Moacir Macedo começou a gravar entrevistas para um futuro documentário sobre o Concerto Cabeças ainda em 2016. Ele já tinha uma ideia do que queria e sabia que adiantar o registro de depoimentos era prudente. Dessa forma, conseguiu, por exemplo, filmar Hugo Rodas, um dos 40 entrevistados de Concerto cabeças — memória afetiva da cultura brasiliense, documentário de quase 40 minutos que será exibido hoje no Auditório Marco Antônio Guimarães, no Espaço Cultural Renato Russo da 508 Sul.
Para acompanhar a primeira projeção do documentário, Macedo organizou um evento. Um sarau de poesia na Praça Central do espaço abre a celebração às 14h e, depois do filme, o público poderá confraternizar ao som de Renato Matos, Beirão Neves e Renato Vasconcelos. "Vai ser uma espécie de revival, com aquecimento antes, com poesia, e com música depois", avisa Macedo.
A ideia do documentário é montar uma espécie de retrato de uma época. "Conseguir reunir esse povo todo não é fácil, foi um trabalho hercúleo", garante o diretor. "Durante a pandemia, o projeto teve que ficar um pouco parado, fizemos trabalho de digitalização de fotos, de matérias de jornal, cartazes, negativos e fomos conversando com as pessoas, recuperando dados. É ainda um trabalho grande porque não se esgota." Além do filme, Macedo também prepara um site dedicado à história do Concerto Cabeças, espaço que será alimentado com material novo que possa vir a aparecer, além do que foi reunido durante a pesquisa para o filme. "Essa página vai ter fotos, cartazes, publicações como revistas, livros. É um trabalho constante. E podem aparecer novos arquivos", diz.
Além de imagens de época recuperadas de filmes antigos, o documentário traz entrevistas com artistas, produtores, poetas, músicos e público que, no fim dos anos 1970, tinham o Concerto Cabeças como referência cultural de Brasília. Tudo começou em dezembro de 1978, em uma lojinha nos fundos da comercial da 311 Sul. Ator, diretor de teatro e produtor cultural, Neio Lúcio conseguiu transformar uma pequena galeria de arte no centro irradiador do que era a cultura brasiliense na época. "Ele foi o grande articulador", lembra Macedo. "Isso foi crescendo e por que cresceu? Isso tocou fundo e delicadamente na alma das pessoas!", diz Neio Lúcio, em entrevista para o documentário.
Pelo pequeno palco montado nos fundos da loja, e mais tarde por outros espaços da cidade, como um antigo prédio da FAB na 913 Sul e uma segunda lojinha, passaram músicos e artistas como Renato Matos, Renato Vasconcelos, Alexandre Ribondi, Zélia Duncan, Hugo Rodas, Beth Ernest Dias, Cássia Eller, Wagner Hermuche, Nicolas Behr, Guilherme Reis e praticamente todos os nomes que movimentavam as cenas do teatro, da música e das artes visuais na cidade. O Esquadrão da Vida, de Ary Pararaios participava e os cariocas do Asdrúbal trouxe o trombone passaram pelo Cabeças. "O concerto cabeças era a ponta do iceberg da nossa presença na cidade, nosso woodstockzinho candango, o fim da rebeldia dos anos 1970", compara o poeta Nicolas Behr, em depoimento para o filme. "Era Brasília à procura de si mesma", lembra Alexandre Ribondi.
Espaço público
Para Macedo, o Concerto Cabeças foi importantíssimo para a cidade porque simbolizou uma descoberta de que era possível ocupar o espaço público generoso de Brasília com a produção cultural de uma cidade que era, ainda, adolescente. "Foi a primeira vez que o brasiliense desceu do bloco e foi para o gramado se expressar, em pleno final da ditadura, um momento sensível mas muito feliz", conta. "E sempre achei que não havia nenhum documento ou abordagem sobre aquele momento. Tem o livro do Cabeças, que é bastante informativo, mas é muito diferente de um documentário em que você pode registrar de forma audiovisual, trazer a música, a fala das pessoas."
O Cabeças, segundo o diretor, abriu caminhos e trouxe à tona um fenômeno até então tímido: os organizadores passaram a perceber que havia pessoas tratando Brasília como tema de suas criações. "Até então, tinham pessoas de fora com seus próprios referenciais. E nesse momento essa juventude que passou a habitar Brasília começou a tratar a cidade como tema de seus poemas, filmes, gravuras, pinturas, teatro, de sua música", aponta o diretor. Foi um catalisador que abriu as portas da cidade para uma produção construída com base numa identidade brasiliense que começava a tomar forma.
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