Crítica // O circo voltou // ##
Rap, cangaço, música erudita e até prostituição estão entre os elementos explorados pelo cinema do pernambucano Paulo Caldas. Quase cinco anos depois de revolver camadas de memória, no documentário Saudade (2018), Caldas traz um filme supostamente radiante (que não o deixa de ser), mas que igualmente verte nostalgia, num tratado sobre o desenvolvimento do Circo Spadoni, herança e sentido para a vida do mestre circense José Wilson Moura Leite, um carismático e entusiasmado cicerone para o enredo de celebração de arte pra lá de popular.
É um ciclo que se fecha na tela na qual, produto do sertão alagoano, o comandante de trupe, que nutriu a famosa Escola de Circo Picadeiro, pretende demarcar. Tudo culmina no seio familiar, no qual, junto aos moradores de Major Isiodoro (Alagoas), o mestre pretende deixar sua marca. É para o coração e mente do filho, o sensível Pedro Henrique, que as narrativas e bastidores do circo são replicados, enquanto a trupe (com claras raízes de entrosamento) percorre locais como Furquin (MG), uma comunidade quilombola baiana e ainda um território indígena. O interessante é que nenhuma sobrevida envolve a arte circense — ela se confirma pulsante e perpétua.
Num dos momentos mais interessantes do filme, a família de José Wilson honra a memória do ator Domingos Montagner (morto em 2016), que teve acesso à arte da palhaçaria e do trapézio, nos ensinamentos do mestre Zé Wilson. Qualificado por eternos êxitos (como o da parceria com Cacá Rosset, na clássica Ubu Rei), o circo Spadoni se eterniza na tela, com vivacidade e pela genuína e magnética presença de José Wilson.
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