Faltam 45 dias para o carnaval, mas o esquenta já começou. O Setor Carnavalesco Sul abre os trabalhos da festa com a programação do No Setor, que tem início hoje e segue até 28 de janeiro na Galeria dos Estados. Durante os quatro sábados deste mês, o local, que virou símbolo do carnaval brasiliense, vai receber blocos, DJs e grupos da cidade para a prévia de um carnaval que promete ser catártico. A programação de hoje terá Divinas Tetas, Bloco do Calango Careta, Aparelhinho, Filhos de Guetta, Odara Kadiegi e Cia Miragem — Circo & Dança.
Sócio administrador do No Setor LTDA, Caio Dutra avisa que essa será uma espécie de retomada depois da paralisação das festas no Setor Carnavalesco por causa da pandemia. “2020 foi o último carnaval organizado que tivemos. Com a dinâmica da pandemia, como não estava de fato autorizada a festa, e por questão de saúde e responsabilidade, a gente não fez nenhum tipo de movimentação, então essa vai ser uma retomada”, garante. “A gente está bem empolgado.” As apresentações hoje trazem os blocos locais, mas os trabalhos do No Setor ocorreram durante todo o ano, sobretudo junto à Escola Carnavalesca do DF. “Estamos, ao longo do ano, trabalhando com eles, formando carnavalescos para fazer a construção do carnaval, então estamos com essa perspectiva de trazer os movimentos carnavalescos que ficaram parados no DF para nosso movimento”, revela Dutra.
A participação da escola vai permitir a apresentação de grupos como a Orquestra Alada Trovão da Mata e de uma série de fanfarras. A presença dessas últimas, aliás, segundo Caio, tem crescido tanto em Brasília que esse tipo de formação está em vias de se tornar uma das bandeiras da identidade do carnaval brasiliense. “Esse carnaval vai buscar a construção da base de identidade da cidade”, afirma o carnavalesco. Segundo ele, estudos apontam que a base da cidade patrimonial se dá entre 0 e 50 anos, mas a base da construção imaterial é dos 50 até os 100. “Então a gente está exatamente construindo a base de nossa identidade cultural, de nossos costumes. E o carnaval é um ritual que representa os símbolos. Brasília está ganhando cada vez mais a identidade da fanfarra”, acredita.
Homenagens
Aloizio Lows, do Divinas Tetas, avisa que este ano haverá muitas homenagens no repertório do bloco. “O Divinas nasceu como um bloco tropicalista no ano do golpe (2016) e sempre nos posicionamos (dentro e fora dos palcos) contra aqueles que queriam destruir a cultura brasileira”, conta. “Nesta nova fase, nossa ideia é redescobrir o Brasil!”. Além dos artistas tropicalistas, o bloco também vai homenagear outros grandes nomes da música brasileira. “Nomes que ajudam a contar a história real do nosso país. Então vem muita novidade com ainda mais brilho, mais energia e mais Brasil! Sábado será o nosso primeiro show neste novo ano e nesta nova fase do Brasil. Estamos muito felizes que o pesadelo daquele desgoverno acabou!”, diz.
O pré-carnaval é um momento importante para os blocos independentes de Brasília. “E esse evento do No Setor está abrindo portas não só para os blocos, mas também para diversos artistas da cidade que poderão começar este ano e essa nova fase apresentando seu trabalho. Estar no primeiro evento, abrindo os caminhos neste momento histórico, é uma honra para todos nós do Divinas”, diz Lows, que espera ainda receber uma parte do público que veio para a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
Para Ian Viana, do Filhos de Guetta, a retomada da festa no Setor Carnavalesco é uma honra e um alívio. “Foram dois anos sem podermos fazer essa festa e, para quem vive de carnaval e para quem vive e respira cultura brasileira, um ano sem carnaval mexe muito com a gente”, explica. Para criar o enredo para 2023, os integrantes do bloco investigaram muito sobre a cultura popular brasileira e do DF.
O diálogo e as trocas com os integrantes da Escola de Carnaval do DF foram importantes, assim como o trabalho junto à população de rua que mora no Setor Comercial Sul (SCS). “O carnaval deste ano é uma afirmação de que estamos aqui”, avisa Ian. “O novo ministro (dos Direitos Humanos), Sílvio de Almeida, foi muito feliz de falar o óbvio de que as pessoas de rua existem e que nós a valorizamos, de que as mães solteiras existem e nós as valorizamos. Isso se mistura com nossa história e daí vem uma narrativa de carnaval que dê visibilidade aos invisibilizados.” Um dos motes que pautou a narrativa do Filhos de Guetta para este carnaval foi o episódio da ligação de uma criança de 11 anos para a polícia, em Belo Horizonte, em um pedido de socorro por causa da fome. “Por mais que digam o contrário, o carnaval é a menos alienada de todas as festas, é a mais política de todas as festas por botar em ebulição e provocação as contradições sociais cotidianamente jogadas embaixo do tapete”, avisa Ian.
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