Literatura

Angélica Padovani lança ‘Olha-me outra vez’, primeiro romance da carreira

Artista plástica, Angélica sempre trabalhou com a palavra em obras de arte, assim como sempre escreveu contos

Nahima Maciel
postado em 23/03/2023 06:00
 (crédito: Chico Amaral)
(crédito: Chico Amaral)

Rosa engravida aos 16 anos, abandona a escola e se casa com o pai da criança. Mas esse nunca foi o sonho da menina. Proibida pelo marido de continuar os estudos e presa em um casamento no qual se sente oprimida pela falta de liberdade e pela maternidade, a adolescente se torna adulta, enfrenta uma depressão e decide abandonar a família. O enredo de Olha-me outra vez, romance de estreia de Angélica Franca Padovani que será lançado amanhã na Galeria Alfinete, aborda um tema delicado e rodeado de tabus.

Nascido de um conto escrito pela autora em 2019, o romance parte de uma reflexão que acabou por desembocar em uma pesquisa. No conto, uma mulher faz uma terapia editada, na qual entrega ao terapeuta um texto sobre a própria vida e recebe de volta uma versão editada pelo especialista. Uma história de abandono por parte de mãe marca a vida da personagem. "A partir daí, comecei a me perguntar por que as mulheres abandonam, por que elas não querem ter filhos? Durante muitos anos, elas não tinham opção. Fomos educadas para que essa fosse a única opção da vida."

Artista plástica, Angélica sempre trabalhou com a palavra em obras de arte, assim como sempre escreveu contos. "Comecei com microrrelatos, formas de observação, microcontos que eram representação do olhar, de como olho o mundo, então tinha uma coisa de ficção, mas quase autobiográfica. Ainda que não acontecesse comigo, era minha forma de ver o mundo. No caso dos contos, era minha forma de sair do mundo", explica. A ficção em forma de romance foi um salto para o que a autora chama de liberdade. "Com a ficção, você pode tudo, pode provar outras histórias, outras possibilidades e isso me encanta", diz.

A história de Rosa e Ana não apareceu pronta para Angélica. Ela foi se construindo passo a passo. "Eu não sabia onde a história ia me levar e de repente ela aconteceu, e isso me encanta muito", garante. Uma pergunta, no entanto, motivou todo o desenvolvimento da narrativa: "Por que as mulheres abandonam os filhos?". Ao refletir sobre o questionamento, a autora chegou ao tema da maternidade e da escolha, ou falta dela. "Ainda hoje as mulheres que decidem não ter filhos enfrentam preconceitos grandes. Apesar das novas gerações terem mudado, ainda tem uma geração que força essa ideia. O fato de uma mulher não querer ser mãe não está normalizado e isso é uma carga muito grande", lamenta.

Na parte final do livro, a autora substitui o recurso da narrativa clássica por descrições de fotografias. São imagens de família encontradas pela personagem Ana, a filha, ao tentar reconstituir a história da mãe. Angélica quis unir duas linguagens em um recurso de resgate da memória. Um trabalho feito em 1992 no qual revelava fotografias em forma de textos nos quais descrevia os registros inspirou o desfecho de olha-me outra vez.

olha-me outra vez

De Angélica Franca Padovani. Patuá, 116 páginas. R$ 45. Lançamento, amanhã, a partir das 19h, na Galeria Alfinete (SCRS 509, A, Entrada 58, W2 Sul).

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