O arquiteto, artista plástico, cineasta de fotógrafo Luis Jungmann Girafa gosta de flanar com a câmera na mão e o olho atilado em busca de extrair relances de poesia de cenas triviais cotidianas. Esses flagras foram reunidos no livro Retratos. Ao mesmo tempo, ele desenvolve o projeto de uma série de registros sobre ateliês de diversos artistas. O primeiro volume da série se chama Ena e revela o ateliê do fotógrafo Eustáquio Neves.
Retratos é um passeio fotográfico por diversos locais de diferentes cidades em busca de flagras poéticos; e Ena é o primeiro livro de uma série de ensaios que pretende fazer uma memória abstrata dos ateliês de diversos artistas, nesse caso do ateliê do fotógrafo Eustáquio Neves. Girafa autografa os dois livros, hoje, às 19h, no Beirute (109 Sul).
Retratos, a primeira obra, inspirou um poema da Maria Lucia Verdi (leia abaixo), em que cada linha nomeia uma página dupla do livro. "O entendimento que ela sentiu do livro é muito estimulante", comenta, ao Correio, Girafa. O próprio autor também escreveu um poema sobre as imagens.
Girafa explica que o livro não possui uma mensagem única. "Quero que desperte nas pessoas que irão ver o livro um tipo de emoção que seja benéfico, que elas possam tirar do livro o que vai lhe servir, permitindo sempre uma leitura personalizada", diz. O autor de 72 anos ressalta que o espírito do livro remete à infância: "Quando eu era garoto, a gente falava, vamos tirar retrato. Vamos tirar retrato podia ser da paisagem, não era uma coisa identificada com a pessoa. Então o livro tem um pouco deste espírito, deu recuperar essa alegria de tirar retrato quando era menor".
O fotógrafo capta as suas imagens de maneira espontânea, intuitiva e instintivas, sem roteiro prévio, ao sabor do instante. "Eu saio fotografando sem interesse específico, depende do dia, da luz, pode ser coisas concretas ou abstratas. Depois, organizo de tal forma que concebo um livro com aquilo. Eu não tenho um roteiro prévio, acontece enquanto estou fazendo, cada um é diferente, cada um faz uma provocação e eu procuro criar uma narrativa." No livro Retratos, as fotos são todas em preto e branco. motivo segundo o autor, é para afastar as imagens da vida real e criar algo ficcional. Em poema sobre as fotos, Girafa escreve: "Os retratos em preto e branco//Todos eles reveladores/Que se fosse vida, seria a cores.". E, no prefácio, José Roberto Bassul afirma: "Retratos é espelho do que não se vê. Vela e revela, mostra e esconde. Retrato é silêncio e fala, corpo e ausência. Retratos é o que foi ou pode ter sido. O que é, ou não. Retratos pode ser o que será. É testemunho e imaginação, abulia e desejo".
Na obra Ena, Girafa entra no universo das cores. "Para mim, a foto só existe no papel, no papel impresso, seja como livro, revista, jornal ou uma foto que vai para a parede", esclarece. Por isso, ele sempre edita um livro, mesmo que não seja para difusão pública.
Além de fotógrafo, ele é artista plástico e cineasta, com mais de 20 projetos, entre eles videoclipes, curtas, longas e peças de teatro, como diretor de arte e cenógrafo, e fala sobre a diferença entre essas artes. "São formas diferentes. Por exemplo, a pintura, para mim, é desenho. Ela tem uma coisa muito livre. Eu não uso a pintura para reproduzir fotos." A galeria dele, Galeria Matéria Plástica, instalada em condomínio no Altiplano Leste, reabrirá em abril deste ano com uma exposição de seus trabalhos e de trabalhos dos artistas que ele representava e dos que ainda representa. Durante a exposição, nos finais de semana, haverá sarau poético e musical: "É uma casa dos artistas", afirma Girafa.
*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco
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