das principais músicas do documentário seria “Nunca mais”, de Dorival Caymmi, que era muito próximo de Braga. O cineasta queria uma versão da obra em fado. Ventura fez o arranjo e a música foi gravada pela fadista Cristina Clara. É um acontecimento à parte.

Segundo Ana, ainda não está definida a estreia de “O voo da borboleta amarela” no Brasil. As negociações com as distribuidoras estão em andamento, assim como com canais a cabo especializados em arte. Ela conta que, antes de Lisboa, o documentário foi apresentado em outubro último no Festival Audiovisual do Mercosul, em Florianópolis. “Foi uma emoção geral”, frisa. O interesse pelo terceiro filme de Jorge Oliveira é grande.

Nos dois trabalhos anteriores, ele havia retratado dois personagens alagoanos, seus conterrâneos. No primeiro, “Perdão, mister Fiel”, resgatou a história de Manoel Fiel Filho, morto pela ditadura. No segundo, “Olhar de Nise”, mostrou a magnífica trajetória da médica Nise da Silveira, referência em tratamentos psiquiátricos. Esse documentário, por sinal, foi apresentado, à época do lançamento, no Festival de Cinema Latino-Americano de Trieste, na Itália. O prefeito da pequena Montgiolo ficou tão encantado com o que viu, que convidou o cineasta para apresentar o filme a uma seleta plateia, cuja referência na reforma da psiquiatria era o italiano Frank Basaglia. “Todos ficaram impressionados com a revolução que aquela pequena alagoana havia feito no sistema psiquiatra brasileiro”, conta Ana.

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