Cinema

Talentos de Brasília estarão no Festival de Berlim

Curtas-metragens em competição e, num longa, o talento do ator Rômulo Braga foram a comitiva de talentos da capital no festival de cinema da Alemanha, que começa nesta quinta (16/02)

Ricardo Daehn
postado em 15/02/2023 14:14 / atualizado em 15/02/2023 14:15
As miçangas, curta de Rafaela Camelo e Emanuel Lavor  -  (crédito:  Joanna Ramos/Divulgação)
As miçangas, curta de Rafaela Camelo e Emanuel Lavor - (crédito: Joanna Ramos/Divulgação)

A 73ª edição do Festival de Berlim começa nesta quinta (16/2) — com o júri presidido pela mais jovem selecionada, Kristen Stewart, atriz de filmes como Crepúsculo e Spencer (que lhe rendeu indicação ao Oscar de atriz). E puxando leva de talentos brasilienses no histórico festival, depois que lançou luz sobre personalidades como Maria Augusta Ramos, Karim Aïnouz e Adirley Queirós (ao lado de Joana Pimenta), ex-integrante da comitiva que levou o longa ceilandense Mato seco em chamas para a mostra Fórum, no ano passado. Em 2023, a edição destaca os diretores locais Rafaela Camelo e Emanuel Lavor, na competitiva de curtas, ambos à frente de As miçangas.

Estendido até 26 de fevereiro, o festival alemão apresentará o curta candango, no próximo domingo. "Tive minha formação em Brasília, e em 2019, com O mistério da carne, participei do Festival de Sundance (EUA). A partir dali, consegui uma projeção e a pensar em lugares maiores, em termos de produção. Chegamos ao cenário internacional, depois de muitas revisões de roteiros e de debates de criação", conta Rafaela Camelo.

"O curta As miçangas aborda a temática do aborto com certa naturalidade. Mas não como se fosse algo cotidiano, ordinário, porque certamente aquele momento ali marcou as personagens, eternamente. Trazemos um pacto de confiança e irmandade", revela uma das atrizes do filme, Tícia Ferraz. Diante de semelhanças físicas, Tícia confessa, por vezes, se confundir com a parceira de cena, Pâmela Germano.

"Cada um (Rafaela e eu) dirigirá um filme novo. Essa experiência atual, com o curta, agrega muito valor a nossas trajetórias. Houve a notícia maravilhosa de estarmos aprovados em prévia de um edital da Ancine (Agência Nacional do Cinema) para novos realizadores. Estar em Berlim traz muito valor para nossos processos de criação dos (futuros) longas", explica Emanuel Lavor, codiretor de As miçangas, fomentado por mestrado, com estudos na Escola Internacional de Cinema e Televisão de Cuba. Na capital, Lavor é lembrado pela codireção (com Pedro Buson) do curta O pequeno chupa dedo.

Quase 15 anos depois de selecionado para o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, com Amigos de risco, Daniel Bandeira estará, na mostra Panorama, com o longa Propriedade, em que trabalhadores expulsam latifundiária do campo. Outro longa, O estranho, de Flora Dias e Juruna Mallon, traz o ator brasiliense Rômulo Braga, numa trama coproduzida com a França, e que enfoca o aeroporto de Guarulhos, construído em cima de secular terreno indígena. Em Berlim, o Brasil também estará representado em mostras paralelas, com os curtas Infantaria e A árvore (uma coprodução com a Espanha). O segundo, selecionado para o segmento Fórum, traz a diretora Ana Vaz, nascida em Brasília, que enfoca parte da vida do pai dela, Guilherme.

Perto de filmar o primeiro longa, em decorrência de conquista no Sundance Documentary Film Fund, a diretora — que tem vivências no sul da Austrália, em Portugal e na França — é lembrada por instalações e projetos com performances e que enfatizam o peso da palavra. No filme A árvore, a diretora conta que se inspirou no cinema experimental de Bruce Baillie (morto em 2020). Na mesma edição do festival que reservou um Urso de Ouro honorário para o diretor Steven Spielberg, que segundo os organizadores, trouxe um "novo significado à palavra cinema", Berlim ainda acolherá o curta Infantaria (selecionado para o segmento Geração 14 Plus), de Laís Santos Araújo, que trata de estranhos sonhos de aniversário numa festa muito colorida.

Duas perguntas // Tícia Ferraz, atriz

Qual o tom de As miçangas?

Para mim, é um filme, ao mesmo tempo, realista e fantasioso. É ambientado no cerrado, protagonizado por duas mulheres e uma serpente. Costumamos dizer que a jiboia é outra personagem, com presença muito forte. Meu personagem, Let, é testemunha e cúmplice (do aborto). Até certo ponto, eu posso ajudar, mas tem uma jornada solitária que só a outra personagem pode fazer.

Como foi teu processo de atuação?

Eu me sinto a Let, personagem do filme, porque, em partes, sou mesmo ela. Colocamos muito de nossas personalidades no filme. Maturamos essa história por um bom tempo também. Passou um ano desde o momento em que inscrevemos no FAC até as gravações. Me sinto muito contente em fazer parte dessa história e da equipe. Acredito no potencial que esse filme tem de mobilizar as pessoas acerca de um tema tão relevante. E falar sobre isso com leveza é o que a gente precisa.

 

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