Oscar

Todo o glamour da inovação: confira os melhores momentos do Oscar

Numa festa renovada, o espírito do Oscar tomou proporção jovial, ao celebrar um dinâmico filme com raízes chinesas, o aclamado 'Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo'

Ricardo Daehn
postado em 14/03/2023 10:53
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

Com a genialidade surgida em trabalho de grupo, a partir de pessoas "de bom coração", movidas por liberdade na criação, como defendeu o premiado diretor do Oscar, Daniel Kwan (ao lado do colega Daniel Scheinert), o longa Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo cravou vitória do estúdio independente A24, num filme criado com menos de US$ 20 milhões. Foram sete prêmios Oscar. Na corrente de vitoriosos de baixo orçamento, como Nomadland (2020), Moonlight (2017) e Crash (2005), Tudo... traz, entre os produtores, os gigantes Joe e Anthony Russo, que, à época da Marvel assinaram títulos da franquia Capitão América e os Vingadores, Guerra infinita (2018) e Ultimato (2019).

"Para todos jovens que se parecem comigo e que estejam assistindo o Oscar, este é um farol de esperança e possibilidade. É a prova de que os sonhos sonham alto e eles se tornam realidade. E, senhoras, nunca deixem ninguém lhes dizer que vocês já passaram do seu auge. Nunca desista", foi o discurso de Michelle Yeoh, a melhor atriz da 95ª edição do Oscar, pelo filme Tudo... Filho de mãe taiwanesa, o cineasta Daniel Kwan contou, nos bastidores da festa, da inspiração materna, refletida em parte no roteiro do filme. "Minha mãe é alguém que adora mudar suas paixões, a cada dois anos. Persegue sempre novos sonhos, e se, de repente, fica entediada  passa para a próxima coisa. É alguém que se sacrificou muito pelos filhos", ressaltou. Melhor atriz, aos 60 anos, Michelle, nascida na Malásia, fez história como a primeira asiática protagonista a ser premiada.

Comédia dramática, repleta de aventura e de dados de ficção científica, Tudo... trouxe Oscar de direção para a terceira dupla de diretores premiados pela realização de um filme, seguindo Amor, sublime amor (1961) e Onde os fracos não têm vez (2007), esse dos irmãos Ethan e Joel Coen. Focado na singularidade do potencial de cada pessoa, e na valorização da empatia, Tudo... mobilizou outro discurso inspirado de Kwan, no palco do Oscar: "Somos produtos do nosso contexto; descendentes de algo e de alguém. Quero me reconhecer na minha subjetividade", enfatizou o filho de sacrificados pais imigrantes chineses, e que se tornou o primeiro asiático premiado pela autoria de um roteiro original.

Pelo que os premiados diretores contaram, nutriram a secular linguagem do encantamento do cinema, que atravessa gerações, e abasteceram um work in progress que bebeu das obras deles em videoclipes. Crises coletivas na saúde mental dos mais jovens e pessoas desoladas capazes de enfrentar rudes situações serviram de inspiração para a quebras de regras de narrativa propostas pelos Daniels. "É uma rajada de alegria, absurdo e criatividade", tachou Kwan.

Afora a premiação de aventuras épicas como Gladiador e Coração valente, há tempos o Oscar não rendia prêmios a longa com tanta ação. Antes da festa, Michelle Yeoh conduzia as metáforas com o vestido branco que a vestia, se dizendo nas nuvens, ao ver "o pequeno filme com grande coração" chegar na antessala da premiação. Quem completou o clima de festejos foi o melhor ator coadjuvante, o vietnamita Ke Huy Quan: "Sonhos são algo em que você tem que acreditar. Quase desisti dos meus. Conclamo a todos para, por favor, manterem seus sonhos vivos".

Numa presença de tons celestiais, no auditório do Oscar, a atriz com origem familiar chinesa Stephanie Hsu, junto com o inglês David Byrne, interpretou o número musical de This is a life (canção ouvida em Tudo...), num dos melhores momentos do evento. Com clima à la Spike Jonze (diretor de Ela, Adaptação e Quero ser John Malkovich), e roteiro amalucado aos moldes de Charlie Kaufman (O brilho eterno de uma mente sem lembranças e Sinédoque, Nova York), Tudo... extraiu, na consagração, celebrações marcantes como a de Jamie Lee Curtis (melhor atriz coadjuvante), que, com a estatueta, disse: "Sei que parece que estou aqui sozinha, mas não estou — eu sou centenas de pessoas". O produtor Jonathan Wang, igualmente, se manifestou: "Se todas essas coisas brilhantes e smokings forem embora, eu adoraria lavar roupa e seguir pagando impostos com você (apontou para a esposa Ani), pelo resto da minha vida".


Outros melhores filmes detentores de sete prêmios

O bom pastor (1945)
Os melhores anos de nossa vida (1947)
As pontes do Rio Kwai (1958)
Lawrence da Arábia (1963)
Patton, rebelde ou herói? (1971)
Golpe de mestre (1974)
Entre dois amores (1986)
Dança com lobos (1991)
A lista de Schindler (1994)
Shakespeare apaixonado (1999)

Na passarela

A fim de trazer um efeito "calmante" com emprego da cor champagne, no lugar do tapete vermelho, a organização da festa parece ter ouvido uma crítica divertida de Sônia Braga que certa vez, disse que tudo aquilo parecia "casamento, à tarde, em Sorocaba". Entre o bom gosto, saltou aos olhos a beleza de Cara Delevingne e ainda o recado contra a masculinidade tóxica de Dwayne Johnson, que vestiu elegante roupa cor de rosa.

Isso, pode?

Num dos melhores discursos, Daniel Scheinert (codiretor de Tudo...) agradeceu ao pais: "Obrigado por não esmagar minha criatividade quando eu apostava em filmes de terror realmente perturbadores ou filmes de comédia realmente pervertidos. Ou ainda quando vestia roupas de mulher, em criança — o que, aliás, não é uma ameaça para ninguém".

No rastro da covid

Humildade e gratidão foram sentidas nas palavras do melhor ator Brendan Fraser, de A baleia, que ressurgiu na telona, com filme desenvolvido em maio a pandemia. Numa reflexão, ele disse nos bastidores: "Penso em todos os filmes que vimos este ano, e há um ingrediente secreto; meu palpite é que — aquela preocupação que mostramos uns pelos outros e pelo trabalho que fazemos alimentou a todos, pois vivemos sob um ameaça existencial. Não sabíamos se haveria um amanhã". No palco, com o Oscar empunhado, ele completou o fator surpresa do prêmio: "Eu me sinto no multiverso".

Mais do mesmo

Avatar: O caminho da água (vencedor de efeitos visuais) se tornou a sexta franquia, depois de Indiana Jones, O senhor dos aneis, Aliens, King Kong e Star Wars a faturar por duas vezes a estatueta específica de efeitos especiais.

No tom da diferença

Entre mulheres, filme de discurso amplamente feminista conduzido por Sarah Polley, ele venceu na categoria melhor roteiro adaptado. Por um mundo com "crianças mais confiantes", Polley destacou o teor da última fala do filme: "A sua história será diferente da nossa", ao tempo em que destacou que há arte na discordância e no respeito do "saber escutar".

Não aos censores

A dura realidade de um opositor ao regime russo, Alexei Navalny, retratada no documentário Navalny, saiu consagrada com Oscar. O diretor do filme Daniel Roher celebrou a coragem do personagem e ainda ressaltou a importância do jornalismo investigativo. Daniel destacou a importância da oposição a fascistas e ditadores (no caso, Vladimir Putin).

Talento negro

Quatro anos depois da vitória pelos figurinos de Pantera Negra (2019), a estilista Ruth E. Carter voltou a encontrar a estatueta dourada, por Pantera Negra: Wakanda para sempre, e no palco, ressaltou a as mudanças na maneira como a cultura é representada, assumindo a visão de "super heroína" que cabe à "mulher negra". Apenas um seleto grupo de artistas afroamericanos (como os atores Denzel Washington e Mahershala Ali) detém duas estatuetas, caso ainda dos integrantes da equipe de som Willie D. Burton e Russell Williams II.

A eterna lady

No quesito das apresentações musicais da noite, mais de uma década depois de morto, o diretor do Top Gun original (de 1986) Tony Scott motivou uma apresentação especial e despojada de Lady Gaga, que cantou Hold my hand. Os fãs de Rihanna não se decepcionaram, frente ao número musical de Lift me up (concorrente a melhor canção, incluída em Pantera Negra: Wakanda para sempre).

Animação total

Com a canção de RRR (Naatu Naatu), os compositores MM Keeravani e Chamdrabose venceram pela obra na produção indiana. Isso depois de 14 anos desde a vitória de Jai Ho (de Quem quer ser um milionário?). Outros raros acordes estrangeiros a vencer ilustraram filmes como Missão de vingança (1950), Nunca aos domingos (1960) e Diários de motocicleta (2004).

Cadê?!

Na festa do Oscar, foram sentidas as ausências de Tom Cruise e James Cameron (diretor da franquia Avatar). Ainda assim, Top Gun: Maverick faturou o prêmio de melhor som, numa festa em que houve filmes que não faturaram nenhum Oscar: Os banshees de Inisherin, Triângulo da tristeza, Os Fabelmans, Babilônia e Tár.

O fator Brasil

Ao receber o prêmio de melhor filme international por Nada de novo no front, o diretor Edward Berger delimitou os agradecimentos, num pacote de oito produtores creditados, Malte Gruner e o brasileiro Daniel Dreifuss, nascido em Minas Gerais e que, há 20 anos, partiu para uma carreira internacional. Quarenta anos depois das múltiplas indicações para o filme germânico O barco — Inferno no mar (1981), quarto Oscar — entre os quais o de trilha sonora (Volker Bertelmann) e melhor fotografia para James Friend — foram entregues para a produção que examina a Primeira Guerra Mundial, pela ótica do romancista Erich Maria Remarque. Nada de novo no front rendeu o quarto Oscar para a Alemanha, que totaliza 20 indicações à estatueta de produção estrangeira.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para contato. Clique aqui e mande o e-mail.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

  • Brendan Fraser: um grande retorno
    Brendan Fraser: um grande retorno Foto: Fotos: AFP
  • Todos premiados, ao mesmo tempo e agora: quase sem mãos para tantos prêmios, na equipe do vitoriosos Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
    Todos premiados, ao mesmo tempo e agora: quase sem mãos para tantos prêmios, na equipe do vitoriosos Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo Foto: Getty Images via AFP
  • Dwayne Johnson quebrou paradigmas
    Dwayne Johnson quebrou paradigmas Foto: Getty Images via AFP
  • Cara Delevingne trouxe o vestido mais vistoso
    Cara Delevingne trouxe o vestido mais vistoso Foto: Getty Images via AFP
  • O produtor brasileiro Daniel Marc Dreifuss, de Nada de novo no front
    O produtor brasileiro Daniel Marc Dreifuss, de Nada de novo no front Foto: Arquivo Pessoal

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

CONTINUE LENDO SOBRE